Cúpula dos Povos cobra ousadia dos tomadores de decisão na COP30

Evento acontece simultaneamente à conferência das Nações Unidas
e critica a baixa eficácia das negociações climáticas

A Cúpula dos Povos quer estabelecer protagonismo
da sociedade civil em espaço autônomo em relação à COP30 (30ª conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima). O evento acontece entre os dias 12 e 16 de novembro, na Universidade Federal do Pará, em Belém, e estima público de 15 mil pessoas. Para as organizações envolvidas na cúpula, as decisões tomadas nas conferências da ONU não geram soluções eficazes
para o enfrentamento da crise climática.

A carta política lançada pelo movimento declara que “países
tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções
absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5ºC
do Acordo de Paris. “As conferências se concentraram em objetivos ínfimos de
redução de dióxido de carbono e em estratégias a serviço dos interesses das corporações responsáveis por desastres ambientais”, diz Iván González, coordenador político da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA).

Outras críticas da articulação pontuam a falta de
transparência nos processos decisivos das COPs e a falta de
participação da sociedade civil nos espaços de negociação.
O objetivo da articulação, composta por mais de 700 entidades
do Brasil e do mundo, é convergir demandas de grupos
afetados pelas mudanças climáticas, mas excluídos de
processos decisivos, como povos indígenas e quilombolas. 

Segundo González, sem a união das lutas por justiça ambiental
e social, negociações sobre o clima ficam desconectadas dos problemas reais da sociedade. A cúpula valoriza conhecimentos e iniciativas populares. Políticas públicas bem-sucedidas e experiência de movimentos sociais inspiram a proposição dos guias de atuação. Os seis eixos orientadores são: territórios vivos, soberania popular e alimentar; reparação histórica, combate ao racismo ambiental e ao poder corporativo; transição justa, popular e inclusiva; contra as opressões, pela democracia e pelo internacionalismo dos povos; cidades justas e periferias urbanas vivas; feminismo popular e resistência das mulheres nos territórios.

A escolha por eixos que aliam pautas diferentes é uma tentativa de fugir de caixas temáticas, explica Maureen Santos, coordenadora do Núcleo Políticas e alternativas da Ong FASE – Solidariedade e Educação e membro do comitê político da Cúpula dos Povos. Além de dar espaço para demandas diversas, o objetivo da articulação também é estabelecer ações concretas que serão tomadas após a COP30.

Na agenda oficial da Cúpula, estão incluídos um ato político, denominado “Da Amazônia para o mundo: justiça climática já!”, e uma reunião para divulgar informações sobre a estruturação do evento. Ambos acontecem entre 30 de maio e 2 de junho.

HISTÓRICO E ORGANIZAÇÃO
A Cúpula dos Povos é uma construção popular convocada  como resposta a eventos que reúnem líderes globais e chefes de grandes corporações para discutir questões ambientais.A primeira atuação da cúpula foi em 1992, no contexto da
ECO-92—ou Rio-92— da ONU. Já paralelamente às COPs, ela aconteceu frente à COP20 em Lima, no Peru, em 2014, por exemplo.  O evento que inspirou a estruturação da Cúpula do Povos rumo à COP30 foi a Cúpula dos Povos pela justiça social e  ambiental, que aconteceu em meio à Rio+20 (conferência das
Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável) em 2012,
no Rio de Janeiro. A iniciativa de construir uma contraposição à COP30 partiu de  movimentos sociais brasileiros na COP28, em Dubai.

“Percebíamos que várias organizações estavam pensando no que fazer para a COP30 de forma própria. A cúpula foi a forma de juntarmos tudo para discutir a possibilidade de fazer uma construção unitária nesse momento”, afirma Santos. Entre as organizações que se juntaram à ação, estão Observatório do Clima, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Coalizão Negra por Direitos (CND) e Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Das 700 entidades, 84 são internacionais, como a Confederação Sindical dos Trabalhadores da América (CSA);  México sem Ecocídio e Centro Para Mudança Social de Joanesburgo, na África do Sul.  Para que essa união de muitos grupos funcione, a cúpula é organizada em um Comitê Político, que facilita e coordena o processo, e por grupos de trabalho, explica Santos. Os principais desafios enfrentados pela articulação estão relacionados à captação de recursos e alojamento para os 15 mil participantes do evento
A questão dos alojamentos não é um problema exclusivo da cúpula, Belém já enfrenta problemas de falta de acomodações para o público da COP30.

O evento está previsto para acontecer na Universidade Federal do Pará (UFPA). A meta é garantir acomodações nas imediações do local, o que  evitaria a necessidade de deslocamentos à cidade, diz Santos.

A escolha da UFPA como sede da Cúpula é um desafio por si só.

“Passamos por quatro anos de desmonte das universidades federais. Recursos não  chegavam para a infraestrutura e isso tem um impacto.  Estamos lidando com essa questão e vendo a melhor maneira  possível de aproveitar a Cúpula dos Povos como um legado também para a universidade”, afirma Santos.

Segundo Iván González, para os movimentos internacionais, a  dificuldade também está em garantir a participação presencial dos seus membros, devido aos custos de deslocamento.  Ainda, o momento de crise política em diferentes países é  aspecto que dificulta. Para além de lutar pela própria  sobrevivência, comunidades tradicionais, povos originários e  outros participantes da Cúpula precisam assegurar que suas  demandas sejam consideradas nas discussões durante o evento, afirma González.

Reportagem de Débora van Pütten, divulgada no jornal Folha de SP

O Pampa vai estar na Cúpula dos Povos e na COP30

Na 2ª feira (26 de maio), aconteceu a 3ª reunião, de uma série de encontros que estão sendo desenvolvidos no Rio Grande do Sul com foco na Cúpula dos Povos rumo à COP 30 (30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). Foi realizada presencialmente no Sindbancários, em Porto Alegre (RS), com a participação de movimentos sociais, entidades ambientalistas, populares e de comunidades tradicionais, sindicatos e outras organizações.

“Queremos fazer uma articulação regional dos povos do Pampa para que a gente possa ter uma estratégia de incidência em Belém, no Pará, no final do ano, e apresentar uma pauta que seja ampla e coletiva. Para que a nossa voz possa repercutir de forma unificada”, afirma Felipe Amaral, que participa deste fórum pela Amigas da Terra Brasil.

A expectativa é de que a Cúpula dos Povos mobilize entre 30 mil e 40 mil pessoas. Aqui no RS, essa articulação composta por cerca de 30 entidades está focada nas questões do Pampa. Até o final do ano, a intenção é levar o debate para cidades do interior do estado integradas pelo bioma, como Pelotas, Rio Grande e Bagé, no Sul e na Campanha gaúcha, e também na região metropolitana, buscando mobilizar mais organizações e comunidades a fim de fortalecer a participação em Belém.

“Queremos fazer um trabalho de construção coletiva, de acompanhamento e de presença em Belém, no Pará, mas acima de tudo, algo que seja para adiante. A questão ambiental não surge em função da COP e não se encerra nela também. Nossa expectativa é que essa construção seja algo maior do que o evento, que seja uma oportunidade de criar uma unidade em torno dos povos do Pampa”, diz Amaral.

O processo segue em construção, sendo pautado pela justiça ambiental e pelo protagonismo das mulheres na luta ambiental. Convidamos todas as organizações e comunidades interessadas a participarem desse movimento. A próxima reunião desta articulação do Pampa na #cúpuladosopovos e na #COP30 ocorre em 9 de junho, às 18h, no Sindbancários, em Porto Alegre. Para mais informações, entre em contato com Felipe pelo e-mail secretarianatbr@gmail.com ou telefone (51) 99709-4736 .

Povos tradicionais do Brasil e exterior cobram protagonismo na COP30 e na luta contra mudanças climáticas

Mais de 70 organizações se reúnem em Belém para reafirmar protagonismos dos povos da Amazônia

Mais de 70 organizações se reúnem em Belém para reafirmar protagonismos dos povos da Amazônia – Caetano Scannavino

Na sexta-feira (30), representantes de mais de 70 movimentos populares, organizações e povos tradicionais de 13 países se reuniram em ato político realizado em Belém, onde foi anunciado oficialmente que a Universidade Federal do Pará será o palco central das discussões da Cúpula dos Povos durante a COP30. O evento reforça a exigência de que os povos da Amazônia sejam os verdadeiros protagonistas da luta climática, a partir da escuta, do diálogo e proposição de políticas públicas, considerando a vivência e os saberes tradicionais.

Sob o tema “Da Amazônia para o Mundo: Justiça Climática Já!”, os povos da América Latina, África, Ásia e Europa proclamam: não há solução para a crise climática que não parta e envolva os povos originários e tradicionais.

Representando os povos indígenas do Brasil, Auricélia Arapiun, liderança indígena do Baixo Tapajós (PA) que compõe a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) participou do ato.

“A resposta somos nós, que estamos há muito tempo dizendo que temos a solução. Se eles tivessem a solução, nós não estaríamos a caminho do fim do mundo, como estamos hoje. Muito pelo contrário, a cada COP a situação só piora porque nós não estamos lá dentro, não somos ouvidos e nem seremos”, destaca Auricélia.

Durante sua fala, Auricélia pontuou fortemente atos de retrocesso por parte do Congresso Nacional, a exemplo da aprovação do Projeto de Lei 2159/2021, popularmente conhecido como PL da Devastação, que estabelece um novo marco para o licenciamento ambiental no Brasil em detrimento dos direitos dos povos tradicionais.

“Que COP30 queremos para o Brasil se o Congresso Nacional está atacando nossos territórios, está atacando o meio ambiente, se tem o PL da devastação, da destruição dos nossos territórios? Se aprovaram o PL de retrocesso demarcação das terras indígenas? Não é possível que estamos caminhando para esse ponto, ao mesmo tempo em que o Brasil e o governo do Pará se colocam como líderes de enfrentamento à crise climática”, denuncia Auricélia.

O lançamento do território da Cúpula dos Povos demarca o espaço público UFPA para reafirmar as práticas ancestrais, comunitárias e populares como caminhos concretos e viáveis para enfrentar a crise climática com justiça social.

“Essa Cúpula tem o papel fundamental de popularizar, de envolver o povo, de colocar o povo no centro dos debates, se apropriando do debate do clima e propondo, a partir da sua prática concreta e real, a transformação desse mundo que pertence a todos. E nós estamos dizendo que é necessária a participação popular que a COP, a Cúpula e o governo brasileiro demonstrem, de fato, um compromisso pela mudança”, explica Pablo Neri, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Cúpula dos Povos vai além da COP30

O ato compõe uma agenda de quatro dias que marcam a consolidação de estratégias coletivas para o evento principal em novembro, quando a Cúpula espera reunir cerca de 15 mil pessoas em Belém para uma ampla programação, que prevê a participação de mais de 700 organizações e redes sociais.

No entanto, as organizações reforçam que a COP30 não encerra a construção coletiva da Cúpula dos Povos, que vai além de calendários pré-determinados e tende a ser um espaço para a garantia do diálogo e luta permanente e internacionalista em defesa da Amazônia, dos povos e territórios.

Compondo a comitiva internacionalista do encontro, Sophie Ogutu, queniana de Nairóbi e integrante do Comitê Internacional da Marcha Mundial das Mulheres reforça a importância desse espaço destinado aos povos.

“As soluções para o mundo nunca virão em uma canetada. Nós estamos aqui e nós temos as soluções. E estou muito grata por estar aqui na Universidade do Pará, nesse espaço que deram para a gente. E olha, lá no Quênia, todos falam que de todas as COPs, gostariam de estar nessa do Brasil, porque aqui temos voz, aqui vocês abrem espaço para todos”, garantiu Sophie.

Do Peru, a ativista e feminista Denisse Chavez, do grupo Mujeres y Cambio Climáctico (GIMCC), reafirma ainda que a luta por justiça climática integra a luta por justiça em suas diversas esferas.

“Nós continuamos essa luta e vamos seguir para deixar para nossas filhas e nossas netas um mundo melhor. E nós só vamos conseguir isso exigindo justiça climática, justiça de gênero, justiça ambiental para todos os homens, mulheres e diversidades”, reforça

Cúpula dos Povos
Desde 1992, a Cúpula dos Povos é um grito de resistência e justiça por meio de um espaço autônomo onde as comunidades mais atingidas pela crise climática como os povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e moradores das periferias urbanas, somam forças para ecoar suas vozes e demandas.

Em novembro de 2025, o Brasil receberá a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), nesse contexto, mais de 700 organizações, redes, coletivos se juntaram para construir um amplo processo de mobilização para que a COP no Brasil seja um ponto de virada nas discussões sobre a crise climática.

Texto originalmente publicado no Jornal Brasil de Fato, em: https://www.brasildefato.com.br/2025/05/31/povos-tradicionais-do-brasil-e-exterior-cobram-protagonismo-na-cop30-e-na-luta-contra-mudancas-climaticas/ 

Quarta Temática apresenta estudo “Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática”

🍃 ✊🏽 Na quarta-feira (28), a Casanat, casa sede da ATBr, recebeu movimentos sociais, organizações populares, coletivos e juventudes para partilhar da Quarta Temática. Na ocasião, o estudo “Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática” foi apresentado. Entrelaçando histórias de gentes e biomas, o momento correlacionou desafios, lutas e caminhos do Pampa à Amazônia na construção da justiça climática e dos povos.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Foram debatidas políticas de clima, desmonte da legislação ambiental, o impacto do agronegócio na emergência climática (responsável por 75% das emissões no BR), falsas soluções de mercado com seus “créditos de carbono” e a ameaça de acordos de livre comércio. Contra projetos de morte do capital, suas lógicas ecocidas e violadoras de direitos, está o antídoto ancestral, a organização popular, sonhos rebeldes que plantam akilombamentos. Estão territórios que salvaguardam a vida com suas práticas, valores e sabenças – as ocupações, cozinhas solidárias, kilombos, aldeias e retomadas.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Esteve em pauta o que representa a COP30 no Brasil e a relevância de espaços de convergência popular, como a Cúpula dos Povos, no reconstruir do internacionalismo solidário de classe. Frente a retrocessos como o avanço do PL da Devastação e a licença de instalação para o derrocamento do Pedral do Lourenço, no Rio Tocantins (PA), encontros como a Quarta Temática visam o fortalecimento mútuo e a construção de alternativas.

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Neste foram ressaltadas a reparação histórica e a Justiça Climática na perspectiva dos povos indígenas, tradicionais e das mulheres amazônidas, assim como as soluções dos povos. Bandeiras por reforma agrária popular, agroecologia, demarcação de territórios indígenas, titulação de quilombos, reforma fundiária e urbana, soberania territorial e alimentar foram erguidas.

📣 Aquecendo e ocupando a CasaNat, voltamos a realizar mensalmente a Quarta Temática, um espaço de encontro para a construção de outros mundos possíveis, com justiça climática, social e ambiental.

Confira a cobertura fotográfica em:

Quartas Temáticas - 28/05/25 - CasaNAT, Porto Alegre (RS)

Famílias Mbyá Guarani retomam território ancestral no Lami e recebem apoio de instituições e organizações civis

No dia 3 de maio, duas famílias Mbyá Guarani retomaram uma área por elas reconhecida como território ancestral, localizada na Estrada São Caetano, no bairro Lami, em Porto Alegre (RS). A retomada foi nomeada pelos Mbyá como Ka’aguy Mirim, que em tradução livre significa “Mata Sagrada”.

Na quarta-feira (14/05), a retomada Ka’aguy Mirim recebeu a visita de representantes de instituições que atuam na defesa dos direitos dos povos indígenas. Estiveram presentes o Ministério Público Federal, representado pelo procurador Ricardo Gralha Massia; a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), por meio de Kaio Domingues Hoffmann; e o Conselho Estadual de Direitos Humanos do RS (CEDH/RS), com Silvio Jardim. A visita teve como objetivo ouvir a comunidade e a cacica Yvá Mônica, diante das ameaças que os indígenas relatam estar sofrendo por parte de não indígenas que reivindicam a posse da área.

Empreendimentos imobiliários e posseiros colocam em risco de extinção as matas e ambientes nativos. Com essa expansão urbana e imobiliária, os indígenas, como os Mbyá da retomada, vão perdendo seus espaços de sobrevivência. É preciso garantir esses territórios de vida. 

Durante a visita, foram discutidos encaminhamentos importantes relacionados à segurança da comunidade Mbyá Guarani, ao fornecimento de água e alimentos e à garantia de livre trânsito para apoiadores da aldeia e para os próprios parentes indígenas.

Além das instituições federais e estaduais, também estiveram presentes representantes da Prefeitura de Porto Alegre, por meio do CRAS (assistência social), e diversas organizações da sociedade civil que vêm oferecendo apoio contínuo à retomada. Entre elas, destacam-se o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a Amigas da Terra Brasil (ATBr) e Madre Tierra, que acompanham de perto o processo de retomada e os desafios enfrentados pela comunidade indígena no território. 

A Amigas da Terra Brasil se coloca contra o racismo ambiental e os projetos de morte. Garantir a segurança dos Mbyá da retomada e seu modo de viver é fundamental. Em apoio aos projetos de vida, seguimos na luta em defesa das retomadas!

Crédito da foto: Maí Yandara/ ATBR

Galeria de fotos no Flickr da Amigas da Terra Brasil

Retomada Tekoa Ka’aguy Mirim - 14/05/25 - Porto Alegre


Amigas da Terra Brasil

Quarta Temática da Amigas da Terra Brasil debaterá Política Nacional de Clima, Participação Social e Propostas dos Povos do Brasil para a Justiça Climática:

A Amigas da Terra Brasil volta a realizar a Quarta Temática, um espaço de encontro mensal de debate e trocas de experiências, no dia 28 de maio, às 19h, na CasaNat (Rua Olavo Bilac, 192), nossa sede em Porto Alegre (RS). Teremos transmissão ao vivo para todo o país!

Nesta Quarta Temática, lançaremos para debate público o estudo . Realizado por autoras e autores do Pampa à Amazônia, foi fruto de um processo coletivo de resgate de saberes e formação, visando a articulação, educação popular e incidência junto a movimentos e organizações aliadas no processo da Cúpula dos Povos rumo à COP30 (Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU), que acontecerá em Belém do Pará, em novembro de 2025.

O estudo faz um breve resgate das COPs na América Latina, abordando de forma crítica a participação social na construção das metas nacionais e das política de clima em disputa. Convergindo com as propostas populares em curso, traz também à discussão a Justiça Climática na perspectiva dos povos indígenas, tradicionais e das mulheres amazônidas.

Convidamos todas as pessoas interessadas, amigas e companheiras de luta a debaterem com a gente na CaSAnAT! Para quem não puder estar presencialmente, poderá acompanhar ao vivo por este link: https://bit.ly/quarta_tematicaclima (também no QRCode da imagem).

Dia Anti-Chevron 2025: o crime corporativo segue impune

Dia 21 de maio é marcado como o Dia Anti-Chevron, em denúncia a um dos crimes corporativos mais atrozes da história: a violação dos direitos dos povos e de seus direitos humanos, inclusive com a extinção de povos indígenas, como consequência da ação criminal da empresa Texaco (hoje conhecida como Chevron) na Amazônia Equatoriana. Desde a Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC), denunciamos a impunidade que ampara essa transnacional e a cumplicidade ativa do Estado Equatoriano e do sistema internacional de arbitragem que favorece os investimentos ao invés da vida. 

Entre 1964 e 1990, a Texaco operou na Amazônia equatoriana utilizando tecnologia obsoleta unicamente com o objetivo de reduzir os custos e maximizar os lucros. As ações da empresa tiveram um impacto direto nos povos indígenas, nos territórios e na água. A empresa derramou mais de 60 bilhões de litros de água tóxica, 650 mil barris de petróleo bruto, escavou 880 poços poluentes e queimou 235 bilhões de pés cúbicos de gás ao ar livre. As consequências são visíveis e letais: taxas de cancro superiores à média nacional, poluição permanente e extinção dos povos indígenas.

As pessoas organizadas na União dos Atingidos pelas Operações Petrolíferas da Texaco (UDAPT – Amigos da Terra Equador) iniciaram há mais de 30 anos uma batalha jurídica sem precedentes que resultou numa decisão exemplar: em 2018, o Tribunal Constitucional do Equador ratificou a condenação contra a Chevron, obrigando-a a pagar mais de 9,5 bilhões de dólares em reparações ambientais e sociais. A sentença é definitiva, firme e baseada em provas científicas e jurídicas irrecorríveis. No entanto, até à data, a Chevron não pagou um centavo. 

Não satisfeita com a sua impunidade, a Chevron refugiou-se no Tratado Bilateral de Proteção dos Investimentos entre o Equador e os EUA, recorrendo a uma arbitragem internacional que carece de legitimidade democrática. Em 2018, este tribunal privado – composto por três árbitros e sem a participação das pessoas que foram afetadas – condenou o Estado equatoriano, ordenando-lhe que anulasse a sentença judicial e pagasse mais de 2 bilhões de dólares à Chevron por “danos morais”. Esta sentença, para além de violar a soberania nacional e a divisão de poderes, nega o direito à justiça a mais de 30 mil  indígenas e camponeses afetades.

O Decreto 501, assinado pelo Presidente Noboa em janeiro de 2025, faz do país a sede do Tribunal Permanente de Arbitragem, ignorando o mandato popular do referendo de abril de 2024, no qual mais de 65% dos equatorianos rejeitaram a arbitragem internacional.

Desde a ATALC denunciamos esta teia de impunidade e de blindagem empresarial. Somos solidários com a UDAPT e com os povos indígenas que, apesar da perseguição, levaram a sua reivindicação à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, procurando uma decisão que obrigue o Estado a garantir a reparação e o acesso efetivo à justiça.

Reafirmamos também o nosso empenho num tratado internacional de direitos humanos juridicamente vinculante sobre as empresas transnacionais (Tratado Vinculante), que permita que empresas como a Chevron sejam processadas e punidas pelos seus crimes e ponha fim à arquitetura global da impunidade corporativa. 

O caso Chevron é um emblema de como as transnacionais violam os direitos dos povos e seus direitos humanos na região e no mundo, e depois se blindam em tribunais privados com o apoio de Estados ajoelhados aos interesses corporativos. Mas a luta contra a Chevron é um exemplo de dignidade, resistência e busca de justiça por parte dos sujeitos populares organizados.

https://www.instagram.com/p/DJ7OKJoxPQc/?img_index=1

Conteúdo originalmente publicado na página da ATALC, neste link

Encontro público Ayvu’ Porã: Fórum das Retomadas Guarani do RS

No dia 14 de abril ocorreu o terceiro Ayvu’ Porã, o Fórum das Retomadas Guarani do RS. Aberto ao público, o encontro ocorreu na Retomada Nhe’engatu, em Viamão (RS), e alçou vozes mbyá guarani por dignidade, direitos e ancestralidade.  Esse foi o último encontro de uma série que reuniu lideranças territoriais desde 2024.  Nele, um documento com a síntese dos fóruns anteriores, onde constam demandas dos mbyá guarani, foi entregue aos presentes como convocatória para o fortalecimento das #retomadas.  

Estiveram presentes territórios das retomadas do RS, aliades e representantes do Conselho Estadual dos Povos Indígenas (Cepi), Secretaria do Desenvolvimento Rural (SDR), Aepim, Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), Conselho de Articulação do Povo Guarani (CAPG RS), Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), Observatório Indigenista, Iphan, Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (Iecam) e Cimi-Sul.

📽️ No vídeo, os caciques Eloir Werá Xondaro (Retomada Nhe’engatu) e Timóteo Karai Mirim (Retomada Tekoá Yjere), Arnildo Werá (coordenador da Comissão Guarani Yvyrupa-CGY), e Fernando Campos (ATBr), falam sobre o Ayvu’ Porã:

No encontro foram relatadas dificuldades do cotidiano,  atravessado por violência e falta de acesso a direitos básicos como à água, moradia, saneamento e educação. Perpassando todo debate, foi evocada a importância do guatá (caminhar) mbyá guarani, que gera retomadas. Essas são o retorno para os territórios ancestrais dos antepassados, num ato de resistir e manter viva a cultura.  Na tecitura do retomar pulsa o bem viver, e se faz a conservação da natureza e da vida em sua multiplicidade – com a guardiania de sementes ancestrais, no cultivo da terra e das relações comunitárias, no erguer de opys (casas de reza), na feitura de artesanias e na partilha. Como disse o cacique Eloir, é: “Plantar o próprio guarani dentro do território”.  

Também foram abordados temas como #demarcação, reintegração de posse, ameaças como a especulação imobiliária, mineração e o agronegócio e a necessidade de juruás (não indígenas) assumirem responsabilidade na aliança em defesa da terra, da vida e dos territórios indígenas. 

As formas de organização social e de vida dos povos da terra são uma afronta aos projetos de morte do capitalismo, sistema que promove e se mantém na base da competição, propriedade privada e desigualdade, princípios opostos às cosmologias e valores mbyá guarani.  Num planeta ora em chamas, ora submerso devido aos efeitos extremos causados pela emergência climática, a resposta para frear o colapso ecológico está na defesa de #direitosparaospovos. É preciso reparação histórica, numa solidariedade real e radical em apoio às #retomadas e #territóriosdevida. Num mundo atravessado pela lógica da mercadoria, que produz o colapso ecológico e de valores, urge fazer valer o direito de ser e seguir existindo como mbyá guarani.

Leia na íntegra o documento com as reivindicações Mbyá Guarani, formuladas pelos territórios ao longo do Fórum das Retomadas e entregue para as instituições:
Ayvu’ Porã Retomadas Mbyá no RS

Confira a cobertura em fotos do Ayvu’ Porã III:

Ayvu' Porã: Fórum das Retomadas - 14/04/25 -  Tekoá Nhe'engatu, Viamão - RS

Saiba como foi o Ayvu’ Porã II

Saiba como foi o Aivu’ Porã I

 

Aivu’ Porã: Encontro público do Fórum das Retomadas Mbyá Guarani do RS

Te convidamos para somar no encontro de caciques das Retomadas Territoriais Mbyá Guarani do RS, no próximo Ayvu’ Porã: Fórum das Retomadas. O evento será na segunda-feira, 14 de abril, na Aldeia Nhe’engatu, em Viamão (RS). Vem potencializar as retomadas e os territórios de vida ✊🏽🏹

Protagonizado pelo povo Mbyá Guarani, o momento contará com escutatório de suas demandas territoriais, por direitos e dignidade. Também é um encontro para o fortalecimento mútuo das retomadas e aldeias, da espiritualidade e da multidiversidade de seres, formas de ser e viver – o que passa pela defesa desses territórios de vida.

Aberto ao público, o terceiro encontro do Ayvu’ Porã traz ainda tom de convocatória, com um chamamento aos juruá (não indígenas) e às instituições a assumirem compromisso quanto à reparação histórica. Urge estarem ao lado das retomadas e das famílias mbyá guarani, em aliança com os povos da terra.

É tempo de #retomada. Em comunhão com as raízes, os Mbyá retomam suas terras para preservar seus valores, saberes, modos de ser e tradições. A #retomada é a volta aos territórios ancestrais, é cultura viva, bem viver. O Ayvu’ Porã: Fórum das Retomadas, é um espaço de ação, com cultivo de saberes e partilha de histórias. Nele também se faz a confluência entre territórios Mbyá Guarani que se articulam em defesa da vida.

Saiba como foi o primeiro encontro do Fórum das Retomadas 

Confira como foi o segundo encontro do Fórum das Retomadas 

2º Fórum das Retomadas do Povo Guarani no Rio Grande do Sul

No final de março aconteceu o Ayvu’ Porã: 2º Fórum das Retomadas do Povo Guarani no Rio Grande do Sul, na Retomada Mbya-Guarani da Tekoa Karanda-ty, no Mato do Júlio, em Cachoeirinha (RS), na região metropolitana. Os caciques se encontraram novamente com a intenção de potencializar as retomadas territoriais indígenas mbya em busca de seu bem viver.

Representando seus territórios de vida, os mbya discutiram temas que envolvem suas comunidades, dignidade e direitos, que precisam ser assegurados urgentemente. Foram explicitadas questões que os levam a esses movimentos de organização política e suas dificuldades perante à sociedade não indígena, tanto junto às instituições dos governos quanto na sociedade civil.

Realizar este encontro na retomada indígena que ocupa parte do Mato do Júlio também foi bastante simbólico, pois essa área de mata na cidade, que ajudou na contenção das fortes chuvas e inundações que alagaram a região em maio passado, é alvo da sanha da especulação imobiliária por lucro. A presença dos mbya é força e resistência na defesa da natureza e da VIDA indígena e dos não-indígenas, dos animais, plantas e toda diversidade que habita o local.

Os caciques encaminharam a data do 3º Fórum das Retomadas, que será aberto à sociedade em geral e contará com a presença de instituições convidadas. Será no dia 14 de abril, na Retomada Nhe’engatu, na cidade de Viamão (RS).

Esses encontros fazem parte de uma articulação da Amigas da Terra Brasil com esses territórios pelo seu direito de ser e existir.

Álbum de fotos no Flickr da ATBR:

Fórum das Retomadas Encontro II

📸 2º Fórum das Retomadas do Povo Guarani no RS, realizado em 21/03/25, em Cachoeirinha. Retomadas presentes: Yyjere (Porto Alegre), Nhe’engatu (Viamão), Karanda’ty (Cachoeirinha), Yyrupa (Terra de Areia), Ka’aguy porã (Maquiné), Jakupé (São Gabriel), Pekuri’ty (Canela) e Pará rokê (Rio Grande)/ Crédito: Carolina C. | ATBR

plugins premium WordPress