Cúpula dos Povos cobra ousadia dos tomadores de decisão na COP30

Evento acontece simultaneamente à conferência das Nações Unidas
e critica a baixa eficácia das negociações climáticas

A Cúpula dos Povos quer estabelecer protagonismo
da sociedade civil em espaço autônomo em relação à COP30 (30ª conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima). O evento acontece entre os dias 12 e 16 de novembro, na Universidade Federal do Pará, em Belém, e estima público de 15 mil pessoas. Para as organizações envolvidas na cúpula, as decisões tomadas nas conferências da ONU não geram soluções eficazes
para o enfrentamento da crise climática.

A carta política lançada pelo movimento declara que “países
tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções
absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5ºC
do Acordo de Paris. “As conferências se concentraram em objetivos ínfimos de
redução de dióxido de carbono e em estratégias a serviço dos interesses das corporações responsáveis por desastres ambientais”, diz Iván González, coordenador político da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA).

Outras críticas da articulação pontuam a falta de
transparência nos processos decisivos das COPs e a falta de
participação da sociedade civil nos espaços de negociação.
O objetivo da articulação, composta por mais de 700 entidades
do Brasil e do mundo, é convergir demandas de grupos
afetados pelas mudanças climáticas, mas excluídos de
processos decisivos, como povos indígenas e quilombolas. 

Segundo González, sem a união das lutas por justiça ambiental
e social, negociações sobre o clima ficam desconectadas dos problemas reais da sociedade. A cúpula valoriza conhecimentos e iniciativas populares. Políticas públicas bem-sucedidas e experiência de movimentos sociais inspiram a proposição dos guias de atuação. Os seis eixos orientadores são: territórios vivos, soberania popular e alimentar; reparação histórica, combate ao racismo ambiental e ao poder corporativo; transição justa, popular e inclusiva; contra as opressões, pela democracia e pelo internacionalismo dos povos; cidades justas e periferias urbanas vivas; feminismo popular e resistência das mulheres nos territórios.

A escolha por eixos que aliam pautas diferentes é uma tentativa de fugir de caixas temáticas, explica Maureen Santos, coordenadora do Núcleo Políticas e alternativas da Ong FASE – Solidariedade e Educação e membro do comitê político da Cúpula dos Povos. Além de dar espaço para demandas diversas, o objetivo da articulação também é estabelecer ações concretas que serão tomadas após a COP30.

Na agenda oficial da Cúpula, estão incluídos um ato político, denominado “Da Amazônia para o mundo: justiça climática já!”, e uma reunião para divulgar informações sobre a estruturação do evento. Ambos acontecem entre 30 de maio e 2 de junho.

HISTÓRICO E ORGANIZAÇÃO
A Cúpula dos Povos é uma construção popular convocada  como resposta a eventos que reúnem líderes globais e chefes de grandes corporações para discutir questões ambientais.A primeira atuação da cúpula foi em 1992, no contexto da
ECO-92—ou Rio-92— da ONU. Já paralelamente às COPs, ela aconteceu frente à COP20 em Lima, no Peru, em 2014, por exemplo.  O evento que inspirou a estruturação da Cúpula do Povos rumo à COP30 foi a Cúpula dos Povos pela justiça social e  ambiental, que aconteceu em meio à Rio+20 (conferência das
Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável) em 2012,
no Rio de Janeiro. A iniciativa de construir uma contraposição à COP30 partiu de  movimentos sociais brasileiros na COP28, em Dubai.

“Percebíamos que várias organizações estavam pensando no que fazer para a COP30 de forma própria. A cúpula foi a forma de juntarmos tudo para discutir a possibilidade de fazer uma construção unitária nesse momento”, afirma Santos. Entre as organizações que se juntaram à ação, estão Observatório do Clima, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Coalizão Negra por Direitos (CND) e Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Das 700 entidades, 84 são internacionais, como a Confederação Sindical dos Trabalhadores da América (CSA);  México sem Ecocídio e Centro Para Mudança Social de Joanesburgo, na África do Sul.  Para que essa união de muitos grupos funcione, a cúpula é organizada em um Comitê Político, que facilita e coordena o processo, e por grupos de trabalho, explica Santos. Os principais desafios enfrentados pela articulação estão relacionados à captação de recursos e alojamento para os 15 mil participantes do evento
A questão dos alojamentos não é um problema exclusivo da cúpula, Belém já enfrenta problemas de falta de acomodações para o público da COP30.

O evento está previsto para acontecer na Universidade Federal do Pará (UFPA). A meta é garantir acomodações nas imediações do local, o que  evitaria a necessidade de deslocamentos à cidade, diz Santos.

A escolha da UFPA como sede da Cúpula é um desafio por si só.

“Passamos por quatro anos de desmonte das universidades federais. Recursos não  chegavam para a infraestrutura e isso tem um impacto.  Estamos lidando com essa questão e vendo a melhor maneira  possível de aproveitar a Cúpula dos Povos como um legado também para a universidade”, afirma Santos.

Segundo Iván González, para os movimentos internacionais, a  dificuldade também está em garantir a participação presencial dos seus membros, devido aos custos de deslocamento.  Ainda, o momento de crise política em diferentes países é  aspecto que dificulta. Para além de lutar pela própria  sobrevivência, comunidades tradicionais, povos originários e  outros participantes da Cúpula precisam assegurar que suas  demandas sejam consideradas nas discussões durante o evento, afirma González.

Reportagem de Débora van Pütten, divulgada no jornal Folha de SP

O Pampa vai estar na Cúpula dos Povos e na COP30

Na 2ª feira (26 de maio), aconteceu a 3ª reunião, de uma série de encontros que estão sendo desenvolvidos no Rio Grande do Sul com foco na Cúpula dos Povos rumo à COP 30 (30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). Foi realizada presencialmente no Sindbancários, em Porto Alegre (RS), com a participação de movimentos sociais, entidades ambientalistas, populares e de comunidades tradicionais, sindicatos e outras organizações.

“Queremos fazer uma articulação regional dos povos do Pampa para que a gente possa ter uma estratégia de incidência em Belém, no Pará, no final do ano, e apresentar uma pauta que seja ampla e coletiva. Para que a nossa voz possa repercutir de forma unificada”, afirma Felipe Amaral, que participa deste fórum pela Amigas da Terra Brasil.

A expectativa é de que a Cúpula dos Povos mobilize entre 30 mil e 40 mil pessoas. Aqui no RS, essa articulação composta por cerca de 30 entidades está focada nas questões do Pampa. Até o final do ano, a intenção é levar o debate para cidades do interior do estado integradas pelo bioma, como Pelotas, Rio Grande e Bagé, no Sul e na Campanha gaúcha, e também na região metropolitana, buscando mobilizar mais organizações e comunidades a fim de fortalecer a participação em Belém.

“Queremos fazer um trabalho de construção coletiva, de acompanhamento e de presença em Belém, no Pará, mas acima de tudo, algo que seja para adiante. A questão ambiental não surge em função da COP e não se encerra nela também. Nossa expectativa é que essa construção seja algo maior do que o evento, que seja uma oportunidade de criar uma unidade em torno dos povos do Pampa”, diz Amaral.

O processo segue em construção, sendo pautado pela justiça ambiental e pelo protagonismo das mulheres na luta ambiental. Convidamos todas as organizações e comunidades interessadas a participarem desse movimento. A próxima reunião desta articulação do Pampa na #cúpuladosopovos e na #COP30 ocorre em 9 de junho, às 18h, no Sindbancários, em Porto Alegre. Para mais informações, entre em contato com Felipe pelo e-mail secretarianatbr@gmail.com ou telefone (51) 99709-4736 .

Povos tradicionais do Brasil e exterior cobram protagonismo na COP30 e na luta contra mudanças climáticas

Mais de 70 organizações se reúnem em Belém para reafirmar protagonismos dos povos da Amazônia

Mais de 70 organizações se reúnem em Belém para reafirmar protagonismos dos povos da Amazônia – Caetano Scannavino

Na sexta-feira (30), representantes de mais de 70 movimentos populares, organizações e povos tradicionais de 13 países se reuniram em ato político realizado em Belém, onde foi anunciado oficialmente que a Universidade Federal do Pará será o palco central das discussões da Cúpula dos Povos durante a COP30. O evento reforça a exigência de que os povos da Amazônia sejam os verdadeiros protagonistas da luta climática, a partir da escuta, do diálogo e proposição de políticas públicas, considerando a vivência e os saberes tradicionais.

Sob o tema “Da Amazônia para o Mundo: Justiça Climática Já!”, os povos da América Latina, África, Ásia e Europa proclamam: não há solução para a crise climática que não parta e envolva os povos originários e tradicionais.

Representando os povos indígenas do Brasil, Auricélia Arapiun, liderança indígena do Baixo Tapajós (PA) que compõe a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) participou do ato.

“A resposta somos nós, que estamos há muito tempo dizendo que temos a solução. Se eles tivessem a solução, nós não estaríamos a caminho do fim do mundo, como estamos hoje. Muito pelo contrário, a cada COP a situação só piora porque nós não estamos lá dentro, não somos ouvidos e nem seremos”, destaca Auricélia.

Durante sua fala, Auricélia pontuou fortemente atos de retrocesso por parte do Congresso Nacional, a exemplo da aprovação do Projeto de Lei 2159/2021, popularmente conhecido como PL da Devastação, que estabelece um novo marco para o licenciamento ambiental no Brasil em detrimento dos direitos dos povos tradicionais.

“Que COP30 queremos para o Brasil se o Congresso Nacional está atacando nossos territórios, está atacando o meio ambiente, se tem o PL da devastação, da destruição dos nossos territórios? Se aprovaram o PL de retrocesso demarcação das terras indígenas? Não é possível que estamos caminhando para esse ponto, ao mesmo tempo em que o Brasil e o governo do Pará se colocam como líderes de enfrentamento à crise climática”, denuncia Auricélia.

O lançamento do território da Cúpula dos Povos demarca o espaço público UFPA para reafirmar as práticas ancestrais, comunitárias e populares como caminhos concretos e viáveis para enfrentar a crise climática com justiça social.

“Essa Cúpula tem o papel fundamental de popularizar, de envolver o povo, de colocar o povo no centro dos debates, se apropriando do debate do clima e propondo, a partir da sua prática concreta e real, a transformação desse mundo que pertence a todos. E nós estamos dizendo que é necessária a participação popular que a COP, a Cúpula e o governo brasileiro demonstrem, de fato, um compromisso pela mudança”, explica Pablo Neri, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Cúpula dos Povos vai além da COP30

O ato compõe uma agenda de quatro dias que marcam a consolidação de estratégias coletivas para o evento principal em novembro, quando a Cúpula espera reunir cerca de 15 mil pessoas em Belém para uma ampla programação, que prevê a participação de mais de 700 organizações e redes sociais.

No entanto, as organizações reforçam que a COP30 não encerra a construção coletiva da Cúpula dos Povos, que vai além de calendários pré-determinados e tende a ser um espaço para a garantia do diálogo e luta permanente e internacionalista em defesa da Amazônia, dos povos e territórios.

Compondo a comitiva internacionalista do encontro, Sophie Ogutu, queniana de Nairóbi e integrante do Comitê Internacional da Marcha Mundial das Mulheres reforça a importância desse espaço destinado aos povos.

“As soluções para o mundo nunca virão em uma canetada. Nós estamos aqui e nós temos as soluções. E estou muito grata por estar aqui na Universidade do Pará, nesse espaço que deram para a gente. E olha, lá no Quênia, todos falam que de todas as COPs, gostariam de estar nessa do Brasil, porque aqui temos voz, aqui vocês abrem espaço para todos”, garantiu Sophie.

Do Peru, a ativista e feminista Denisse Chavez, do grupo Mujeres y Cambio Climáctico (GIMCC), reafirma ainda que a luta por justiça climática integra a luta por justiça em suas diversas esferas.

“Nós continuamos essa luta e vamos seguir para deixar para nossas filhas e nossas netas um mundo melhor. E nós só vamos conseguir isso exigindo justiça climática, justiça de gênero, justiça ambiental para todos os homens, mulheres e diversidades”, reforça

Cúpula dos Povos
Desde 1992, a Cúpula dos Povos é um grito de resistência e justiça por meio de um espaço autônomo onde as comunidades mais atingidas pela crise climática como os povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e moradores das periferias urbanas, somam forças para ecoar suas vozes e demandas.

Em novembro de 2025, o Brasil receberá a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), nesse contexto, mais de 700 organizações, redes, coletivos se juntaram para construir um amplo processo de mobilização para que a COP no Brasil seja um ponto de virada nas discussões sobre a crise climática.

Texto originalmente publicado no Jornal Brasil de Fato, em: https://www.brasildefato.com.br/2025/05/31/povos-tradicionais-do-brasil-e-exterior-cobram-protagonismo-na-cop30-e-na-luta-contra-mudancas-climaticas/ 

Quarta Temática apresenta estudo “Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática”

🍃 ✊🏽 Na quarta-feira (28), a Casanat, casa sede da ATBr, recebeu movimentos sociais, organizações populares, coletivos e juventudes para partilhar da Quarta Temática. Na ocasião, o estudo “Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática” foi apresentado. Entrelaçando histórias de gentes e biomas, o momento correlacionou desafios, lutas e caminhos do Pampa à Amazônia na construção da justiça climática e dos povos.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Foram debatidas políticas de clima, desmonte da legislação ambiental, o impacto do agronegócio na emergência climática (responsável por 75% das emissões no BR), falsas soluções de mercado com seus “créditos de carbono” e a ameaça de acordos de livre comércio. Contra projetos de morte do capital, suas lógicas ecocidas e violadoras de direitos, está o antídoto ancestral, a organização popular, sonhos rebeldes que plantam akilombamentos. Estão territórios que salvaguardam a vida com suas práticas, valores e sabenças – as ocupações, cozinhas solidárias, kilombos, aldeias e retomadas.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Esteve em pauta o que representa a COP30 no Brasil e a relevância de espaços de convergência popular, como a Cúpula dos Povos, no reconstruir do internacionalismo solidário de classe. Frente a retrocessos como o avanço do PL da Devastação e a licença de instalação para o derrocamento do Pedral do Lourenço, no Rio Tocantins (PA), encontros como a Quarta Temática visam o fortalecimento mútuo e a construção de alternativas.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Neste foram ressaltadas a reparação histórica e a Justiça Climática na perspectiva dos povos indígenas, tradicionais e das mulheres amazônidas, assim como as soluções dos povos. Bandeiras por reforma agrária popular, agroecologia, demarcação de territórios indígenas, titulação de quilombos, reforma fundiária e urbana, soberania territorial e alimentar foram erguidas.

📣 Aquecendo e ocupando a CasaNat, voltamos a realizar mensalmente a Quarta Temática, um espaço de encontro para a construção de outros mundos possíveis, com justiça climática, social e ambiental.

Confira a cobertura fotográfica em:

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Cúpula dos Povos Rumo a COP30 – Carta Política e Adesão de novas organizações e movimentos

A Cúpula dos Povos vem se organizando desde as bases da luta para marcar presença, construir espaços e incidir na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, também chamada de COP30.  O evento está previsto para ocorrer em novembro de 2025, na cidade de Belém, no Pará (Brasil). A Amigas da Terra Brasil participa das reuniões de organização e articulação da Cúpula dos Povos. Como organização, pauta ir à raiz dos problemas que vêm sendo enfrentados pelos povos desde a colonização do Brasil, e que se aprofundam e assumem outras facetas com a emergência climática.

A ATBr assina a carta e convida demais organizações, coletivos, construções de base, territórios, movimentos sociais e iniciativas a assinarem e somarem nessa construção. Leia a carta abaixo e assine aqui!

Cúpula dos Povos Rumo a COP30 – Carta Política e Adesão de novas organizações e movimentos

Movimentos sociais e populares, coalizões, coletivos, redes e organizações da sociedade civil do Brasil vem, desde agosto de 2023, construindo um processo de convergência entre organizações e movimentos de mulheres, sindicais, indígenas, agricultores/as familiares e camponeses, quilombolas, de povos e comunidades tradicionais, de povos tradicionais de matriz africana, negras e negros, juventudes, inter-religiosos, ambientalistas, trabalhadores/as, midialivristas, culturais, estudantes, de favelas e periferias, LGBTQIAPN+, de pessoas com deficiência, de direitos humanos, de defesa da infância, adolescência e intergeracional, das cidades, do campo, das florestas e das águas, rumo a realização da Cúpula dos Povos como espaço autônomo à COP 30 da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), na Amazônia.

Nosso objetivo é fortalecer a construção popular e convergir pautas de unidade das agendas: socioambiental, antipatriarcal, anticapitalista, anticolonialista, antirracista e de direitos, respeitando suas diversidades e especificidades, unidos por um futuro de bem-viver. No contexto atual, mais do que nunca, precisamos avançar em espaços coletivos que defendam a democracia e a solidariedade internacional, enfrentem a extrema direita, o fascismo, os fundamentalismos, as guerras, a financeirização da natureza e a crise do clima.

O clima extremo, as secas, as cheias, os deslizamentos de terras e as falsas soluções climáticas servem como instrumento de aprofundamento da desigualdade e das injustiças ambientais e climáticas, principalmente nos territórios, e atingem de forma cruel aqueles e aquelas que menos contribuíram para a crise climática, ecológica e civilizatória.

A insuficiência de medidas para conter tais crises é alarmante. Países e tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5º do Acordo de Paris. Investimentos que alimentam as mudanças climáticas têm crescido nos últimos anos e políticas de proteção aos povos indígenas, populações tradicionais têm sido desmanteladas e suas lideranças, ameaçadas e assassinadas.

Soluções reais são urgentes e a sociedade civil de todo mundo deve ser protagonista em todos os espaços de debate desta agenda. A COP 30 precisa representar um ponto de virada neste cenário, e endereçar as ações necessárias para o enfrentamento da crise climática.

É preciso rever o modelo econômico vigente e eliminar a produção e queima de combustíveis fósseis, responsável por mais de ⅔ das emissões que provocam o aquecimento global, bem como implementar políticas para o desmatamento zero. Urge acordos internacionais por uma transição energética justa, a começar pelos mais ricos, além da responsabilização dos impactos causados pelas corporações transnacionais do agronegócio, da mineração, do setor energético, imobiliário e de infraestrutura, que hoje significam ameaça às populações locais.

É urgente que se intensifique a luta contra o crime organizado, grupos paramilitares e mercadores de carbono, que vem se instalando de forma crescente em diversos territórios. Que combata as ameaças e ofereça proteção e garantia de direitos aos defensores ambientais e de direitos humanos, com atenção a ratificação do Acordo de Escazú e outros de suma importância.

É fundamental que ocorra uma transição justa, popular e inclusiva; o direito à terra e território por meio da reforma urbana, agrária e fundiária; a demarcação, titulação e regularização dos territórios indígenas, quilombolas, pesqueiros e tradicionais; o estabelecimento de sistemas alimentares onde a soberania alimentar seja o foco, com fomento à agroecologia, à valorização da produção familiar, camponesa e da pesca artesanal, da economia indígena, solidária e feminista; o reconhecimento da natureza como sujeito de direitos; a proteção das áreas oceânicas, de terras raras e maretórios; a proteção da biodiversidade; a geração de trabalho decente, emprego e renda e de políticas de cuidado; a consolidação do direito à cidade com políticas urbanas como políticas ambientais; a implementação de políticas específicas para atingidos climáticos; de acesso a água potável e saneamento básico; de prevenção e adaptação climática, em especial nas periferias urbanas e nos territórios indígenas e tradicionais; a erradicação do racismo ambiental e estrutural, e da violência contra as mulheres e meninas, diferentes culturas e visões de mundo; promoção da comunicação livre e da diversidade cultural; políticas para a juventude negra viva; e medidas de reparação e democratização do financiamento climático justo, fora do mercado de carbono e de endividamento, com estruturação de fundos e governança pelas comunidades.

Demandamos que o governo brasileiro exerça papel de liderança na agenda socioambiental adotando essas políticas, indispensáveis para o avanço da justiça climática, a partir do Sul Global.

Porém, nada disso irá ocorrer sem uma ampla pressão e participação efetiva da sociedade civil. Convocamos as organizações, redes, coletivos e movimentos sociais dos mais diversos segmentos para construir a Cúpula dos Povos rumo à COP 30, que seja capaz de mobilizar a opinião pública, fortalecer a democracia participativa e popular, denunciar e barrar retrocessos, bem como pressionar tomadores de decisões no Brasil e no mundo.

Brasília, 02 de agosto de 2024.

Assinam:

Amigas da Terra Brasil

Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)

ANA Amazônia

Aliança Amazônia Clima

Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)

Articulação de Mulheres do Amapá

Assembleia Mundial da Amazônia (AMA)

Articulação Nacional dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente do Brasil

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)

AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia

Associação Alternativa Terrazul

Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé

Associação dos Povos Indígenas da Terra Indígena São Marcos

A Vida no Cerrado (AVINC)

Campanha Cerrado

Campanha Nacional em Defesa do Cerrado

Cáritas Brasileiras

Central Única dos Trabalhadores (CUT)

Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA)

Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas

Centro de Cultura Negra do Maranhão

Central de Movimentos Populares (CMP)

Coalizão Nacional de Juventudes pelo Clima e Meio Ambiente (CONJUCLIMA)

Coalizão Negra por Direitos (CND)

Coletivo de Juventudes Guardiões do Bem Viver

Coletivo Pororoka

Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (CONFREM)

Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH)

Comitê COP 30

Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente a Mineração

Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG)

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS)

Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará – MALUNGU

Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA)

Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas do Estado do Tocantins (COEQTO)

Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ)

Coordenadora Indígena da Amazônia Brasileira (COIAB)

Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE)

COP das Baixadas

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE)

Engajamundo

FASE – Solidariedade e Educação

Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (FETAGRI – PA)

Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (FEPIPA)

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais (FBOMS)

Fórum Carajás

Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense (FMAP)

Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS)

Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (FONSANPOTMA)

Fórum Paraense de Economia Popular e Solidária

Fórum Paraense de Segurança Alimentar Sustentável

Fórum Social Panamazônico (FOSPA) – Brasil

Frente Brasileira contra o acordo União Europeia Mercosul

Geledés – Instituto da Mulher Negra

Greenpeace Brasil

Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBA)

Grupo Carta de Belém (GCB)

Grupo de Mulheres Brasileiras (GMB)

Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)

Grupo Resistência Amazônica

Instituto de Estudos Socioambientais (IESA)

Instituto de Estudos da Religião (ISER)

Instituto de Mulheres Negras do Amapá (IMENA)

Instituto EQÜIT

Instituto Omó Nanã

Instituto Regenera

Instituto Universidade Popular (UNIPOP)

Jubileu Sul Brasil

LACLIMA

Marcha Mundial das Mulheres (MMM)

Mídia NINJA

Movimenta Feminista Negra

Movimento Camponês Popular (MCP)

Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)

Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB)

Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP)

Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)

Movimento Escazú Brasil

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB)

Movimento Nacional das Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR)

Movimento Negro Unificado (MNU)

Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)

Movimento Tapajós Vivo (MTV)

Movimento Xingu Vivo para Sempre

Núcleo de Mulheres de Roraima (NUMUR)

Observatório da Governança das Águas

Observatório do Clima (OP)

Observatório Nacional de Justiça Socioambiental (OLMA)

Organização dos Seringueiros de Rondônia

Processo de Articulação e Diálogo (PAD)

PerifaConnection

Plataforma Dhesca Brasil

Processo de Comunidades Negras (PCN)

Rede Amazônica

Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA)

Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA)

Rede Brasileira pela Integração dos Povos (REBRIP)

Rede Cerrado

Rede de Fundos Comunitários da Amazônia

Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (REJUMA)

Rede de ONGs da Mata Atlântica

Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (RPCT)

Rede Eclesial Pan Amazônica (REPAM Brasil)

Rede Maniva de Agroecologia

Rede por Adaptação Antirracista

Rede Vozes Negras pelo Clima

Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia (SINFRAJUPE)

Teia Carta da Terra Brasil

Terra de Direitos

350.org

União Nacional dos Estudantes (UNE)

União Nacional por Moradia Popular (UNMP)

Via Campesina Brasil

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