Governo Bolsonaro como instrumento de avanço do poder corporativo sobre os bens comuns dos povos

As queimadas na Amazônia tiveram um novo aumento em 2020 em comparação com o ano anterior. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), detectou durante o ano 103.161 focos ativos de incêndio. Em 2019, haviam sido 89.176. Ao mesmo tempo, a área sob alerta de desmatamento na região da Amazônia Legal (composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) vem registrando recordes esse ano. Segundo o registro do Deter-B (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real), o mês passado foi o pior maio da série histórica feita pelo sistema. Na comparação entre os meses de maio em 2020 e em 2021, o aumento na área com alertas de desmatamento foi de 41%. Foram 1.180 km² sob alerta de desmatamento. Pela primeira vez, a área sob alerta ultrapassa os 1.000 km².

Com o recente envolvimento do próprio ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, em uma denúncia de entorpecer as investigações da Polícia Federal (PF) na maior apreensão de madeira do Brasil, feita na Operação Handroanthus da PF, se torna ainda mais explícita a função que cumpre o governo Bolsonaro em relação ao meio ambiente: a de facilitar o caminho para as empresas que visam devastá-lo. Como viemos denunciando, Salles tem defendido “debater” sobre a mineração em territórios indígenas. Posicionamentos e ações como as do ministro do Meio Ambiente cumprem a função de estimular e dar aval à violência de garimpeiros contra indígenas, como aconteceu recentemente com o povo Munduruku, em Jacareacanga no Pará.

Não só a Amazônia está sob forte ataque, mas todos os biomas brasileiros. E com eles, as vidas das comunidades que os defendem, tanto pela devastação em si, que dá lugar a empreendimentos que ameaçam terra, ar e solos, como pela ameaça por meio da violência levada a cabo por pistoleiros a serviço de projetos mineradores e do agronegócio.

Ao constatar o caráter que possuem os crimes socioambientais que vêm avançando no Brasil, financiados e promovidos em grande parte por capitais transnacionais, fica evidente que as lutas devem unir os territórios sob ataque e o âmbito internacional das lutas. O governo Bolsonaro é apenas um instrumento utilizado pelas grandes empresas. 

Por estes motivos, acreditamos que é cada vez mais necessária a articulação entre a campanha de responsabilização das transnacionais e o fortalecimento dos movimentos populares e organizações de base, que são as que realmente defendem as áreas.

A articulação com os setores populares é fundamental, já que todo o desmonte que vem sendo realizado do Estado brasileiro favorecerá a ação das transnacionais e representará um risco ainda maior em cenários em que avançam os acordos de livre comércio. 

Falamos mais sobre este assunto no texto Amazônia: solidariedade internacionalista contra o cerco transnacional, na publicação Do campo à cidade: histórias de luta pelo direito dos povos à terra e à vida. Acesse aqui o trabalho.

Leia mais nas atualizações capítulo a capítulo:

“Tiraram uma cidade do mapa” – A destruição de um bairro em Porto Alegre com mais de 5 mil pessoas e mais de 50 anos de história

O avanço da megamineração e a concentração de riqueza contra a vida e os bens comuns

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