Dia Anti-Chevron 2025: o crime corporativo segue impune

Dia 21 de maio é marcado como o Dia Anti-Chevron, em denúncia a um dos crimes corporativos mais atrozes da história: a violação dos direitos dos povos e de seus direitos humanos, inclusive com a extinção de povos indígenas, como consequência da ação criminal da empresa Texaco (hoje conhecida como Chevron) na Amazônia Equatoriana. Desde a Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC), denunciamos a impunidade que ampara essa transnacional e a cumplicidade ativa do Estado Equatoriano e do sistema internacional de arbitragem que favorece os investimentos ao invés da vida. 

Entre 1964 e 1990, a Texaco operou na Amazônia equatoriana utilizando tecnologia obsoleta unicamente com o objetivo de reduzir os custos e maximizar os lucros. As ações da empresa tiveram um impacto direto nos povos indígenas, nos territórios e na água. A empresa derramou mais de 60 bilhões de litros de água tóxica, 650 mil barris de petróleo bruto, escavou 880 poços poluentes e queimou 235 bilhões de pés cúbicos de gás ao ar livre. As consequências são visíveis e letais: taxas de cancro superiores à média nacional, poluição permanente e extinção dos povos indígenas.

As pessoas organizadas na União dos Atingidos pelas Operações Petrolíferas da Texaco (UDAPT – Amigos da Terra Equador) iniciaram há mais de 30 anos uma batalha jurídica sem precedentes que resultou numa decisão exemplar: em 2018, o Tribunal Constitucional do Equador ratificou a condenação contra a Chevron, obrigando-a a pagar mais de 9,5 bilhões de dólares em reparações ambientais e sociais. A sentença é definitiva, firme e baseada em provas científicas e jurídicas irrecorríveis. No entanto, até à data, a Chevron não pagou um centavo. 

Não satisfeita com a sua impunidade, a Chevron refugiou-se no Tratado Bilateral de Proteção dos Investimentos entre o Equador e os EUA, recorrendo a uma arbitragem internacional que carece de legitimidade democrática. Em 2018, este tribunal privado – composto por três árbitros e sem a participação das pessoas que foram afetadas – condenou o Estado equatoriano, ordenando-lhe que anulasse a sentença judicial e pagasse mais de 2 bilhões de dólares à Chevron por “danos morais”. Esta sentença, para além de violar a soberania nacional e a divisão de poderes, nega o direito à justiça a mais de 30 mil  indígenas e camponeses afetades.

O Decreto 501, assinado pelo Presidente Noboa em janeiro de 2025, faz do país a sede do Tribunal Permanente de Arbitragem, ignorando o mandato popular do referendo de abril de 2024, no qual mais de 65% dos equatorianos rejeitaram a arbitragem internacional.

Desde a ATALC denunciamos esta teia de impunidade e de blindagem empresarial. Somos solidários com a UDAPT e com os povos indígenas que, apesar da perseguição, levaram a sua reivindicação à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, procurando uma decisão que obrigue o Estado a garantir a reparação e o acesso efetivo à justiça.

Reafirmamos também o nosso empenho num tratado internacional de direitos humanos juridicamente vinculante sobre as empresas transnacionais (Tratado Vinculante), que permita que empresas como a Chevron sejam processadas e punidas pelos seus crimes e ponha fim à arquitetura global da impunidade corporativa. 

O caso Chevron é um emblema de como as transnacionais violam os direitos dos povos e seus direitos humanos na região e no mundo, e depois se blindam em tribunais privados com o apoio de Estados ajoelhados aos interesses corporativos. Mas a luta contra a Chevron é um exemplo de dignidade, resistência e busca de justiça por parte dos sujeitos populares organizados.

https://www.instagram.com/p/DJ7OKJoxPQc/?img_index=1

Conteúdo originalmente publicado na página da ATALC, neste link

Palestina livre: basta já com a impunidade de Israel!


A Amigos da Terra Internacional e membros, entre elas a Amigas da Terra Brasil, condenam veementemente o massacre brutal e sem sentido e o genocídio em curso contra os palestinos em Gaza pela ocupação israelense. Desde que Israel rompeu o acordo de cessar-fogo na terça-feira, 18 de março, mais de 700 pessoas, incluindo muitas crianças, foram mortas em ataques noturnos, enquanto inúmeras outras ficaram feridas.

Hospitais, tendas de refugiados e famílias inteiras foram alvos deliberados do último massacre israelense. O diretor do Ministério da Saúde de Gaza relata que a situação da saúde é catastrófica, com 25 dos 38 hospitais fora de serviço, e os demais incapazes de atender às crescentes necessidades. O diretor do Hospital Al-Shifa declarou que um dos feridos morre a cada minuto devido à falta de recursos.

A ocupação israelense tem violado e interrompido repetidamente os termos do acordo de cessar-fogo desde que ele entrou em vigor há dois meses. Durante todo esse período, o Gabinete de Mídia do Governo de Gaza informou que as Forças de Defesa de Israel mataram e feriram dezenas de palestinos por meio de ataques aéreos e disparos de armas de fogo, além de bloquear a entrada dos níveis estipulados de ajuda de emergência e socorro. A ocupação israelense também procurou estender a primeira fase do acordo de cessar-fogo, evitando passar para a segunda fase, conforme acordado originalmente.

A Amigos da Terra Internacional e seus membros, entre elas a Amigas da Terra Brasil, condenam veementemente essas ações deliberadas pelo papel que desempenharam ao colocar em risco o acordo de cessar-fogo e aumentar ainda mais esse genocídio.

Desde outubro de 2023, os ataques contra os palestinos em Gaza e na Cisjordânia têm sido cruéis, bárbaros e desumanos. Eles também fizeram parte de um esforço mais amplo para desapropriar e destruir intencionalmente o povo palestino. Os palestinos estão sendo submetidos a um genocídio. Nenhuma outra palavra pode refletir a total devastação e o desastre que a ocupação israelense, sustentada e apoiada pelos EUA (Estados Unidos) e outros governos, causou aos palestinos e à sua terra.

Por meio de nosso trabalho, a Amigos da Terra Internacional está bem ciente das maneiras pelas quais países e empresas destroem e prejudicam o planeta. Entretanto, poucas coisas nos horrorizaram e alarmaram tanto quanto as ações deliberadas, tomadas para poluir e arruinar a terra, o ar e a água de Gaza, ações que têm um grande impacto sobre a saúde já deteriorada do enclave.

Há mais de um ano, a Amigos da Terra Internacional vem denunciando repetidamente essa situação pelo que ela é – tanto ecocídio quanto genocídio – e instou os governantes a agirem com urgência e implementarem as medidas necessárias para pôr fim a esses crimes de uma vez por todas.

Um relatório recente da ONU (Organização das Nações Unidas) documentou o uso sistemático de violência sexual e reprodutiva e outras violências baseadas em gênero pelas forças de segurança israelenses desde outubro de 2023. O relatório também mencionou que Israel cometeu atos genocidas por meio da destruição sistemática de instalações de saúde sexual e reprodutiva em Gaza. O desnudamento e a nudez públicos forçados e o assédio sexual, inclusive ameaças de estupro, bem como agressão sexual, são formas específicas de violência sexual e de gênero supostamente praticadas pelas forças de segurança israelenses contra palestinos.

A impunidade de Israel foi permitida por muito tempo e estamos testemunhando suas consequências não apenas em Gaza e na Cisjordânia, mas agora também em outras partes da região.

Apelo à ação

Em solidariedade à nossa organização palestina membro, a PENGON, e a todos os afetados, a Amigos da Terra Internacional pede uma mobilização mundial para exigir que todos os governos, especialmente os poderosos aliados de Israel:

# Usem todos os mecanismos diplomáticos e econômicos à sua disposição para impedir os ataques de Israel à Gaza e à Cisjordânia, começando com um embargo militar e enérgico total, conforme determinado pela decisão da CIJ (Corte Internacional de Justiça), cessando a importação e a exportação de armas, assistência militar, tecnologia de uso duplo, peças de reposição e combustível para Israel, a fim de evitar mais mortes e danos à terra;

# Exijam a abertura imediata das fronteiras de Gaza e garantam a entrada irrestrita de alimentos, medicamentos e combustível;

# Exijam que Israel respeite a decisão da CIJ (Corte Internacional de Justiça), que declarou inequivocamente que a ocupação israelense da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e da Faixa de Gaza é ilegal e deve terminar imediatamente.

Como o único país com influência real sobre Israel, também conclamamos especificamente o governo dos EUA a encerrar seu apoio incondicional à ocupação e ao genocídio.

Os governos que não fizerem tudo o que estiver ao seu alcance para interromper os ataques e, em vez disso, ajudarem a ocupação israelense correm o risco de serem declarados cúmplices do genocídio.

O direito humanitário internacional deve ser respeitado por todas as partes, permitindo a entrega imediata de ajuda humanitária e a proteção dos civis de Gaza, pondo fim a esse genocídio.

Os protestos globais, as campanhas de boicote e a resistência devem continuar até que esse genocídio acabe e a ocupação e o apartheid sejam desmantelados.

Como sempre, estamos ao lado de nossos companheiros da Amigos da Terra Palestina/PENGON e de todo o povo palestino por seu direito à vida, à paz duradoura e à justiça!


Amigos da Terra Internacional

Amigas da Terra Brasil

Texto publicado originalmente em https://www.foei.org/es/basta-israel-impunidad/ e traduzido com auxílio do tradutor online DeepL

Oficina de Olho na Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM)

🔍 Na sexta-feira (31), ocorreu a “Oficina de Olho na CFEM”, na Fecosul, em Porto Alegre (RS). O encontro aprofundou o debate sobre o modelo mineral brasileiro. Como pesquisador da De Olho na CFEM, Eduardo Raguse, do @mam, @comite e ATBr, expôs o que é e como se dá a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) em diferentes municípios do Brasil.

🚩 Pontos como minerodependência, finitude dos recursos, falácia do desenvolvimento e injustiça econômica foram abordados. E por meio do acompanhamento e investigações dos impostos gerados no país a partir da atividade, fica evidente: Mineração no Brasil é um saque.

🚨 No atual modelo mineral, a atividade gera impactos devastadores aos povos e territórios de vida, ampliando violência, feminicídio, prostituição infantil, poluição, contaminação, devastação da natureza e adoecimento físico e mental da população. Além disso, apenas migalhas acabam sobrando para os municípios minerados, devido à baixa alíquota à CFEM e das altíssimas taxas de sonegação por parte do setor minerário.

Durante a oficina, aspectos como a falta de transparência dos municípios quanto à utilização dos recursos que vem da mineração, assim como a falta de controle social sobre seu uso, foram discutidos.

Urge construirmos outros horizontes, com mecanismos de controle social e acesso à utilização dos recursos, exigindo transparência e priorizando a utilização desses recursos para o bem-estar das comunidades e para a diversificação econômica, superando a dependência da mineração no nosso país.

Seguimos em luta por um novo modelo mineral brasileiro, soberano e popular!

Acesse a apresentação feita durante a Oficina e fique por dentro dos dados: 2025-01-31 – Oficina CFEM RS – Eduardo Raguse

O cessar-fogo não é o final, é o princípio

A Amigos da Terra Internacional,  junto à PENGON (Amigos da Terra Palestina), expressa o sincero reconhecimento e gratidão a todos nossos grupos membros, aliadas, aliados, aliades e simpatizantes, por nos apoiar na defesa dos direitos humanos de pessoas palestinas e por lutar junto a nós por justiça na Palestina. Com esse novo acordo de cessar-fogo foi dado um primeiro passo crucial para pôr fim à guerra, à perda de vidas e ao sofrimento generalizado. Isso proporcionará um alivio muito necessário ao povo palestino de Gaza, que têm suportado penúrias e destruição inimagináveis ao largo dessa guerra. 

Apresentamos as nossas mais profundas condolências às inúmeras famílias que perderam entes queridos e as pessoas que foram deslocadas ou feridas. A devastação desta guerra foi profunda e afetou todos os aspectos da vida, incluindo o acesso a serviços essenciais, à educação e à dignidade humana básica.

Este momento de respiro deve ser um momento para a reflexão e a solidariedade contínua, mas também para a ação urgente. É o momento de reconstruir e salvar o que restou de Gaza. Para alcançar isto, insistimos na necessidade de um cessar-fogo sustentado que garanta segurança e justiça para a população da Faixa de Gaza.

Habitantes de Gaza regressam ao que resta de seus lares no norte da Franja Crédito: Pengon/Amigos da Terra Palestina

Após 472 dias de genocídio, foi anunciado um cessar-fogo oficial. No entanto, é crucial estar ciente do seguinte: 

Para o povo palestino, o cessar-fogo não marca o o fim do genocídio e nem do ecocídio. O ritmo apenas diminuiu. Um cessar-fogo não é uma declaração de paz. Não constitui justiça. Não é uma forma de liberdade. Não é mais que uma pausa na contínua eliminação do povo palestino e de sua terra. Pode ser que agora as bombas tenham deixado de cair, mas a ocupação israelense segue desapropriando, matando e destruindo. 

A magnitude da destruição é assombrosa. Lares, escolas, hospitais e infraestruturas vitais foram danificadas, deixando sobreviventes navegarem por uma paisagem de dor e ruína. A medida que as famílias começam a regressar ao que resta de seus lares, enfrentam a dolorosa realidade da perda e a difícil tarefa de reconstruir suas vidas a partir das cinzas.

Dias depois do cessar-fogo, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Cisjordânia. Atualmente estão intensificando sua atividade militar em distintas zonas, principalmente no norte, além de isolar povos e cidades mediante o uso de mais de 898 portões e postos de controle que foram instalados. 

Em Gaza, 19 anos de bloqueio transformaram a Faixa numa prisão ao ar livre, onde 2,3 milhões de pessoas não têm acesso a água potável, eletricidade e material médico.

Esta era a realidade muito antes do genocídio e agora, mesmo depois do cessar-fogo, as consequências da devastação intensificaram estas dificuldades, fazendo com que Gaza tenha que suportar dificuldades e limitações ainda maiores que a converteram em uma zona inabitável. 

Isso não pode continuar. Para iniciar a mudança rumo uma justiça real, nossas exigências são as seguintes: 

Solicitamos a todos os governos que: 

  • apoiem economicamente a reconstrução de Gaza baseando-se na soberania do povo palestino;
  • parem a exportação de todos os tipos de armas, assistência militar e peças de reposição para Israel;
  • cumpram suas obrigações em virtude da CPI como primeiro passo para alcançar a justiça e responsabilização de Israel

Fazemos um chamado à comunidade internacional para que tome ações sólidas e tangíveis de apoio ao povo palestino:  

  • pressionando os governos para que apliquem as medidas mencionadas;
  • pressionando as empresas que se benefician da ocupação do Estado de Israel para que ponham fim às suas atividades, como Mekorot;
  • compartilhando as histórias de palestinas, palestinos e palestines, de suas lutas e suas demandas por liberdade e pelo fim da ocupação  

Texto originalmente publicado no site da Amigas da Terra Internacional, em: https://www.foei.org/es/el-alto-el-fuego-no-es-el-final/ 

Nota de Apoio à permanência do Programa Cantos do Sul da Terra

A organização Amigas da Terra Brasil vem, por meio desta, manifestar seu apoio ao programa Cantos do Sul da Terra, que foi recentemente encerrado por decisão de Caio Tomazeli, secretário de Comunicação do governo de Eduardo Leite (PSDB). Este programa é de extrema importância, pois representa uma das poucas iniciativas que coloca a cultura regional como um elemento diverso e interconectado com a história da América Latina e com o território pampeano.

O Cantos do Sul da Terra tem mostrado, ao longo de sua trajetória, não apenas a riqueza da expressão cultural local, mas também a pluralidade de manifestações artísticas que dialogam com as raízes e as tradições dos povos que habitam essa rica região. Ao promover a cultura regional em sua diversidade, o programa se torna um espaço vital para a valorização das identidades locais e para a formação de um diálogo cultural mais amplo.

A decisão de encerramento do programa não apenas compromete essa diversidade, mas também limita a possibilidade de conhecimento e apreciação das múltiplas vozes que compõem o cenário cultural do Sul do Brasil e de toda a América Latina. A hegemonização das narrativas culturais é um processo perigoso, que pode levar ao apagamento de identidades e à perda da riqueza cultural que caracteriza nossa sociedade.

Por isso, fazemos um apelo às autoridades competentes para que reavaliem essa decisão e mantenham o programa Cantos do Sul da Terra como um potente espaço de resistência cultural, diálogo e educação. A preservação da cultura local deve ser uma prioridade, e o Cantos do Sul da Terra é um caminho fundamental para garantir que essas vozes sejam ouvidas e respeitadas.

Apoiamos a continuidade dessa iniciativa, que é essencial para fortalecer a diversidade cultural e promover um entendimento mais profundo das nossas identidades no contexto latino-americano.

Amigas da Terra Brasil

Feira Frutos da Resistência 2024: unindo campo e cidade, encontro celebrou a diversidade e potência dos territórios de vida

Feira Frutos da Resistência: Unindo campo e cidade, encontro celebrou a  diversidade e a potência dos territórios de vida 

Aromas, sabores, alquimias e artesanias da terra convidavam a quem transitava pela  Rua Olavo Bilac, onde está a Casanat- Casa sede da Amigas da Terra Brasil, a um encontro de esperançar.  No ritmo de muitas culturas e lutas, o sábado (30/11) contou com mais uma edição da Feira Frutos da Resistência, um espaço de confluência, partilha de saberes e dos enfrentamentos e resistências que se dão no Bioma Pampa, na Mata Atlântica e na metrópole de Porto Alegre.

Difundindo a agroecologia e a economia solidária, o momento teve uma série de debates a partir de falas e exposições dos territórios de vida. “Estamos aqui no compromisso com a vida, com territórios que constroem uma vida saudável e esse bem viver”, expôs Fernando Campos, da Amigas da Terra Brasil e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).  

Eduardo Raguse, do MAM, Comitê de Combate à Megamineração e ATBr evidenciou a importância do momento como forma de resistência,  reafirmando o compromisso permanente com a luta dos povos originários, quilombolas e com a reforma agrária. “Seguimos nos organizando e construindo redes, com os pés nos territórios e fazendo a luta do dia a dia”. Em exposição, Eduardo falou sobre o impacto dos monocultivos e do agronegócio no Rio Grande do Sul, salientando a importância de fomentar a agricultura familiar e de assegurar o direito de ser e existir dos seres e territórios de vida. 

Marla Kuhn, da Abrasco, aprofundou o tema, trazendo a questão de gênero e como os agrotóxicos afetam a questão reprodutiva e a saúde das mulheres. No momento, apresentou o Almanaque “As mulheres semeiam a vida: os agrotóxicos destroem a saúde reprodutiva humana e o ambiente”, contando sobre o processo de consolidação deste.  Evidenciou, ainda, a relação entre a bancada da Bíblia, contra o aborto e que violenta constantemente direitos das mulheres, com o apoio ao PL do Veneno. 

Eduardo Raguse e Marla Kuhn abordam a questão dos agrotóxicos no RS

Graciela Almeida, agricultora agroecológica da Família Almeida, assentamento Santa Rita de Cássia II (MST), em Nova Santa Rita, Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), destacou que a Feira Frutos da Resistência é biodiversa como nós. Em fala sobre a realidade de seu território, rememorou a importância de seguir na luta para não normalizar o envenenamento de nossas gentes e possibilitar vidas realmente saudáveis. “Naturalizam algo que está errado, porque o certo é preservar a natureza, o certo é cuidar dos bens comuns. O certo, ou verdadeiro, é pensar no futuro, nas futuras gerações, não no lucro de poucos. A gente continua combatendo e lutando contra o óbvio. Contra o óbvio que está mal, que é a morte. E nós seguimos lutando porque acreditamos que estamos do lado certo da história, e porque temos que lutar igual lutam outros povos, os povos originários, os quilombolas, todas as comunidades e territórios que resistem nesse mundo, e nesse Sul Global, sobretudo”, afirmou.  

Cores e sabores da produção agroecológica na Feira Frutos da Resistência

A feira também teve muita poesia com o lançamento do livro Búfalo Antigo, de Charles Trocate, da Direção Nacional do MAM. O companheiro abordou a questão minerária no país e seu impacto na vida dos seres, propondo a perspectiva da soberania, controle social da mineração e de outro modelo de produção. “A mineração goza do privilégio de seu desenvolvimento e progresso. Talvez a gente tenha nascido tardiamente dentro da configuração do modelo mineral, mas talvez seja o momento exato pra gente poder levantar essa perspectiva de que nós somos um país minerado e portanto rivalizar, exigir um outro modelo, o controle social  da mineração pertence a essa geração que sim, está se preocupando com isso, afinal estamos vivendo sobre uma ruptura metabólica, sobre uma emergência climática”, frisou. 

Lançamento do livro Búfalo Antigo, de Charles Trocate, da Direção Nacional do MAM

Meio aos aromas e debates da feira, os ritmos sonoros de Orun Muzunguê, da Comunidade Kilombola Morada da Paz, Mariana Stedele e Duo Irmãs Vidal anunciavam as histórias de luta há tanto presentes, e deram mais pulsão de vida ao encontro. A eles, se somou a exposição e cantos da Cacica Florência Quevedo, da comunidade indígena Warao venezuelana. Artesanias Guarani, Kaingang e Warao encheram a feira de cores e entrelaços, que além de alimentos agroecológicos, teve quitutes cheios de sabor, alquimias, brechó e a exposição diversa do trabalho cooperado no campo. 

“Viemos de uma reconstrução do espaço que está permanentemente em transformação, para acolher essa feira”, comentou Lúcia Órtiz, da Amigas da Terra Brasil. Em fala, ela contextualizou como a pandemia de Covid-19 e o avanço do fascismo sobre os corpos e territórios, durante o governo de Jair Bolsonaro, interrompeu também a Feira. “Esse momento de retomarmos a feira é de grande festa. Também retomamos uma iniciativa que tem longa caminhada, de a gente construir nessa outra economia, com outros valores, essa economia afetiva, feminista, popular, contra os avanços do neoliberalismo e dos acordos de livre comércio” expôs, contando a história dos encontros entre mulheres de várias partes do Brasil que, próximas aos vales e às águas, conflui no início da CSAA Territórios de Vida. Uma aliança entre campo e cidade que constrói a economia feminista e popular.

Confira o álbum de fotos da Feira Frutos da Resistência:

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Pré-lançamento da CSAA Territórios de Vida 

Um dos momentos de destaque da Feira foi o pré-lançamento da CSAA Territórios de Vida.  Os territórios que compõem a Comunidade falaram de suas realidades, das lutas que travam, sobretudo pós a enchente de maio, e destacaram a importância de uma forma de produzir coletiva, enraizada na amorosidade, zelo pela terra e respeito aos ciclos da natureza. A iniciativa une campo e cidade em chamamento para que mais pessoas sejam parte da produção agroecológica cooperada.  “A gente conseguiu confluir essas águas mais uma vez, e as águas quando elas confluem elas crescem, e a gente convida a todas e todos na cidade para fazer parte da Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecologia (CSAA Territórios de Vida) em toda a sua diversidade, dos povos originários, dos povos quilombolas, do povo na cidade, das hortas comunitárias, da agroecologia, dos assentamentos da reforma agrária”. 

A Amigas da Terra Brasil está retomando a Feira após reforma em sua casa sede, que passou por melhorias. O momento também celebrou a nova casa, que abre as portas para que mais iniciativas como essa sejam construídas em comunidade.“Que a Casanat e o espaço Frutos da Resistência voltem a ser esse ponto de encontro, esse ponto de luta, de convergências, e também de abundâncias, de prosperidade, e de dividir e partilhar esses saberes e sabores. Essa abundância que tem em cada um dos territórios em sua diversidade, megadiversidade”, expôs Lúcia.

A Feira é uma forma de expressar e compartilhar com a população sobre as lutas em defesa da vida. Estas são travadas por uma série de territórios gaúchos que estiveram presentes, salientando o quanto se faz necessária a construção de soberania popular, alimentar e dos territórios, via o combate aos grandes projetos de morte da especulação imobiliária, da mineração, do agronegócio e de seus venenos.

Amigas da Terra Brasil

Vem conferir o pré-lançamento da Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica (CSAA) Territórios de Vida na Feira Frutos da Resistência

Sábado (30) é dia de mais uma edição da Feira Frutos da Resistência, na rua em frente a Casanat (Olavo Bilac, 192, Cidade Baixa – Porto Alegre) onde compartilharemos em um encontro entre o urbano e o rural. O momento será composto por muita música, prosa, resistência e partilha sobre os territórios de vida que resistem no Rio Grande do Sul. 

Nessa confluência, que contará com uma série de atividades e debates, acontecerá o pré-lançamento da Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica (CSAA) Territórios de Vida. Num intercâmbio de sabores e saberes, a CSAA Territórios de Vida reafirma o valor do encantamento, da produção agroecológica cooperada e da união entre campo e cidade, levando o nutrir para a sua morada. A iniciativa é um sistema de impulso social do trabalho conjunto entre agricultoras, artesãs, alquimistas e pessoas consumidoras conscientes (co-produtoras).  

Quer saber como apoiar, aí da cidade, a agricultura familiar agroecológica? Tem ganas de fazer parte da produção do seu alimento? Vem para a Feira Frutos da Resistência conferir o pré-lançamento da Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica (CSAA) Territórios de Vida. O pré-lançamento da CSAA contará com exposição sobre o que é a iniciativa e apresentará os territórios que a compõe, abordando como estes vivenciam a produção de alimentos, artesanias e alquimias da terra.  Além de conhecer os territórios, você poderá sentir e vivenciar algumas das encantarias que serão proporcionadas com a CSAA, ficando por dentro de como fazer parte dessa coletividade. Esse é um chamado para construirmos outras formas de se relacionar com a Terra! 

Entre os temas abordados nas exposições da Feira, está o avanço do agronegócio com o uso de agrotóxicos e das pulverizações aéreas, verdadeiras armas letais que ameaçam territórios de vida que produzem sem veneno, impactando profundamente a saúde de produtores rurais e de ecossistemas.  Na linha de frente contra essa forma de produção, está a agricultura familiar cooperada e agroecológica, que se torna viva na prática e cuidado com a terra de diversos territórios do Rio Grande do Sul. O pré-lançamento da CSAA Territórios de Vida narra a história de alguns desses territórios em luta, além de propor que você construa a resistência ao lado deles.

Saiba mais sobre a CSAA:

Confira a programação completa da Feira Frutos da Resistência

Feira Agroecológica Frutos da Resistência acontecerá no sábado (30/11)

Produzindo com afeto, consumindo com responsabilidade. Venha vivenciar essa conexão entre campo e cidade

Unindo aromas, sabores, cultura e muita luta, o dia 30 de novembro será marcado por  mais uma edição da Feira Frutos da Resistência.  A Feira existe como um mecanismo de encontro, assim como de partilha de informações dos enfrentamentos e resistências que se dão no Bioma Pampa, na Mata Atlântica e na metrópole de Porto Alegre.  O encontro será na calçada da Casanat, casa sede da Amigas da Terra Brasil (Rua Olavo Bilac, 192, Porto Alegre/RS) e acontecerá das 13h às 19h, mesmo com chuva. A proposta é difundir a agroecologia e a economia solidária, informando a quem se aprochegar  e tornando possível um espaço de diálogo e de articulações políticas.

 Essa edição da Feira Frutos da Resistência terá uma série de debates e exposições, como a de Eduardo Raguse, do Comitê de Combate à Megamegamineração e da Amigas da Terra Brasil, que trará relatos da luta contra os agrotóxicos.  Também haverá a exposição do trabalho de pessoas agricultoras, alquimistas e artesãs dos territórios que produzem vida no Rio Grande do Sul, que contam histórias agroecológicas e coletivas. Outro destaque é a leitura da Carta Manifesto Contra a Fome Indígena no RS, com a presença indígena dos povos Guarani e Kaingang.

Momentos culturais para dar ritmo ao pulsar das lutas por terra e território contarão com a presença do Duo Irmãs Vidal, Mariana Stedele, Òrun – Ayan N’goma Muzunguê e Quichu e Jei Silvanno. O encontro também será embalado com o lançamento do livro Búfalo Antigo, de Charles Trocate, da Direção Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).  E com o pré-lançamento da iniciativa CSAA Territórios de Vida – Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica.

Confira a programação:

A Amigas da Terra Brasil está retomando a Feira após reforma em sua casa sede, que passou por reconstrução e uma série de melhorias. O momento também celebra a nova casa, que abre as portas para que mais iniciativas como essa sejam construídas em comunidade.

A retomada da feira é uma forma de expressar e compartilhar com a população sobre as lutas em defesa da vida. Estas são travadas por uma série de territórios gaúchos que estarão presentes, salientando o quanto se faz necessária a construção de soberania popular, alimentar e dos territórios, via o combate aos grandes projetos de morte da especulação imobiliária, da mineração, do agronegócio e de seus venenos.  A partilha será de memórias, de alimentos e saberes, de nossas culturas diversas, assim como dos próximos passos na confluência de nossas lutas por justiça social e ambiental. 

Vem somar com a gente e fazer ecoar as vozes de nossos territórios de vida!

Confira como foi a última Feiras Frutos da Resistência da Amigas da Terra Brasil 

Solidariedade internacional com a Palestina: A comunidade internacional exige justiça

A Amigos da Terra Internacional (ATI) reitera sua condenação aos crimes perpetrados por Israel em Gaza e na Cisjordânia. No último ano, Gaza foi testemunha de brutalidades, massacres e destruição implacáveis e indiscriminadas. Juntamente com o impacto devastador sobre a vida humana, a agricultura, a água e a biodiversidade foram destruídas e poluídas – em alguns casos, sem recuperação para as próximas gerações. Até outubro de 2024, 68% dos campos de cultivo permanentes de Gaza apresentaram um grande declínio em termos de saúde e densidade, o que afetará a nutrição, a segurança alimentar e a soberania por muito tempo depois do fim do conflito.

Conquistando os direitos inalienáveis do povo palestino

Os crimes de guerra que o mundo testemunha têm raízes profundas e fazem parte de um processo contínuo que começou em 1967 com a ocupação e o roubo de terras para a atividade de assentamento, com as terras palestinas sendo sistematicamente tomadas, expulsando as pessoas de suas casas. Desde então, quase todos os aspectos básicos da vida têm sido rigidamente controlados pela ocupação israelense, dificultando que os palestinos e palestinas vivam com dignidade e desfrutem de seus direitos básicos. Embora as pessoas agora estejam chamando abertamente a série de crimes de guerra pelo que ela é – um genocídio -, a política israelense em relação ao povo palestino em Gaza e na Cisjordânia segue por um caminho de terror há muito tempo. O historiador israelense Ilan Pappé denomina o tratamento dado por Israel aos palestinos como um “genocídio incremental”, desde 2014.

Hoje, mais de um ano depois que Israel intensificou sua campanha contra os palestinos, as pessoas que vivem em Gaza e na Cisjordânia têm sofrido crueldades indescritíveis.

No entanto, os ataques contra os hospitais e missões humanitárias de Gaza continuam, e as forças israelenses não se preocupam mais em esquivar-se da culpa, assumindo abertamente a autoria dos ataques. Outro marco foi o “Massacre da Farinha”, em que muitas pessoas famintas foram mortas quando tentavam buscar alimentos em caminhões de ajuda humanitária, e recentemente o ataque israelense mortal a um hospital de campanha. Há muitos outros – a tortura e estupro de prisioneiros,  o abate deliberado de animais e a morte de pessoas com deficiência e bebês prematuros – todos igualmente horríveis. 

A comunidade internacional e diversos defensores firmes, como o secretário da ONU, Antonio Guterres, condenaram Israel pelas “violações do direito humanitário internacional em Gaza” e pelo “profundo sofrimento humano infligido aos palestinos“, mas nada mudou.

Todas as linhas vermelhas existentes foram ultrapassadas e nenhuma repercussão ou ação foi tomada para evitar uma nova escalada. Há várias semanas, Israel iniciou sua incursão na Cisjordânia e no Líbano, onde agora estamos testemunhando uma repetição do que vem acontecendo em Gaza.

O crime israelense deve ser reconhecido pelo ecocídio que é

Há uma clara violação do direito a um ambiente saudável e seguro resultante das operações israelenses. Essas operações bloquearam o acesso à água, à saúde e ao saneamento, ao mesmo tempo em que criaram contaminação por armas e resíduos, destruição do solo e das florestas e escassez de alimentos, tudo sob negligência do direito internacional. A ONU estima que quase 70% das instalações de água e saneamento de Gaza tenham sido destruídas ou danificadas pelo pesado bombardeio israelense. Isso inclui todas as cinco instalações de tratamento de águas residuais do território, bem como usinas de dessalinização de água, estações de bombeamento de esgoto, poços e reservatórios. As crises de água e saneamento contribuíram para o aumento de doenças respiratórias, diarreia e varicela, com preocupações sobre o risco de cólera e outras epidemias.

As armas e os veículos de guerra usados para bombardeios aéreos e ataques terrestres levaram a um aumento significativo nas emissões de carbono. Os produtos químicos das armas, como o fósforo branco, também contaminaram o ar e provavelmente afetaram as terras agrícolas e o solo, contribuindo ainda mais para a insegurança alimentar. As fontes de água não são apenas limitadas, mas estão contaminadas, o que torna o consumo de água potável um desafio para muitos palestinos. O acúmulo de resíduos sólidos nos aterros sanitários improvisados próximos aos acampamentos para pessoas deslocadas internamente, nas províncias centrais e em Khan Yunis, causou grave contaminação por bactérias coliformes totais e fecais, confirmando a chegada de esgoto não tratado e lixiviados altamente tóxicos ao reservatório de água subterrânea.

Esse nível de poluição da água, da terra e do solo levou ao ressurgimento da poliomielite e de outros problemas de saúde perigosos, como a desnutrição e a fome – problemas que poderiam ter sido evitados. Se for permitido que esse ecocídio continue, ele acabará destruindo todos os aspectos da vida em Gaza.

Uma equipe de pesquisadores da Rede Palestina de ONGs Ambientais (PENGON/ FoE Palestina) e da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, lançou recentemente um documento como uma avaliação preliminar do impacto ambiental da guerra de Israel em Gaza.

A Palestina é uma luta pelos direitos humanos e pela justiça climática

A luta contra a ocupação israelense, baseada na exploração ilegal das terras e dos recursos naturais palestinos, é uma luta de libertação.

A abordagem das questões ambientais não pode ser separada do reconhecimento do direito dos povos à soberania nacional em suas próprias terras. A luta pela libertação palestina está interconectada com os movimentos globais que defendem os direitos indígenas, os direitos à terra, a luta contra o setor de combustíveis fósseis e o colonialismo climático.

Chamado para ação

Em solidariedade à nossa organização membro, PENGON, e a todas as pessoas afetadas, a Amigos da Terra Internacional está convocando uma mobilização internacional para demandar a todos os governos, especialmente aos poderosos aliados de Israel:

  • Exigir um cessar-fogo imediato e usar todos os mecanismos diplomáticos e econômicos à sua disposição para impedir os ataques de Israel a Gaza, começando pela interrupção da venda de armas a Israel para evitar mais mortes e danos à terra, e considerando suspender as relações econômicas com Israel e empresas israelenses e cortar os laços diplomáticos.
  • Exigir que o governo israelense interrompa o uso de produtos químicos, bombas e qualquer arma que continue a prejudicar a vida do povo palestino, suas terras, a biodiversidade e o meio ambiente em geral nos próximos anos. Medidas urgentes precisam ser tomadas para proteger o território antes que mais danos irreparáveis sejam causados.

  • Exigir que Israel respeite a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que afirmou inequivocamente que a ocupação israelense da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e da Faixa de Gaza é ilegal e deve terminar imediatamente

Você também pode apoiar a luta fazendo uma doação para a PENGON por meio desta página de arrecadação de fundos da Friends of the Earth International. Sua doação apoiará o trabalho da PENGON/Friends of the Earth Palestine e fornecerá recursos extremamente necessários aos palestinos em Gaza, levando energia verde aos campos de refugiados e facilitando a instalação de sistemas de purificação de água.

 

Cessar fogo já! Presidente Lula: rompa com os acordos comerciais e militares do Brasil com Israel

1 ano do genocídio televisionado do Estado de apartheid de Israel na Palestina

No último ano, o mundo assistiu Israel cometer executar um genocídio televisionado em Gaza. A violência que reverbera na mídia desde 7 de outubro de 2023, há mais de um ano, não começou naquela data. É a continuidade do projeto colonial e racista do Estado de Israel, diretamente financiado pelos Estados Unidos e países europeus para promover limpeza étnica e apartheid social aos palestinos, a fim de defender seus interesses econômicos e de dominação política na região. A luta do povo palestino por sua autodeterminação e direitos é histórica. No marco de um ano, vemos a aniquilação quase total em Gaza, com milhares de mortos e moradias, hospitais, escolas, centros médicos e universidades tombadas pelo complexo industrial militar prisional, que é marca do Estado de Israel. O terror também se estende na Cisjordânia ocupada, e está estampado na invasão terrestre e nos ataques de Israel ao Líbano e na ameaça de escalada de violência no Irã. 

Embora seja realidade há 76 anos, numa Nabka ampliada, o pesadelo real vivido pelo povo palestino tomou novas proporções no último ano, marcado pela ineficiência mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo multilateralismo internacional. Escolas, hospitais, ambulâncias e campos de refugiados palestinos foram bombardeados sem trégua pelo Estado de Israel. Gaza teve a luz e a internet cortadas. A falta de água e o bloqueio da chegada de alimentos, medicamentos, combustível e suprimentos para a população sangram o cotidiano no território, onde o povo palestino luta entre lonas e escombros para sobreviver.  

De acordo com dados da mídia, desde 7 de outubro de 2023, bombardeios e invasões terrestres resultaram no assassinato de mais de 42 mil palestinos pelas forças militares israelenses em Gaza. A maioria das vítimas são mulheres e crianças. No entanto, contabilizando a fome, doenças, bloqueios na chegada de medicação e de assistência médica, estudo publicado pela revista The Lancet, renomada revista científica de medicina a nível mundial, aponta que o número de palestinos assassinados por Israel é muito superior ao divulgado, e estima que cerca 186 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas em Gaza. 

O que está em curso desde o começo da Nabka tem nome: colonização. O genocídio palestino se intensificou do último ano para cá, com Israel expandindo seu território e ataques na região. Este é representado pelos interesses econômicos e geopolíticos imperialistas dos Estados Unidos da América (EUA) e países europeus, com destaque para Inglaterra, que não apenas são cúmplices, mas agentes do terror: financiam o poderio militar de Israel com investimento militar na casa de bilhões de dólares e euros. Governos e grandes empresas e corporações do Norte Global, especialmente dos EUA e da Europa, tornam possíveis os crimes do Estado de Israel armando, financiando e protegendo o estado sionista de sua responsabilidade. A parceria na desumanização do povo indígena palestino, assim como na repressão dele, também vem de meios de comunicação cúmplices. Acabar com essa cumplicidade é um imperativo.

Nesta semana de manifestações em todo o mundo, a Amigas da Terra Brasil (ATBr) denuncia o projeto supremacista do Estado de Israel e a impunidade corporativa por trás das violações de direitos contra o povo palestino. Condenamos os ataques contra o povo palestino e a ocupação ilegal de seu território pelo Estado de Israel, promovida com racismo, limpeza étnica, genocídio e apartheid, e nos somamos à campanha internacional pelo cessar fogo já! O massacre do povo palestino e a ausência de um fim real aos ataques militares afeta tanto a palestinos quanto a classe trabalhadora e a sociedade civil israelense, que vivem com medo e mobilizados pela liberdade de seus reféns, situação que não foi solucionada com o agravamento dos ataques à Gaza pelo Estado de Israel.

É urgente toda a nossa solidariedade ao povo palestino, que deve ser convertida em ações práticas de mobilização e pressão popular pelo cessar fogo e pelo direito de ser e de existir. A Amigas da Terra Brasil se soma à iniciativa do Movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e convoca a quem quer o fim do massacre em Gaza e contra os palestinos a pressionar governos e desafiar megaempresas e instituições cúmplices dos crimes do Estado de Israel. Reforçamos o movimento de solidariedade global nos esforços de boicote, desinvestimento e sanções para isolar o apartheid israelense e suas instituições cúmplices em todas as frentes. 

Cobramos que o Brasil e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva assumam compromissos  concretos em solidariedade ao povo palestino, rompendo as relações comerciais e militares com Israel. Não podemos aceitar que, após 124 países terem aprovado sanções a Israel na Assembleia Geral da ONU, incluindo o Brasil, apenas 3 países as tenham implementado: a Turquia, com a proibição da venda de petróleo, além da Malásia, que embargou o trânsito de embarcações com armamentos a Israel, e da Colômbia, que freou a compra de armas de Israel. No caso colombiano, se destaca também a posição do país em decretar o fim da exportação de carvão, fato que descontentou a Glencore, uma empresa multinacional anglo-suíça de commodities de mineração, conhecida por ser a maior companhia global de recursos naturais diversificados. A corporação não quer cumprir com a política de boicote à Israel do governo de Gustavo Petro e Francia Márquez, o que evidencia o poder das transnacionais, que não respeitam as soberanias dos Estados.  

As mesmas armas que matam a juventude negra e da periferia no Brasil, assim como ameaçam territórios de vida aqui, vêm de Israel. O avanço da militarização na América Latina, seja no sistema prisional, na contenção de manifestações civis por direitos, no treinamento militar, na violência no campo contra o campesinato e contra indígenas e povos tradicionais que lutam por seu território, têm relação econômica e comercial direta com Israel. Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo e após bombardeios, com novas tecnologias testadas, Israel promove feiras bélicas e lança novos produtos de guerra no mercado. O disparo que crava a morte em corpos palestinos, do outro lado do globo terrestre, tem nas armas e nas balas o selo das mesmas empresas israelenses que fazem a morte aqui. Pela soberania dos povos e pelo direito de serem e existirem, essa conexão precisa ser exposta. A luta é pela Palestina Livre do rio ao mar, e conflui entre todos territórios que resistem.

As raízes de nossa esperança estão nas décadas de resistência do povo palestino, na ampliação do poder popular que vem das comunidades nos territórios e na solidariedade internacionalista. Entre outros significados, como resiliência, a palavra árabe Sumud significa “permanecer firme na terra”. É adotada como estratégia política de resistência, assim como forma de vida palestina, entrelaçada ao território. Para que a palavra seja viva, e pela dignidade dos povos e territórios de vida, seguimos na construção dessa luta e com os punhos ao alto pela Palestina Livre.

06 de outubro de 2024: Solidariedade real com Palestina no encontro de Amigos da Terra Internacional, no Sri Lanka

Cessar fogo já! Pela libertação do território e do povo palestino!  Exigimos que o presidente Lula rompa relações comerciais e militares entre Brasil e Israel

Amigas da Terra Brasil, 10 de outubro de 2024

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