Cúpula dos Povos cobra ousadia dos tomadores de decisão na COP30

Evento acontece simultaneamente à conferência das Nações Unidas
e critica a baixa eficácia das negociações climáticas

A Cúpula dos Povos quer estabelecer protagonismo
da sociedade civil em espaço autônomo em relação à COP30 (30ª conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima). O evento acontece entre os dias 12 e 16 de novembro, na Universidade Federal do Pará, em Belém, e estima público de 15 mil pessoas. Para as organizações envolvidas na cúpula, as decisões tomadas nas conferências da ONU não geram soluções eficazes
para o enfrentamento da crise climática.

A carta política lançada pelo movimento declara que “países
tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções
absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5ºC
do Acordo de Paris. “As conferências se concentraram em objetivos ínfimos de
redução de dióxido de carbono e em estratégias a serviço dos interesses das corporações responsáveis por desastres ambientais”, diz Iván González, coordenador político da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA).

Outras críticas da articulação pontuam a falta de
transparência nos processos decisivos das COPs e a falta de
participação da sociedade civil nos espaços de negociação.
O objetivo da articulação, composta por mais de 700 entidades
do Brasil e do mundo, é convergir demandas de grupos
afetados pelas mudanças climáticas, mas excluídos de
processos decisivos, como povos indígenas e quilombolas. 

Segundo González, sem a união das lutas por justiça ambiental
e social, negociações sobre o clima ficam desconectadas dos problemas reais da sociedade. A cúpula valoriza conhecimentos e iniciativas populares. Políticas públicas bem-sucedidas e experiência de movimentos sociais inspiram a proposição dos guias de atuação. Os seis eixos orientadores são: territórios vivos, soberania popular e alimentar; reparação histórica, combate ao racismo ambiental e ao poder corporativo; transição justa, popular e inclusiva; contra as opressões, pela democracia e pelo internacionalismo dos povos; cidades justas e periferias urbanas vivas; feminismo popular e resistência das mulheres nos territórios.

A escolha por eixos que aliam pautas diferentes é uma tentativa de fugir de caixas temáticas, explica Maureen Santos, coordenadora do Núcleo Políticas e alternativas da Ong FASE – Solidariedade e Educação e membro do comitê político da Cúpula dos Povos. Além de dar espaço para demandas diversas, o objetivo da articulação também é estabelecer ações concretas que serão tomadas após a COP30.

Na agenda oficial da Cúpula, estão incluídos um ato político, denominado “Da Amazônia para o mundo: justiça climática já!”, e uma reunião para divulgar informações sobre a estruturação do evento. Ambos acontecem entre 30 de maio e 2 de junho.

HISTÓRICO E ORGANIZAÇÃO
A Cúpula dos Povos é uma construção popular convocada  como resposta a eventos que reúnem líderes globais e chefes de grandes corporações para discutir questões ambientais.A primeira atuação da cúpula foi em 1992, no contexto da
ECO-92—ou Rio-92— da ONU. Já paralelamente às COPs, ela aconteceu frente à COP20 em Lima, no Peru, em 2014, por exemplo.  O evento que inspirou a estruturação da Cúpula do Povos rumo à COP30 foi a Cúpula dos Povos pela justiça social e  ambiental, que aconteceu em meio à Rio+20 (conferência das
Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável) em 2012,
no Rio de Janeiro. A iniciativa de construir uma contraposição à COP30 partiu de  movimentos sociais brasileiros na COP28, em Dubai.

“Percebíamos que várias organizações estavam pensando no que fazer para a COP30 de forma própria. A cúpula foi a forma de juntarmos tudo para discutir a possibilidade de fazer uma construção unitária nesse momento”, afirma Santos. Entre as organizações que se juntaram à ação, estão Observatório do Clima, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Coalizão Negra por Direitos (CND) e Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Das 700 entidades, 84 são internacionais, como a Confederação Sindical dos Trabalhadores da América (CSA);  México sem Ecocídio e Centro Para Mudança Social de Joanesburgo, na África do Sul.  Para que essa união de muitos grupos funcione, a cúpula é organizada em um Comitê Político, que facilita e coordena o processo, e por grupos de trabalho, explica Santos. Os principais desafios enfrentados pela articulação estão relacionados à captação de recursos e alojamento para os 15 mil participantes do evento
A questão dos alojamentos não é um problema exclusivo da cúpula, Belém já enfrenta problemas de falta de acomodações para o público da COP30.

O evento está previsto para acontecer na Universidade Federal do Pará (UFPA). A meta é garantir acomodações nas imediações do local, o que  evitaria a necessidade de deslocamentos à cidade, diz Santos.

A escolha da UFPA como sede da Cúpula é um desafio por si só.

“Passamos por quatro anos de desmonte das universidades federais. Recursos não  chegavam para a infraestrutura e isso tem um impacto.  Estamos lidando com essa questão e vendo a melhor maneira  possível de aproveitar a Cúpula dos Povos como um legado também para a universidade”, afirma Santos.

Segundo Iván González, para os movimentos internacionais, a  dificuldade também está em garantir a participação presencial dos seus membros, devido aos custos de deslocamento.  Ainda, o momento de crise política em diferentes países é  aspecto que dificulta. Para além de lutar pela própria  sobrevivência, comunidades tradicionais, povos originários e  outros participantes da Cúpula precisam assegurar que suas  demandas sejam consideradas nas discussões durante o evento, afirma González.

Reportagem de Débora van Pütten, divulgada no jornal Folha de SP

O Pampa vai estar na Cúpula dos Povos e na COP30

Na 2ª feira (26 de maio), aconteceu a 3ª reunião, de uma série de encontros que estão sendo desenvolvidos no Rio Grande do Sul com foco na Cúpula dos Povos rumo à COP 30 (30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). Foi realizada presencialmente no Sindbancários, em Porto Alegre (RS), com a participação de movimentos sociais, entidades ambientalistas, populares e de comunidades tradicionais, sindicatos e outras organizações.

“Queremos fazer uma articulação regional dos povos do Pampa para que a gente possa ter uma estratégia de incidência em Belém, no Pará, no final do ano, e apresentar uma pauta que seja ampla e coletiva. Para que a nossa voz possa repercutir de forma unificada”, afirma Felipe Amaral, que participa deste fórum pela Amigas da Terra Brasil.

A expectativa é de que a Cúpula dos Povos mobilize entre 30 mil e 40 mil pessoas. Aqui no RS, essa articulação composta por cerca de 30 entidades está focada nas questões do Pampa. Até o final do ano, a intenção é levar o debate para cidades do interior do estado integradas pelo bioma, como Pelotas, Rio Grande e Bagé, no Sul e na Campanha gaúcha, e também na região metropolitana, buscando mobilizar mais organizações e comunidades a fim de fortalecer a participação em Belém.

“Queremos fazer um trabalho de construção coletiva, de acompanhamento e de presença em Belém, no Pará, mas acima de tudo, algo que seja para adiante. A questão ambiental não surge em função da COP e não se encerra nela também. Nossa expectativa é que essa construção seja algo maior do que o evento, que seja uma oportunidade de criar uma unidade em torno dos povos do Pampa”, diz Amaral.

O processo segue em construção, sendo pautado pela justiça ambiental e pelo protagonismo das mulheres na luta ambiental. Convidamos todas as organizações e comunidades interessadas a participarem desse movimento. A próxima reunião desta articulação do Pampa na #cúpuladosopovos e na #COP30 ocorre em 9 de junho, às 18h, no Sindbancários, em Porto Alegre. Para mais informações, entre em contato com Felipe pelo e-mail secretarianatbr@gmail.com ou telefone (51) 99709-4736 .

Quarta Temática apresenta estudo “Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática”

🍃 ✊🏽 Na quarta-feira (28), a Casanat, casa sede da ATBr, recebeu movimentos sociais, organizações populares, coletivos e juventudes para partilhar da Quarta Temática. Na ocasião, o estudo “Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática” foi apresentado. Entrelaçando histórias de gentes e biomas, o momento correlacionou desafios, lutas e caminhos do Pampa à Amazônia na construção da justiça climática e dos povos.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Foram debatidas políticas de clima, desmonte da legislação ambiental, o impacto do agronegócio na emergência climática (responsável por 75% das emissões no BR), falsas soluções de mercado com seus “créditos de carbono” e a ameaça de acordos de livre comércio. Contra projetos de morte do capital, suas lógicas ecocidas e violadoras de direitos, está o antídoto ancestral, a organização popular, sonhos rebeldes que plantam akilombamentos. Estão territórios que salvaguardam a vida com suas práticas, valores e sabenças – as ocupações, cozinhas solidárias, kilombos, aldeias e retomadas.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Esteve em pauta o que representa a COP30 no Brasil e a relevância de espaços de convergência popular, como a Cúpula dos Povos, no reconstruir do internacionalismo solidário de classe. Frente a retrocessos como o avanço do PL da Devastação e a licença de instalação para o derrocamento do Pedral do Lourenço, no Rio Tocantins (PA), encontros como a Quarta Temática visam o fortalecimento mútuo e a construção de alternativas.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Neste foram ressaltadas a reparação histórica e a Justiça Climática na perspectiva dos povos indígenas, tradicionais e das mulheres amazônidas, assim como as soluções dos povos. Bandeiras por reforma agrária popular, agroecologia, demarcação de territórios indígenas, titulação de quilombos, reforma fundiária e urbana, soberania territorial e alimentar foram erguidas.

📣 Aquecendo e ocupando a CasaNat, voltamos a realizar mensalmente a Quarta Temática, um espaço de encontro para a construção de outros mundos possíveis, com justiça climática, social e ambiental.

Confira a cobertura fotográfica em:

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Quarta Temática da Amigas da Terra Brasil debaterá Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática:

A Amigas da Terra Brasil volta a realizar a Quarta Temática, um espaço de encontro mensal de debate e trocas de experiências, no dia 28 de maio, às 19h, na CasaNat (Rua Olavo Bilac, 192), nossa sede em Porto Alegre (RS). Teremos transmissão ao vivo para todo o país!

Nesta Quarta Temática, lançaremos para debate público o estudo . Realizado por autoras e autores do Pampa à Amazônia, foi fruto de um processo coletivo de resgate de saberes e formação, visando a articulação, educação popular e incidência junto a movimentos e organizações aliadas no processo da Cúpula dos Povos rumo à COP30 (Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU), que acontecerá em Belém do Pará, em novembro de 2025.

O estudo faz um breve resgate das COPs na América Latina, abordando de forma crítica a participação social na construção das metas nacionais e das política de clima em disputa. Convergindo com as propostas populares em curso, traz também à discussão a Justiça Climática na perspectiva dos povos indígenas, tradicionais e das mulheres amazônidas.

Convidamos todas as pessoas interessadas, amigas e companheiras de luta a debaterem com a gente na CaSAnAT! Para quem não puder estar presencialmente, poderá acompanhar ao vivo por este link: https://bit.ly/quarta_tematicaclima (também no QRCode da imagem).

Clima complicado: ¿cómo navegar en el mar de contradicciones hacia la COP 30 con unidad popular?

 

El objetivo es llevar el debate democrático de la Amazonia al mundo.

La Cumbre de los Pueblos hacia la COP 30 (30ª Conferencia de las Partes de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático), construyendo una convergencia popular entre más de 600 movimientos sociales, redes y organizaciones de todo el mundo, espera reunir a más de 15.000 personas en Belém (PA) en noviembre de este año. El objetivo es debatir democráticamente, desde la Amazonia para el mundo, un proyecto popular de justicia climática capaz de combatir las desigualdades y el racismo ambiental. 

La Cumbre se está organizando en torno a ejes de convergencia de propuestas, basados en la diversidad de prácticas, conocimientos, culturas, memoria e historia compartida entre los pueblos de Brasil, América Latina y el Caribe. Ellos son:

  1. La soberanía de los pueblos sobre el agua, la tierra, los territorios y la soberanía alimentaria, con el derecho a la tierra y los territorios, la reforma agraria y la diversidad de los conocimientos agroecológicos de los pueblos como soluciones reales a la crisis climática;
  2. La necesidad de reparaciones históricas y la anulación de las deudas ilegítimas, construidas a partir de las violaciones de los derechos de los pueblos indígenas, afrodescendientes, mujeres y diversidades que, en la resistencia secular al colonialismo, al imperialismo, al neoliberalismo y a los proyectos de muerte de las empresas transnacionales, han construido redes de protección de los territorios y relaciones sociales solidarias;

III. La construcción de una transición justa, popular, inclusiva y con trabajo decente, basada en la organización y movilización de la clase trabajadora y en la reorganización de una economía centrada en la sustentabilidad de la vida, y no en la continuidad del extractivismo neocolonial para el sustento de grandes fortunas y empresas privadas de tecnología y consumo de combustibles fósiles, que además sustenta guerras, genocidios y la muerte artificial de las ideas e ideales humanos;

  1. Contra la opresión, por la democracia y por el internacionalismo de los pueblos y la solidaridad, real y radical, como posibilidad de recrear el cuidado y el compromiso político y democrático entre personas, territorios, pueblos y naciones, en la lucha contra el fascismo y las guerras que el multilateralismo, en crisis y capturado por los intereses corporativos, ya no puede contener;
  2. Ciudades justas y periferias urbanas vivas, con derechos, vivienda, movilidad, alimentación sana, salud, educación públicas, con convivencia y adaptadas a la crisis climática, sin racismo ni segregación social; y finalmente,
  3. Feminismo popular y resistencia de las mujeres en los territorios, porque las mujeres están a la vanguardia de las luchas por la justicia medioambiental, desmantelando las estructuras patriarcales que están en el origen del proceso de acumulación del sistema capitalista, que necesitan ser transformadas radicalmente si queremos cambiar el mundo.

La Amazonia, como el resto de los biomas de Brasil, importa; y, a excepción de la Caatinga, constituyen riquezas en sociobiodiversidad y culturas que compartimos con los países sudamericanos. Además, la Amazonia Azul, dentro de los límites de la Plataforma Continental, constituyendo un maretorio de 360.000 km² en el Margen Ecuatorial de Brasil, nos acerca y nos conecta con el Caribe y los países vecinos de la costa atlántica hasta la región mesoamericana. A partir de la acumulación de luchas latinoamericanas y caribeñas en defensa de la democracia contra el colonialismo, el neoliberalismo, el imperialismo, el fascismo y la ultraderecha, la unidad de los pueblos en defensa de la democracia y sin amnistía a los golpistas, construye el poder popular necesario para enfrentar la crisis climática con justicia ambiental, desmontando el poder de las grandes transnacionales y los tratados de libre comercio que las benefician. Esto se da sobre la base del concepto y proyecto político de Soberanía Alimentaria, las propuestas de la clase trabajadora por una Transición Justa con integración regional, las prácticas de la economía feminista con trabajo decente para todos en tiempos de cambio tecnológico acelerado y la lucha por los derechos de Libre Circulación de migrantes, no de mercancías. Estas son las agendas políticas de los pueblos con los que históricamente hemos compartido historias de lucha y solidaridad, hoy, frente a los resultados desalentadores en las elecciones de Ecuador, y siempre.

¿Cómo podemos traducir estas propuestas políticas y prácticas de los territorios y pueblos de la región, que están construyendo soluciones reales para la justicia climática, más allá de los espacios capturados por los intereses corporativos en las Naciones Unidas? La Cumbre de los Pueblos es un espacio donde los movimientos convergen para compartir un análisis a largo plazo y construir una agenda política común más allá de la COP30. Ya está en marcha, del Amazonas a la Pampa, de las Tierras de Anya Ayala, para algunos América Latina, al mundo. Hay que navegar en un mar de contradicciones en un planeta donde las potencias imperiales están en declive y en guerra, por lo que la distancia entre las visiones y propuestas populares y las de las negociaciones climáticas de la ONU es abismal. Sin embargo, frente a la crisis del capitalismo, es aquí donde deben reconocerse y fortalecerse las soluciones populares, llevando al mundo las lecciones de la Amazonia y sus pueblos.

En 30 años, las COP sobre el clima no han llegado a ninguna decisión sobre la financiación de la lucha contra el cambio climático, aparte de que ésta corre a cargo de instituciones financieras como el Banco Mundial y con préstamos generadores de deuda y fondos procedentes de inversiones privadas y de los mercados del carbono. Los pueblos y la sociedad civil compiten con las empresas, cada vez más especializadas en lucrarse de los desastres climáticos, por el acceso y la gestión local de los recursos para fortalecer sus territorios y proyectos sociales, de forma legítima pero desigual, en el limitado contexto de la participación social en las negociaciones.

Los movimientos sociales y populares de la región, ante la escalada de hambre y violencia en Haití y la invasión militar de Kenia financiada por Estados Unidos, exigen la devolución de una deuda inmoral e ilegítima cobrada por Francia hizo exactamente 200 años, el 17 de abril de 2025, por haber esclavizado a los negros en esta isla caribeña, llamada así por su diezmada población indígena, que se atrevió a ser la primera colonia europea en liberarse e independizarse en 1804. Exigen no sólo una reparación histórica para los pueblos negros y quilombolas, sino también el reconocimiento efectivo de su cultura ancestral y la permanencia de sus territorios como eje central en el cuidado de la biodiversidad y el clima, habiendo obtenido ya una importante victoria en la XVI Conferencia de Biodiversidad en Cali, Colombia, el año pasado.

Se supone que la COP 30 de Belém revisará las NDC, que son las Contribuciones Determinadas a Nivel Nacional de cada país para mitigar las emisiones de gases de efecto invernadero de modo que el calentamiento global no supere el límite de 1,5oC estipulado en el Acuerdo de París. Sin embargo, aún no hay un objetivo para acabar con la contaminación ni un tratado que obligue a las grandes empresas de la industria de los combustibles fósiles a rendir cuentas por sus violaciones de derechos y por su responsabilidad climática histórica y actual (el 70% de las emisiones globales que calientan el planeta y destruyen territorios, maretorios y la vida de ecosistemas y comunidades locales provienen de los combustibles fósiles). Los pueblos indígenas de Brasil están demostrando por qué son parte de la solución, defendiendo no sólo sus territorios y entornos, sino todos los biomas y la salud de la población y del planeta, además de señalar  a los culpables de los ataques a sus territorios y formas de vida y unirse a los movimientos rurales afectados por el agronegocio, que deforesta y contamina.

Aunque Brasil no tiene ninguna responsabilidad histórica en comparación con los países que se desarrollaron y se beneficiaron de la Revolución Industrial, hoy es el séptimo mayor emisor de gases de efecto invernadero (con un 3% de las emisiones mundiales). Alrededor del 75% de las emisiones de Brasil proceden de la Amazonia, y el 14% del Cerrado. El 48% de las emisiones de Brasil proceden de la deforestación, y el 27% de la agricultura y ganadería (20% agricultura y 80% ganadería). Teniendo en cuenta que el principal responsable de la deforestación en Brasil es el sector agrícola, podemos decir que más del 75% de la contaminación climática de Brasil es responsabilidad directa del agronegócio. Por no hablar de todas las emisiones que implica la producción y el uso de pesticidas y fertilizantes, la maquinaria y el transporte intercontinental de materias primas. Además de calentar el planeta, destruye la biodiversidad; contamina cuerpos y territorios con pesticidas; expulsa y asesina indígenas, quilombolas, campesinos y ecologistas; concentra tierras y poder; y todo ello no para producir alimentos, sino para exportar mercancías de forma altamente subvencionada y libre de impuestos.

El combinado corporativo del agronegócio, dependiente de la minería y del petróleo, prepara su Agro COP en la ciudad de Marabá (PA) en octubre de este año. Por su parte, los ultraconservadores trumpistas y bolsonaristas convocan la CPAC (Conservative Political Action Conference) 2025 para contrarrestar la COP 30 en Manaos en el mismo período. La esperanza y el compromiso con el cuidado de la vida está en las organizaciones de base, la defensa de la democracia y la movilización de los pueblos en la Cumbre de los Pueblos hacia Belém, adonde todas las aguas fluyen. La presidencia brasileña de esta histórica COP debe ver este movimiento como un aliado para el éxito de la conferencia, tanto como es esencial para la participación popular autónoma y autoorganizada en defensa de la democracia y la integración entre los pueblos, en lugar de promover campeones climáticos empresariales y recursos públicos para las falsas soluciones de la financiarización del clima y la naturaleza con el control territorial corporativo.

Esta marcha, para los pueblos y movimientos sociales de Brasil y América Latina, viene de lejos y se une a la solidaridad y movilización mundial por la justicia climática, en alianza contra el fascismo, el genocidio en Palestina y las desigualdades sociales. Para combatir las emisiones globales, a partir de la responsabilización de los países y empresas transnacionales con mayor contribución histórica, queremos mostrar, desde nuestra región, desde Brasil, desde la Amazonia y al mundo, cómo luchamos unidos contra la degradación de nuestros biomas, de nuestra salud y de nuestras formas de vida, sea en los bosques, en los mares, en los campos o en las ciudades.

Que nuestras voces resuenen al unísono para alertar sobre la urgencia de enfrentar y transformar el actual modelo global exportador de petróleo y agro, hidro y minería, fomentado por los tratados de libre comercio, desde las ex colonias del Sur Global hasta las potencias imperiales que, en crisis, siguen alimentando guerras y genocidios y calentando el planeta. Nuestra lucha por una transición ecológica, con justicia ambiental y feminismo popular, pasa por la protección de los territorios de vida, la reconstrucción de los sistemas alimentarios y energéticos, la gestión del agua y los espacios urbanos, los servicios públicos de calidad, la salud, la educación y el saneamiento, con reparaciones para los pueblos originarios y tradicionales, los negros, las mujeres y diversidades, y el respeto a las culturas de los pueblos de esta tierra que tienen la sabiduría, la fuerza y la voluntad de luchar para continuar este camino. Que este encuentro crezca como las aguas cuando se juntan, convergiendo con fuerza y unidad de los pueblos del mundo en la diversidad de los saberes amazónicos. 

Traducción: Alan Noronha / Amigas da Tera Brasil

Artículo publicado originalmente en portugués en el diario Brasil de Fato el ttps://www.brasildefato.com.br/colunista/amigos-da-terra-brasil/2025/04/16/clima-complicado-como-navegar-com-unidade-popular-no-mar-das-contradicoes-rumo-a-cop-30/

 

 

Complicated climate: how to navigate the sea of contradictions towards COP 30 with popular unity?

 

The aim is to take the democratic debate from the Amazon to the world

The Peoples’ Summit Towards COP 30 (30th United Nations Conference of the Parties on Climate Change), building popular convergence between more than 600 social movements, networks and organisations from around the world, expects to bring together more than 15,000 people in Belém (PA) in November this year. The aim is to hold a democratic debate, from the Amazon to the world, on a popular project for climate justice that is capable of combating inequalities and environmental racism.

The Summit is being organised around axes of convergence of proposals, based on the diversity of practices, knowledge, cultures, memory and history shared between the peoples of Brazil, Latin America and the Caribbean. They are:

  1. Peoples’ sovereignty over water, land, territories and also food sovereignty, with the right to land and territories, agrarian reform and the diversity of peoples’ agroecological knowledge as real solutions to the climate crisis;
  2. The need for historical reparations and the cancellation of illegitimate debts, built on violations of the rights of indigenous peoples, Afro-descendants, women and diversity of peoples who, in the secular resistance to colonialism, imperialism, neoliberalism and the death projects of transnational corporations, have built webs of protection for the territories and for solidary social relations;

III. The construction of a just, popular and inclusive transition with decent work, based on the organisation and mobilisation of the working class and the reorganisation of an economy centred on the sustainability of life, and not on the continuation of neo-colonial extractivism for the sustenance of great fortunes and private technology companies as well as fossil fuel consumption, which also sustains wars, genocides and the artificial death of human ideas and ideals;

  1. Against oppression, for democracy and for the internationalism of peoples and real and radical solidarity as a possibility to recreate political and democratic care and commitment between people, territories and nations, in the fight against fascism and the wars that multilateralism, in crisis and captured by corporate interests, can no longer contain;
  2. Just cities and lively urban peripheries, with rights, housing, mobility, healthy food, health, education public systems, also with coexistence and adapted to the climate crisis, without racism and social segregation; and finally,
  3. Popular feminism and women’s resistance in the territories because women are at the forefront of the struggles for environmental justice, dismantling the patriarchal structures at the origins of the capitalist system’s accumulation process, which need to be radically transformed if we are to change the world.

The Amazon, like the rest of Brazil’s biomes, matters. And, with the exception of the Caatinga, those biomes contain riches in socio-biodiversity and cultures that we share with other South American countries. In addition, the Blue Amazon, within the limits of the Continental Shelf, which constitutes a maretory (sea “territory”) of  360,000 km² area on Brazil’s Equatorial Margin, brings us closer to and connects us with the Caribbean and neighbouring countries on the Atlantic coast as far as the Mesoamerican region. Based on the boom of Latin American and Caribbean struggles in defence of democracy against colonialism, neoliberalism, imperialism, fascism and the ultra-right, the unity among the peoples in defence of democracy, and without amnesty for the coup plotters, builds the popular power needed to confront the climate crisis with environmental justice, dismantling the power of the big transnational corporations and the free trade agreements that benefit them. This is happening on the basis of the concept and political project of Food Sovereignty, the proposals of the working class for a Just Transition with regional integration, the practices of the feminist economy with decent work for all in times of accelerated technological change and the fight for the right of Free Movement for migrant people, not for goods. These are the political agendas of the peoples with whom we have historically shared stories of struggle and solidarity: today, facing the daunting results in Ecuador’s elections, and always.

How can we translate these political and practical proposals from the territories and peoples in the region, who are building real solutions for climate justice, beyond the spaces captured by corporate interests at the United Nations? The People’s Summit is a space where movements converge to share a long-term analysis and build a common political agenda beyond COP30. It is already on the move, from the Amazon to the Pampa, from Abya Ayala lands, for some Latin America, to the world. And we have to navigate a sea of contradictions in a world where imperial powers are in decline and at war, so the distance between popular visions and proposals and those of the UN climate negotiations is abysmal. However, in the face of the crisis of capitalism, this is where people’s solutions must be recognised and strengthened, bringing lessons from the Amazon to the world.

In 30 years, the climate COPs have not reached a decision on climate financing – apart from the fact that it is operated by financial institutions like the World Bank and with debt-generating loans and funds from private investments and carbon markets. The peoples and civil society are competing with companies, which are increasingly specialised in profiting from climate disasters, for access to and local management of resources to strengthen their territories and social projects, in a legitimate but unequal way, in the limited context of social participation in the negotiations.

On the other hand, the social and popular movements of the region, faced with the escalation of hunger and violence in Haiti and the military invasion of Kenya financed by the United States, are demanding the repay of an immoral and illegitimate debt levied by France exactly  200 years ago on 17 April 2025, for having enslaved black people on that Caribbean island, named after its decimated indigenous population, which dared to be the first European colony to liberate itself and gain independence in 1804. They demand not only historical reparations for black and quilombola peoples, but also the effective recognition of their ancestral culture and the permanence of their territories as a central theme in the care of biodiversity and the climate, having already won an important victory at the 16th Biodiversity Conference in Cali, Colombia, last year. 

COP 30 in Belem is supposed to review the NDCs, which are the Nationally Determined Contributions of each country to mitigate greenhouse gas emissions so that global warming does not exceed the 1.5oC limit stipulated in the Paris Agreement. However, there is still no target for ending pollution and no treaty to hold the big corporations in the fossil fuel industry accountable for their violations of rights and for their historical and current climate responsibility (70 per cent of global emissions that heat up the planet and destroy territories, maretories and the life of ecosystems and local communities come from fossil fuels). The indigenous peoples of Brazil are demonstrating why they are part of the solution, defending not only their environments, but all biomes and the health of the population and the planet, as well as pointing out those to blame for the attacks on their territories and ways of life, and uniting with the rural movements affected by agribusiness, which deforests and pollutes.

Although Brazil has no historical responsibility compared to the countries that developed and benefited from the Industrial Revolution, today it is the seventh largest emitter of Greenhouse Gases (with 3% of global emissions). Around 75 per cent of Brazil’s emissions come from the Amazon, and 14 per cent from the Cerrado region. 48% of Brazil’s emissions come from deforestation, and 27% from agriculture (20% agriculture proper and 80% livestock). Considering that the main culprit of deforestation in Brazil is the agricultural sector, we can say that more than 75 per cent of Brazil’s climate pollution is the direct responsibility of agribusiness. Not to mention all the emissions involved in the production and use of pesticides and fertilisers, machinery and the intercontinental transport of commodities. As well as heating up the planet, it destroys biodiversity; contaminates bodies and territories with pesticides; expels and murders indigenous people, quilombolas, peasants and environmentalists; concentrates land and power; and all this not to produce food, but to export commodities, in a highly subsidised and tax-free way.

The corporate agribusiness combine, dependent on mining and oil, is preparing its Agri COP in the town of Marabá (PA) in October this year. For their part, the ultra-conservative Trumpists and Bolsonarists are calling for CPAC (Conservative Political Action Conference) 2025 to counter COP 30 in Manaus in the same period. The hope and commitment to caring for life lies in grassroots organisations, the defence of democracy and the mobilisation of peoples at the People’s Summit towards Belém, where all waters flow. Brazil’s presidency of this historic COP must see this movement as an ally for the success of the conference, besides being essential for autonomous and self-organised popular participation in defence of democracy and integration between peoples, instead of promoting business climate champions and public resources for the false solutions of the financialisation of climate and nature with corporate territorial control.

This journey, for the peoples and social movements of Brazil and Latin America, has come a long way and joins the solidarity and global mobilisation for climate justice, in alliance against fascism, genocide in Palestine and social inequalities. In order to combat global emissions, starting with the accountability of the countries and transnational corporations with the greatest historical contributions, we want to show, from our region – from Brazil, from the Amazon and to the world, how we fight in unity against the degradation of our biomes, our health and our ways of life, whether in the forests, the seas, the fields or the cities.

May our voices echo in unison to warn of the urgency of confronting and transforming the current global oil and agribusiness, hydro and mining export model, fostered by free trade agreements from the former colonies of the Global South to the imperial powers that, in crisis, continue to fuel wars and genocides and heat up the planet. Our struggle for an ecological transition, with environmental justice and popular feminism, involves protecting territories of life, rebuilding food and energy systems, water management and urban spaces, quality public services, health, education and sanitation, with reparations for native and traditional peoples, black people, women and diverse people, as well as  respect for the cultures of the inhabitants of this land who have the wisdom, strength and willingness to fight to continue this journey. May this meeting grow like the waters when they come together, converging with the strength and the unity of the peoples of the world in the diversity of Amazonian knowledge. 

Translated by Alan Noronha – Friends of the Earth Brazil

Article originally published in Portuguese in the newspaper Brasil de Fato on https://www.brasildefato.com.br/colunista/amigos-da-terra-brasil/2025/04/16/clima-complicado-como-navegar-com-unidade-popular-no-mar-das-contradicoes-rumo-a-cop-30/

Clima complicado: como navegar com unidade popular no mar das contradições rumo à COP 30?

Cúpula dos Povos rumo à COP 30 (30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), construindo convergência popular entre mais de 500 movimentos, redes e organizações sociais de todo o mundo, espera reunir mais de 15 mil pessoas em Belém (PA), em novembro deste ano. O objetivo é fazer o debate democrático, a partir da Amazônia para o mundo, de um projeto popular para a justiça climática e que seja capaz de combater as desigualdades e o racismo ambiental.

A Cúpula está sendo organizada em eixos de convergência de propostas, a partir da diversidade das práticas, saberes, culturas, memória e história compartilhada entre os povos do Brasil, da América Latina e do Caribe. São eles:

I. A soberania dos povos sobre as águas, terras, territórios e a soberania alimentar, tendo o direito à terra e territórios, à reforma agrária e à diversidade de saberes agroecológicos dos povos como soluções reais à crise climática;

II. A necessidade de Reparações históricas e cancelamento das dívidas ilegítimas, construídas sobre as violações de direitos dos povos originários, afrodescendentes, das mulheres e diversidades que, na resistência secular ao colonialismo, imperialismo, neoliberalismo e aos projetos de morte das empresas transnacionais, construíram as teias de proteção dos territórios e das relações sociais solidárias;

III. A construção de uma transição justa, popular e inclusiva com trabalho decente, a partir da organização e mobilização da classe trabalhadora e da reorganização de uma economia centrada na sustentabilidade da vida, e não na continuidade do extrativismo neocolonial para o sustento de grandes fortunas e de empresas privadas de tecnologia e do consumo energético fóssil, que também sustenta guerras, genocídios e a morte artificial das ideias e ideais humanos;

IV. Contra as opressões, pela democracia e pelo internacionalismo dos povos e a solidariedade, real e radical, como possibilidade de recriar o cuidado e o compromisso políticos e democrático entre as pessoas, territórios, povos e nações, no combate ao fascismo e às guerras que o multilateralismo, em crise e capturado pelos interesses corporativos, já não consegue conter;

V. Cidades justas e periferias urbanas vivas, com direitos, moradia, mobilidade, alimentação saudável, saúde, educação, com convivência e adaptadas à crise climática, sem racismo e segregação social; e finalmente,

VI. Feminismo popular e resistências das mulheres nos territórios porque as mulheres estão na linha de frente das lutas por justiça ambiental, desmantelando as estruturas patriarcais nas origens do processo de acumulação do sistema capitalista, que precisam ser radicalmente transformadas para mudarmos o mundo.

A Amazônia, assim como os demais biomas brasileiros, importam. E, à exceção da Caatinga, são riquezas em sociobiodiversidade e culturas que compartilhamos com países da América do Sul. Também a Amazônia Azul, nos limites mar adentro da Plataforma Continental, constituindo um maretório de 360 mil km² na Margem Equatorial do Brasil, aproxima e nos conecta com o Caribe e países vizinhos na costa Atlântica até a região mesoamericana. Tendo como base o acúmulo das lutas latino-americanas e caribenhas na defesa da democracia contra o colonialismo, o neoliberalismo, o imperialismo, o fascismo e a ultradireita, a unidade entre os povos em defesa da democracia, e sem anistia aos golpistas, constrói o poder popular necessário para enfrentar a crise climática com justiça ambiental, desmantelando o poder das grandes empresas transnacionais e os acordos de livre comércio que as beneficiam. Isso acontece a partir do conceito e do projeto politico da Soberania Alimentar, das proposições da classe trabalhadora para a Transição Justa com integração regional, das práticas da economia feminista com trabalho decente para todos e todas em tempos de mudanças tecnológicas aceleradas e da luta por direitos de Livre Circulação das pessoas migrantes, não de mercadorias. São agendas políticas dos povos com quem compartilhamos histórias de luta e solidariedade historicamente, hoje, frente aos resultados fraudados nas eleições do Equador, e sempre.

Como traduzir essas propostas políticas e práticas dos territórios e dos povos, que na região constroem as verdadeiras soluções para a justiça climática, para além dos espaços capturados pelos interesses corporativos nas Nações Unidas? A Cúpula dos Povos é um espaço de convergência entre movimentos para compartilhar uma análise de longo prazo e construir uma agenda política comum além da COP30. Ela já está em movimento, da Amazônia ao Pampa, da América Latina para o mundo. E é preciso navegar num mar de contradições de um mundo onde os poderes imperiais estão em declínio e em guerra, assim, a distância das visões e propostas populares daquelas das negociações climáticas da ONU é abismal. Porém, frente à crise do capitalismo, é onde as soluções dos povos devem ser reconhecidas e potencializadas, trazendo ensinamentos da Amazônia para o mundo.

Em 30 anos, as COPs do clima não chegaram a uma decisão sobre financiamento climático – para além de que seja operado por instituições financeiras como o Banco Mundial e com empréstimos geradores de dívidas e fundos provenientes de investimentos privados e mercados de carbono. Os povos e a sociedade civil disputam com empresas, cada vez mais especializadas em lucrar com os desastres climáticos, o acesso e a gestão local de recursos para o fortalecimento de seus territórios e projetos sociais, de forma legítima porém desigual, no contexto limitado de participação social nas negociações.

Já os movimentos sociais e populares da região, frente à escalada da fome e da violência no Haiti, e da invasão militar de tropas no Quênia financiadas pelos Estados Unidos, demandam a devolução de uma dívida imoral e ilegítima cobrada pela França há exatos 200 anos neste 17 de abril de 2025, por ter o povo negro escravizado nessa ilha do Caribe, nomeada em homenagem à sua população indígena dizimada, ousado ter sido a primeira colônia europeia a liberar-se e independizar-se, em 1804. Demandam não apenas reparação histórica aos povos negros e quilombolas, como também a efetivação do reconhecimento de sua cultura ancestral e a permanência nos territórios como tema central no cuidado da biodiversidade e do clima, já tendo consquistado importante vitória na 16ª Conferência da Biodiversidade em Cali, na Colômbia, no ano passado.

A COP 30 em Belém deve revisar as tais NDCs, que são as Contribuições Nacionais Determinadas por cada país para a mitigação das emissões dos gases de efeito estufa a fim de que o aquecimento global não ultrapasse limite de 1,5oC estipulado pelo Acordo de Paris. No entanto, ainda não se determinou uma meta para o fim da poluição e nem um tratado para a responsabilização das grandes empresas da indústria dos combustíveis fósseis por suas violações de direitos e por sua responsabilidade climática, histórica e atual (70% das emissões globais que aquecem o planeta e destroem territórios, maretórios e a vida dos ecossistemas e comunidades locais são oriundos de combustíveis fósseis). Já os povos indígenas do Brasil demonstram por que fazem parte da solução, defendendo não apenas seus ambientes, mas todos os biomas e a saúde da população e do planeta, bem como apontando os culpados pelos ataques aos territórios e modos de vida e unindo aos movimentos do campo atingidos pelo agronegócio, que desmata e contamina.

O Brasil, apesar de não ter responsabilidade histórica, comparativamente aos países que desenvolveram e se beneficiaram da Revolução Industrial, hoje é o sétimo maior emissor de Gases de Efeito Estufa (com 3% das emissões globais). Cerca de 75% das emissões brasileiras se dão na Amazônia, e 14% no Cerrado. 48% das emissões brasileiras são provenientes de desmatamento, e 27% da agropecuária (20% agricultura e 80% da pecuária). Considerando que o principal responsável pelo desmatamento no Brasil é o setor agropecuário, podemos dizer que mais de 75% da poluição climática brasileira é de responsabilidade direta do agronegócio. Sem contar todas as emissões envolvidas pela produção e utilização de agrotóxicos e fertilizantes, dos maquinários e do transporte intercontinental de commodities. Além de aquecer o planeta, destroi a biodiversidade; contamina corpos e territórios com agrotóxicos; expulsa e assassina indígenas, quilombolas, campesinos, ambientalistas; concentra terras e poder; e tudo isso não para produzir alimentos, mas para exportar commodities, de forma altamente subsidiada e isenta de impostos.

A conjunção empresarial do agronegócio, dependente da mineração e do petróleo, prepara sua COP do Agro na cidade de Marabá (PA), em outubro deste ano. Por sua vez, os ultraconservadores trumpistas e bolsonaristas convocam a CPAC (Conservative Political Action Conference) 2025 para contrapor a COP 30 em Manaus no mesmo período. A esperança e o compromisso no cuidado com a vida está na organização popular, na defesa da democracia e na mobilização dos povos na Cúpula dos Povos rumo à Belém, para onde todas as águas confluem. A presidência do Brasil desta COP histórica deve ver esse movimento como aliado para o sucesso da conferência, tanto quanto essencial para a participação popular autônoma e auto-organizada em defesa da democracia e da integração entre os povos, ao invés de promover campeões climáticos do empresariado e recursos públicos para as falsas soluções de financeirização do clima e da natureza com controle territorial empresarial.

Esta caminhada, para os povos e movimentos sociais brasileiros e latino-americanos, vem de longe e se soma à solidariedade e à mobilização mundial pela justiça climática, em aliança contra o fascismo, o genocídio na Palestina e as desigualdades sociais. Para combater as emissões globais, começando pela responsabilização dos países e empresas transnacionais com maiores contribuições históricas, queremos mostrar, desde a nossa região, do Brasil, da Amazônia e para o mundo, como lutamos em unidade contra a degradação de nossos biomas, de nossa saúde e modos de vida, seja nas florestas, nos mares, nos campos e nas cidades.

Que nossa voz, em uníssono, ecoe para alertar a urgência de enfrentar e transformar o atual modelo global petroleiro e agro, hidro e minero exportador, fomentado por acordos de livre comércio, das ex-colônias do Sul Global para as potências imperiais que, em crise, seguem alimentando guerras e genocídios e aquecendo o planeta. Nossa luta por uma transição ecológica, com justiça ambiental e feminismo popular, passa por proteger territórios de vida, reconstruir os sistemas alimentares, energéticos, de gestão das águas e dos espaços urbanos, dos serviços públicos de qualidade, saúde, educação, saneamento, com reparação aos povos originários e tradicionais, povo negro, mulheres e diversidades e o respeito às culturas dos povos dessa terra que tem sabedoria, força e disposição de luta para seguir essa caminhada. Que esse encontro cresça como as águas quando se juntam, confluindo com força e unidade dos povos do mundo na diversidade dos saberes da Amazônia.

Matéria no jornal O Globo: Cúpula dos Povos vai levar agenda paralela a Belém


Evento inspirado na Rio+20 e com pauta independente à da COP 30 deve reunir até 30 mil na capital paraense durante o encontro. Espaço terá debates e reivindicações com críticas às ações de governos, do mercado e de grandes corporações.

DANIELA CHIARETTI*
brasil@oglobo.com.br
SÃO PAULO

Em paralelo à COP 30, enquanto representantes de mais de 190 governos se reunirem em Belém, em novembro, entre 20 mil e 30 mil pessoas devem se reunir durante 15 dias na Cúpula dos Povos, um espaço de debates e reivindicações independente. São as agendas críticas às ações de governos nacionais, subnacionais,o mercado financeiro e grandes corporações.

Mais de 400 movimentos sociais e ambientalistas, nacionais e internacionais, de lideranças de coletivos de mulheres, indígenas, quilombolas, camponeses, antirracistas, juventude, pela diversidade sexual e de defesa dos direitos humanos vêm se organizando em torno dos eixos de debate da cúpula. Embora cada uma dessas organizações tenha a sua própria pauta, buscam convergência na pauta climática.

— A janela para atingirmos a meta de limitar o aquecimento da temperatura em 1,5 grau está se fechando, e embora muitos dos grandes países poluidores falem sobre isso, o que vemos é a queima de combustíveis fósseis crescendo — diz Keerthana Chandrasekaran, da Friends of the Earth International, organização global que tem milhões de apoiadores no mundo. —Temos cada vez mais extração e soluções falsas, e há poucos países que estão realmente tomando as medidas necessárias para a crise climática. Estamos nos unindo porque sabemos que precisamos de uma mudança de agenda transformadora.

Keerthana diz que para alcançar justiça climática é preciso garantir direitos à terra e manter as pessoas nos territórios: — Sabemos que quase 54% das áreas de alta biodiversidade no mundo são cuidadas por povos indígenas e comunidades locais. E também sabemos que o desmatamento ocorre por empresas madeireiras, extração de minérios, combustíveis fósseis e o agronegócio.

 

FALSAS SOLUÇÕES

Nas demandas da Cúpula dos Povos está solicitar à Convenção do Clima, a UNFCCC e à presidência brasileira da COP 30 que os lobistas dos combustíveis fósseis fiquem fora da conferência.

— Precisamos que eles não tenham voz nas negociações — continua a ativista. — Também queremos um fim para as falsas soluções: os mercados de carbono, a geoengenharia, o sequestro e armazenamento de carbono. São fantasias que não irão nos ajudar.

A Cúpula dos Povos Rumo à COP 30 inspira-se na Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental que aconteceu no Rio, durante a Rio+20, em 2012. A mobilização de movimentos sociais nacionais e internacionais reuniu cerca de 20 mil pessoas no Aterro do Flamengo. Os ativistas procuraram fazer contraponto às discussões dos governos nacionais. O esforço foi reeditado durante o processo da presidência brasileira do G20.

— A questão ambiental é um tema de todos, e é necessária a participação popular — cobra Pablo Neri, do Movimento Sem Terra e da comissão de política internacional da Cúpula dos Povos. — Buscamos a mensagem de um novo multilateralismo, o internacionalismo, feito pelos povos e buscando abordar a questão essencial que é a crise climática.

Nas discussões que vêm ocorrendo pelos movimentos na preparação da Cúpula foram estabelecidos seis eixos temáticos de articulação. O primeiro, dos territórios vivos e da soberania popular e alimentar, busca, entre outras frentes, viabilizar o direito aos territórios, águas, rios, mares, mangues e florestas, promover a reforma agrária e construir territórios agroecológicos. — Queremos promover a dieta dos alimentos da própria região e clima — explica Neri.

O segundo eixo, da “reparação histórica e combate ao racismo ambiental e ao poder corporativo”, é o que entende “o crédito de carbono e a bioeconomia como financeirização da natureza. É mais do mesmo. Mais daquilo que leva a humanidade ao colapso climático”, segue Neri.

O terceiro eixo é o da transição justa, popular e inclusiva. Aqui o foco é reconhecer o valor dos conhecimentos tradicionais e, entre outros temas, promover a transição energética de forma “justa e popular com diversificação de fontes, descentralização e distribuição equitativa”, diz a nota. — Precisamos de uma transição que não abandone o trabalho e se apegue só à tecnologia — sugere Neri.

O quarto vetor é pela democracia e contra as opressões — com itens como combater a extrema direita no mundo e “todos os acordos de livre comércio que reforcem o domínio do Norte sobre o Sul Global”, segundo o texto. As cidades justas e as periferias urbanas são o foco do quinto vetor e aí há desde a demanda por políticas públicas com moradias adequadas aos diversos climas e modais de transporte à democratização e acesso ao saneamento, água potável e energia.

O sexto eixo é o que busca defender os direitos “das mulheres e meninas e seu protagonismo nas lutas socioambientais”, com políticas de cuidados às mulheres, participação social na formulação de políticas públicas, combate à violência e outros tópicos. — As alternativas que o povo propõe não são alternativas que vamos inaugurar em Belém — diz o líder do MST. — São lutas históricas, direitos inegociáveis. Estamos construindo a cúpula da rua. Assumimos a construção do que fica fora da COP.

Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria e que representa o Observatório do Clima (maior rede de organizações com foco em clima do Brasil) na Cúpula dos Povos, diz que os movimentos sabem que têm limite para incidir na agenda global da COP.

— Estamos buscando como a sociedade civil pode aproveitar a janela de oportunidade de o Brasil sediar o G20, a reunião dos Brics e a COP 30 para colocar as demandas. Sabemos que são agendas globais e que temos um limite para incidir, mas como chegar a esse limite?, coloca Scannavino. — Para sair da inação e da letargia, é interessante ter uma COP no coração da Amazônia.


FOCO NA NEGOCIAÇÃO

Scannavino critica o foco da discussão da COP 30 estar muito centrado nos desafios logísticos e de hospedagem que Belém tem.

— Mas o sucesso de uma COP depende do que podemos avançar em termos de acordo e negociação. Existe, é claro, o desafio logístico, mas o Brasil, como presidente da conferência, na atual conjuntura, tem um desafio gigantesco, continua. — O único consenso que temos hoje é o fato de o planeta estar aquecendo.

A eleição de Donald Trump representa um grande retrocesso nessa agenda e na luta contra o colapso climático. — Movimentos ultranacionalistas são tudo o que a questão climática não precisa. Precisamos mais do que nunca de cooperação e multilateralismo — diz Scannavino.

Na visão dos organizadores da Cúpula dos Povos, a luta pela democracia, igualdade de gênero, antirracismo e pelo fim da violência contra as mulheres deve se somar à pauta climática. — O desafio não é apenas carbono e emissão, mas o debate sobre o sistema que nos leva ao fim da vida. A discussão da Cúpula não termina no fim da COP 30. A união da pauta social com a ambiental é fundamental, acrescenta Scannavino.

A COP 30 no Brasil “é realmente uma oportunidade para a gente virar a chave e ver como a organização popular, dos territórios, dos movimentos, são capazes de responder a esforços de mitigação e adaptação que são urgentes”, diz Lucia Ortiz, da Amigos da Terra América Latina e Caribe e também da Comissão Política da Cúpula dos Povos.

Osver Polo, coordenador de mobilização da Climate Action Network (CAN), diz que a COP 30 é o momento de ação para enfrentar os desafios climáticos. Nas COPs anteriores, a 28, nos Emirados Árabes Unidos, e a 29, no Azerbaijão, “não houve mobilização nem espaço para que a sociedade civil se manifeste, se enriqueça das trocas com os outros movimentos que lutam contra a crise climática e nem espaço para pensar em propostas além da COP”, continua. — Nossa tarefa é gerar este pensamento e colocar nossas demandas e propostas e ver como podem se articular com as agendas da COP 30.

O evento acontecerá em Belém entre 12 a 21 de novembro, com uma grande marcha no dia 15 de novembro.

* Do Valor

 

# Matéria publicada no jornal O Globo em 28 de março de 2025. Publicamos, abaixo, print da matéria. Clique na imagem para abrir a matéria em PDF

Amigas da Terra Brasil

 

A Cúpula dos Povos se soma ao combate ao poder corporativo: um dos principais desafios da agenda climática global

Mais de 250 organizações cobram transparência na COP30 e o fim da interferência das indústrias poluidoras! 🌎🔥 Carta entregue à presidência do Brasil e à Secretaria da COP propõe quatro medidas para por fim ao conflito de interesses entre a pauta climática estabelecida no Acordo de Paris e a atuação invisível dos lobistas que atrasam tanto a redução das emissões quanto a proteção das comunidades impactadas. Governo é cobrado a liderar processo. Confira posicionamento, trechos e propostas da carta, assinada pela Amigas da Terra Internacional, da qual a Amigas da Terra Brasil faz parte, em:

https://www.instagram.com/p/DHbLxDxuXRh/?img_index=1

A Cúpula dos Povos se soma ao combate ao poder corporativo, um dos nossos eixos e um dos principais desafios da agenda climática global. Nossa luta é contra os grandes projetos do agronegócio, hidronegócio, mineração e logística que destroem territórios e biodiversidade.

Em 2024, o planeta ultrapassou o limite de 1,5°C de aquecimento global, com incêndios, enchentes e secas devastadoras. Enquanto isso, lobistas das indústrias poluidoras seguem atrasando a transição climática justa.

📜 Carta entregue à Presidência do Brasil e à Secretaria da COP cobra:

✅ Política de conflito de interesses para barrar lobistas poluidores.
✅ Padrões de transparência para delegações e participantes da COP.
✅ Reformas nos critérios de escolha da presidência da COP.
✅ Acordos do País Anfitrião (HCAs) e parcerias que garantam compromissos climáticos reais.
✅ Responsabilização de empresas e governos por crimes ambientais e impactos da crise climática.

⏳ A crise climática exige ação urgente! Precisamos enfrentar a captura corporativa e responsabilizar aqueles que lucram com a destruição.

📎 Acesse mais informações:
🔗 Leia o release e a carta no site da Transparência Internacional: https://transparenciainternacional.org.br/posts/mais-de-260-organizacoes-e-especialistas-cobram-mais-transparencia-e-fim-do-conflito-de-interesses-na-cop-30/ 

🔗 Confira o mapa de medidas recomendadas no site da Kick Big Polluters Out: https://kickbigpollutersout.org/demands

Povos nos territórios: Proposta do Grupo Carta de Belém para o Plano Clima pauta garantia de soberania e autonomia fundiárias dos povos

As enchentes no Rio Grande do Sul, a seca histórica no Pantanal e a fumaça que borra o céu em diversos estados, vinda das queimadas da Amazônia, são anuncio de um modo de vida e de produção que precisa ser freado. No soslaio destas tragédias anunciadas, assim como no cotidiano, é possível sentir cada vez mais os impactos da emergência climática na pele das águas, da terra, do ar, dos bichos e das gentes.

Diante desta realidade, o governo brasileiro iniciou a elaboração do Plano Clima, através do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM). Por meio da plataforma Brasil Participativo é possível votar, até o dia 26 de agosto, em dez propostas enviadas por cidadãos e organizações sociais.

O Grupo Carta de Belém incide no processo com a proposta de que o Plano Clima destine recursos dos fundos de meio ambiente e clima, prioritariamente, para a garantia de soberania e autonomia fundiárias dos povos. Pelo direito dos povos aos territórios de vida e para que estes territórios sigam existindo, assim como toda diversidade que os coabita, a proposta demanda que sejam priorizadas as seguintes ações:

👉🏽Demarcação de terras indígenas
👉🏽Titulações de territórios quilombolas
👉🏽Regularização de territórios tradicionais
👉🏽Reforma agrária
👉🏽Reforma urbana

Levando em consideração que não há justiça climática sem justiça para os povos, defendemos que o Plano Clima deverá servir de instrumento para promover a Soberania Alimentar e a reparação histórica, centrada em soluções climáticas baseadas no direito dos povos ao território. #demarcaçãojá #titulaçãojá #planoclima

🌱 Vote para que esta proposta se torne parte do Plano Clima: bit.ly/PovosNosTerritórios 

A solução são os povos nos territórios. Está na reparação histórica para quem há mais de 500 anos faz da preservação da natureza e da luta pela vida ponta de lança para sobreviver e tornar possíveis outros mundos ✊🏽

O Plano Clima será o guia da política climática do Brasil até 2035. A participação da sociedade civil nesse processo é fundamental. Vote, divulgue e participe.

Conteúdo originalmente publicado no Grupo Carta de Belém, em: https://www.cartadebelem.org.br/povos-nos-territorios-proposta-do-grupo-carta-de-belem-para-o-plano-clima-pauta-garantia-de-soberania-e-autonomia-fundiarias-dos-povos/ 

plugins premium WordPress