A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer

A Aliança Feminismo Popular desde seu início tem se pautado na luta pela autonomia das mulheres em seus territórios, o enfrentamento às múltiplas crises sistêmicas ao mesmo tempo em que tem construído junto às mulheres espaços de diálogos para um olhar coletivo para a problemática da violência e do racismo estrutural.

Nestes dias de ativismo que vão desde o 20 de novembro – Dia da Consciência Negra e passa pelo 25 de novembro – Dia de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres – denunciamos a misoginia, o racismo estrutural, o feminicídio também como uma forma de mostrar o absoluto descaso do governo federal frente às desigualdades e a falta de politicas públicas que respondam a tudo isto. E o que é ainda mais grave, o avanço da extrema direita, com o aval do Governo Federal, trouxe ainda mais insegurança e violência para a vida das mulheres, das mulheres pobres, das mulheres jovens e sobretudo das mulheres negras.

Ao mesmo tempo que chegamos ao final de 2022 renovadas de esperanças, depois de enfrentar nas urnas a necropolítica misógina da extrema direita, as fake news, a compra de votos – saímos vitoriosas elegendo Lula novamente presidente do Brasil e dando sobrevida a nossa recente democracia.

Somos um coletivo forte, irmanadas nesta esperança e com muita vontade de seguirmos na construção de um mundo mais justo e mais igual para todas nós. Com esta força precisamos retomar a agenda de políticas públicas para as mulheres, em especial às de enfrentamento da violência e reconstrução de toda uma rede de apoio necessária para que as mulheres não só rompam o ciclo da violência, como também consigam retomar suas histórias de vida.

 A violência ocorre em todos os lugares da sociedade, seja em casa, nas ruas, no transporte, no ambiente de trabalho, escola, faculdade, clubes, sindicatos, partidos políticos ou nas redes sociais. E atinge as mulheres de todas as idades, raças e classes sociais. É a maior expressão das desigualdades vividas entre homens e mulheres na sociedade, e a raiz disto tudo está neste sistema capitalista, patriarcal e racista que exerce controle, apropriação e exploração do corpo, vida e da sexualidade das mulheres.

A pandemia associada a um governo genocida de extrema direita só fez aumentar a violência contra as mulheres e os casos de feminicídio. É evidente a falta de compromisso e omissão das instituições, dos governos e do sistema judiciário em erradicar a violência contra as mulheres e meninas em nossa sociedade além da compreensão de que as mulheres são sujeitas de direitos e devem assim exercer este direito de forma plena e emancipatória.

Este debate é permanente na agenda da Aliança Feminismo Popular. As denúncias do movimento feminista tem desnaturalizado a violência e a colocado como um tema que deve ser tratado publicamente no âmbito dos direitos das mulheres a uma vida sem violência onde cada vez mais as mulheres reconhecem suas diversas manifestações e denunciam. Outro aspecto muito importante é a compreensão de que a violência não é um fenômeno isolado e individual de um homem contra uma mulher, mas sim um instrumento de controle e disciplina do corpo, da vida e do trabalho das mulheres na sociedade capitalista/patriarcal e racista.

O combate à violência é um compromisso de toda a sociedade, não só das mulheres. Esta luta deve ser de todos os movimentos sociais, todos os dias, numa campanha permanente. Enfrentar a violência contra as mulheres deve ser um compromisso do novo governo e seremos parceiras nesta retomada. Não se trata apenas de punir os homens, mas de mudar toda a sociedade.

🚩 Para avivar a luta e memorar o Dia Latino-americano e Caribenho de Luta Contra a Violência às Mulheres, a Aliança Feminismo Popular preparou o vídeo abaixo e atividades com mulheres em Porto Alegre (RS), que ocorrerão nos próximos dias. Confira o relato das companheiras:

* Conteúdo publicado no blog da Aliança Feminismo Popular (AFP), em: https://afeminismopopular.wixsite.com/site/post/a-viol%C3%AAncia-contra-a-mulher-n%C3%A3o-%C3%A9-o-mundo-que-a-gente-quer 

 

NOTA DE PESAR E SOLIDARIEDADE

A Amigos da Terra Brasil manifesta seu lamento pela perda da companheira Débora Moraes, militante do Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens (MAB). Débora foi mais uma mulher vítima de feminicídio no país, assassinada pelo seu marido em sua própria casa. Não podemos nos calar diante de uma sociedade patriarcal que perpetua a violência contra a mulher em práticas cotidianas. A prisão de seu marido não é a única medida a ser tomada, é preciso que haja a superação do machismo em nossa sociedade. Basta de violência contra as mulheres!

A companheira atuava na Vila dos Herdeiros em Porto Alegre, sendo uma das referências da construção da resistência aos problemas decorrentes da barragem da Lomba do Sabão. Foi uma liderança nas lutas pelo reassentamento e na interlocução com o poder público.

Como organização popular, não abandonaremos a memória de nossa companheira, seguiremos semeando sua luta em toda Porto Alegre, Rio Grande do Sul e no Brasil. Nossa solidariedade aos familiares pela perda, aos companheiros e companheiras de luta.

Seguiremos em luta até que todas as mulheres sejam livres! 

Débora Moraes, presente!! Presente!! Presente!!

Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha: a centralidade das mulheres negras na resistência marca luta anticolonialista e constrói novos horizontes

Reconhecido em muitos países como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, o 25 de julho é um momento de organização, de reflexão sobre a vida das mulheres negras, e também um marco no calendário político antirrasista.  É Dia Nacional de Tereza de Benguela, símbolo da luta das mulheres negras. Tereza, mulher negra responsável por comandar a maior comunidade de libertação de pessoas negras e indígenas da capitania de Mato Grosso. Líder do Quilombo do Quariterê que desafiou o sistema escravocrata português e a coroa por mais de vinte anos. 

No Brasil, a  data foi instituída como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em 2014, durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Data que também reverbera um momento anterior, de contexto mais amplo geopoliticamente. Anos antes, em 1992, mais de 400 mulheres negras se reuniram em Santo Domingo, na República Dominicana, para pautar suas demandas políticas. Construindo pontes entre as suas necessidades, lutas, realidades e vitórias, elas se organizaram no 1º Encontro de Mulheres Afrolatinoamericanas e Afro Caribenhas, onde foi criada a Rede de Mulheres Afrolatinamericanas  e Afro Caribenhas. Momento em que foi definido o 25 de julho como Dia da Mulher Afrolatinamericana e Caribenha. 

Vitória do Quilombo Vidal Martins é marcada pela presença de mulheres

E nessa data tão importante, é preciso exaltar as vitórias dos territórios, que são fruto dos sonhos, da articulação e das lutas das mulheres negras e quilombolas. Aqui no Sul do país, a data de hoje é marcada por mais uma  realização concreta. A Comunidade Quilombola Vidal Martins e Associação dos Remanescentes do Quilombo Vidal Martins (ARQViMa) deu mais um passo na luta pelo reconhecimento dos seus direitos frente à dívida histórica com o seu povo: no dia 21 deste mês, foi publicado no Diário Oficial da União (DOU), a decisão assinada pelo presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em reconhecimento do seu território ancestral, rumo a titulação do primeiro território quilombola na ilha de Florianópolis, em Santa Catarina. 

Mais uma vez, frente a esse processo, celebramos a luta de mulheres como Dona Jucélia e as irmãs Helena e Shirlen. Com forte participação nesse triunfo, elas inspiram com sua trajetória de compromisso na luta por equidade racial, moradia digna, educação, preservação ambiental, uso sustentável do território e pelo bem viver da comunidade e de seus descendentes quilombolas.

O significado dessa vitória reverbera para as demais comunidades quilombolas do estado de Santa Catarina e do Brasil. Que este seja apenas mais um dos dias na construção de um futuro em que se exaltem cada vez mais as vitórias para as comunidades negras. Vitórias essas que são reflexo e fazem eco na luta das mulheres de toda América Latina. 

Luta traz reconhecimento para Quilombo Vidal, com uma vitória importante rumo à titulação do primeiro território quilombola na ilha de Florianópolis, em Santa Catarina

A realidade brasileira evidencia a importância da luta protagonizada por mulheres negras e a necessidade de políticas públicas pensadas a partir das margens

Das inúmeras crises do atual momento, seja econômica, política, social e ecológica,  as mulheres negras e indígenas são a linha de frente. É indiscutível o impacto do aparato repressor do estado em suas vidas e comunidades, especialmente com a militarização contínua que se dá em países como o Brasil. Informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, que foram reunidas em 2021 pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apontam ainda que o desemprego e precarização do trabalho também atingem de forma desproporcional a população negra, sobretudo as mulheres negras

Segundo a Rede Penssan, 10,7% dos lares chefiados por mulheres negras se encaixam no quadro da fome / Créditos da foto: Midia NINJA

Com menor rendimento e menor proteção social, a população negra é a mais exposta ao desemprego no país. A ausência de políticas públicas, somada à instabilidade econômica, amplia a vulnerabilidade social dessas mulheres,  as colocando em risco de maior violência doméstica. E os índices nos últimos anos tornam ainda mais alarmante a situação do feminicídio.

Sem proteção social e sendo maioria nos trabalhos informais, as mulheres negras brasileiras lidam ainda com o aumento das tarifas de gás, energia e água, que deveriam ser bens comuns. Neste cenário, e com o preço elevado dos alimentos e a restrição de seu acesso, que volta a apresentar o Brasil no quadro da fome, as condições de vida vão se enrijecendo. 

Os impactos negativos da pandemia na vida das mulheres negras seguem em curso. Nesse contexto pandêmico, ficou escancarada a crise do cuidado, que traz à tona as desigualdades de gênero, mas recai de forma mais incisiva sobre as peles negras. Também ficou evidente  a necessidade de uma economia centrada na vida. A linha de frente no combate à pandemia foi composta por mulheres na saúde, professoras exaustas com a realidade do ensino a distância e mães com dificuldades profundas em trabalhar e cuidar dos filhos quando as escolas estavam fechadas.  Além de enfrentar feridas de uma lógica colonial como a falta de existência ou de acesso às políticas públicas, o desemprego e a precarização, as mulheres negras continuam sobrecarregadas pelo trabalho invisibilizado da reprodução social e do cuidado.  O que remonta tempos da escravidão: desde lá grande parte do trabalho de cuidado é realizado por mulheres negras, historicamente vinculadas aos trabalhos domésticos. E aqui, vale ainda destacar que a afirmação de direitos trabalhistas para essa categoria é muito recente, assim como o reconhecimento da precariedade do trabalho doméstico. 

Sobretudo, é preciso defender a vida. Foto: Divulgação/EBC

Casos como o da “Mulher da casa abandonada”, reportagem  em destaque nas notícias do último mês, alarmam ainda quanto a realidade da escravidão contemporânea. Mais uma situação aprofundada pela pandemia e por decisões políticas como as reformas trabalhistas implementadas pós golpe de 2016, que tirou do poder a presidenta Dilma Rousseff. 

É imprescindível eleger mulheres negras articuladas com as lutas, com as comunidades, periferias e movimentos sociais

Enquanto as mulheres são 52,5% do eleitorado, apenas 15% das vagas do parlamento brasileiro são ocupadas por mulheres, sendo 2,36% dessas vagas ocupadas por mulheres autodeclaradas negras. Esta realidade denuncia a lógica patriarcal e colonial ainda presente no nosso país, assim como a falta de representatividade das mulheres negras nas instituições brasileiras. Falta essa que repercute na ausência de  políticas públicas e de medidas de reparação histórica. 

Neste ano a Colômbia elegeu a sua primeira vice presidenta negra, Francia Márquez, com uma campanha antirracista centrada na defesa do meio ambiente.  E nós, da Amigos da Terra Brasil (ATBr), acreditamos que é possível viver o sonho de um Brasil com protagonismo de mulheres negras e indígenas, que constroem a política de forma realmente democrática, com participação popular.

Nesse momento chave da política institucional, marcado por mais um ano de eleições, destacamos a relevância de ampliar a representatividade, elegendo candidaturas comprometidas com a causa antirracista, anticolonialista, antimperalista, anticapitalista, contra o patriarcado e  que pautem um horizonte comum.  É imprescindível eleger mulheres negras articuladas com as lutas, com as comunidades, periferias e movimentos sociais.  Fortalecer essas candidaturas e mandatas coletivas, com mulheres negras e indígenas liderando debates a partir da conexão com as lutas por soberania alimentar, agroecologia, ampliação de espaços comunitários, contra agrotóxicos e mercantilização das vidas, pela preservação dos biomas, contra a megamineração e os projetos de avanço do capital, contra a financeirização dos territórios, contra a militarização, pela democratização dos processos e construções populares, por uma economia com a vida no centro, com soberania territorial. Candidaturas que repensam a produção e o consumo e, de fato,  protagonizam as histórias contadas pelas margens. 

Sabendo da dívida histórica com os povos originários, quilombolas, ribeirinhos e com as mulheres negras e indígenas dos territórios, que fazem frente aos projetos de destruição, é preciso revogar medidas como a PEC 95 e tantos outros retrocessos, como as reformas previdenciária e do trabalho, que afetam diretamente essas populações. É necessário fomentar as iniciativas populares, que pautam outras formas organizacionais. Ir além, defendendo e ampliando políticas públicas antirracistas, de reparação histórica e fim da desigualdade. De acesso ao cuidado coletivo, como creches e escolas públicas. Por acesso universal e gratuito a saúde, educação e cuidado de qualidade. Por demarcação de terras indígenas. Pela preservação dos quilombos e suas formas de vida. Por redução na jornada de trabalho, fim da precarização do trabalho e do desemprego.

Sobretudo, é preciso defender a vida. A vida das mulheres negras e de seus filhos e filhas, contra as guerras travadas nas periferias das cidades, como ocorre no Rio de Janeiro. Contra as guerras no campo e nas florestas. Não podemos mais escolher ignorar o racismo que sustenta a nossa sociedade. 

Uma transformação radical emerge com a defesa da vida e dos direitos das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas. Que não tenham mais que ser fortes. Que seu destino possa ser o que se sonhar ser.

Quem fez a sua roupa? A luta contra o poder das corporações

A fragmentação das cadeias produtivas em diversos negócios espalhados pelo mundo construiu grandes cadeias globais de valor. Nós, consumidores finais, não temos consciência de todo o caminho que é percorrido de uma roupa até a loja onde as compramos. Até mesmo os Estados não conseguem ter o controle sobre a totalidade da produção, ficando limitados a regular partes da cadeia que estão em seus territórios. A totalidade desse processo está na mão de grandes corporações transnacionais, as quais concentram riquezas maiores que muitos desses países, juntando poderes político, econômico, cultural. 

Na ponta das cadeias globais estão as maiores violações aos direitos humanos, é precisamente no processo de extração de recursos, e no processo produtivo em si, quando a matéria bruta ganha valor agregado com o trabalho, que são ocultadas as maiores barbáries. Isso porque nossa economia, estando sob o controle das empresas transnacionais, é centrada na obtenção de lucro. Esse afã é sustentado na externalização dos danos socioambientais aos povos, como alguns denominam de espoliação, e na superexploração da força de trabalho. Assim, trabalho precarizado e subalternizado, em condições inadequadas, é a lógica estrutural. As grandes marcas, por sua vez, não querem sua imagem diretamente associada a essa violência, por isso atuam por suas terceirizadas, criando obstáculos para sua responsabilização direta.

Essa é a realidade da indústria têxtil. Recordemos, que em 24 de abril de 2013, desabava o edifício de oito andares Rana Plaza, na cidade de Daca, capital de Bangladesh. O prédio abrigava uma parte da cadeia de produção têxtil de grandes empresas transnacionais fragmentadas em diversas fábricas de precárias instalações. No desastre morreram 1.134 pessoas, das quais 80% eram mulheres que trabalhavam na costura. Restaram, ainda, 2.500 pessoas feridas. 

Em termos de responsabilização, o proprietário do prédio foi responsabilizado penalmente. Algumas das vítimas foram indenizadas por corporações da indústria têxtil, com valores por volta de 200 dólares por família, contudo era obrigação dos parentes conseguir provas de DNA. Uma das respostas construídas ao caso, pela comunidade internacional, foi o Acordo sobre Segurança de Fábrica e Predial em Bangladesh. Das 29 marcas identificadas com produtos das fábricas do edifício, apenas 9 participaram das negociações e da assinatura do acordo, e somente 7 contribuíram para o Fundo Fiduciário do Doador Rana Plaza apoiado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). 

Como o desastre de Bangladesh, vários setores da indústria operam dessa forma cotidianamente, evidenciando que não foi um caso eventual, mas é estruturante do sistema. As grandes corporações têm ditado a lógica econômica centradas na maximização de seus lucros, por meio do estabelecimento de condições precárias de trabalho, da promoção da informalidade dos trabalhadores e das trabalhadoras, da exigência de extensas jornadas de trabalho, entre outros. São elas que acumulam todo o lucro gerado ao longo da extração, produção e circulação de bens e serviços, acumulando o domínio, cada vez mais intenso, dos territórios e o controle da vida. Contam ainda com a constituição de um minucioso sistema de proteção de seus direitos por meio da captura corporativa, dos tratados de livre-comércio e das comissões de arbitragem internacional, compondo a arquitetura da impunidade corporativa global. 

Contra o silêncio que o tempo poderia dar a essa história, a Marcha Mundial de Mulheres (MMM) escolheu o dia 24 de abril como dia de ação global pela solidariedade contra o poder das corporações sobre o trabalho das mulheres, seus corpos e suas vidas. Sendo um dia de luta para desnaturalizar a impunidade, ao colocar rosto e nome nos agentes do mercado que causam violações aos direitos humanos, ao evidenciar a gravidade do controle do poder por parte das empresas transnacionais e em promover a defesa da natureza, da vida digna, do trabalho justo e livre de superexploração. As ações pensadas escracham a hipocrisia da responsabilidade social corporativa, ao passo que constroem exemplos concretos de alternativas ao neoliberalismo, ao organizar processos de construção de soberanias centrados no direcionamento de uma economia para a vida. 

No dia 24 de abril deste ano, está incluída também a denúncia da guerra e de quem se beneficia com ela. O custo de vida no Brasil aumentou exponencialmente nos últimos anos, levando centenas de mulheres a perderem seus trabalhos e se encontrarem sem condições de moradia digna, sobrecarregadas pelas tarefas de cuidado. A solução neoliberal para a crise é o aumento do autoritarismo e o avanço fascista, expresso na guerra “contra o narcotráfico” e na violência da flexibilização da legislação protetiva ambiental para extração de minérios e expansão da fronteira agrícola. Por trás dessas políticas estão empresas transnacionais se beneficiando das políticas de “austeridade” e destruição ambiental. Assim, neste 24 de abril de 2022 as ações são para recordar que existem alternativas à guerra e que tais crises sistemáticas podem ser superadas por meio da solidariedade de classe, com promoção de justiça para todos. É possível construir um mundo no qual todas as mulheres e territórios sejam livres, sem destruir o planeta.

Por onde vamos com esperança: solidariedade feminista em ação

No mês de março um importante passo para a responsabilização das empresas foi dado no Brasil com o PL 572/2022, que prevê a criação de um marco nacional de empresas e direitos humanos. Cláudia Ávila, coordenadora nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), avalia que o PL é uma ferramenta importante para efetivar a aplicação dos mecanismos de responsabilização cível criminal e administrativa de proteção dos direitos humanos não só no âmbito da reparação, mas também, e principalmente, para prevenção das violações de direito. Em sua justificativa, o projeto reconhece a assimetria e os impactos da atuação de empresas na vida das mulheres, bem como prevê mecanismos que podem representar mudanças estruturais no acesso à justiça para atingidas.

A urgência de um PL é para evitar casos como da concessão do Aeroporto Salgado Filho à Fraport, em Porto Alegre (RS), no qual para ampliação da pista do aeroporto removeu, sem nenhuma escuta, nenhuma participação ou chance de escolha da comunidade cerca de 2.000 famílias da Vila Nazaré para local distante, em moradias não condizentes com a realidade das famílias com todo um modo de vida rururbano que há mais de 50 anos construíram não apenas moradias, mas cidade naquela região.

Destaca-se a previsão, no PL, da criação de um Fundo Emergencial para as vítimas, que possa assegurar a recomposição da renda das famílias; previsão de custos para assessorias técnicas; garantias de acesso à água potável, que permitiriam a continuidade de condições de vida digna até a conclusão da reparação integral. Outra previsão fundamental é a inversão do ônus da prova, já que as empresas dispõem de melhores condições de acesso à prova. Se pensarmos essas medidas aplicadas ao caso, por exemplo, de Rana Plaza, os familiares das trabalhadoras mortas não teriam ficado desamparados durante meses posto que contariam com o Fundo. Ademais, a sobrecarga de provar a perda se inverteria à empresa, facilitando o acesso às indenizações. 

A construção de esperanças também nasce das resistências concretas nos territórios, assim a luta contra o poder corporativo é também momento de construção de alternativas desde os povos. Inspirados nisso é que se organiza, desde 2020, a Aliança Feminismo Popular no RS, composta pela MMM, MTST e Amigos da Terra Brasil (ATBr), com apoio do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA). Uma das propostas é a construção de hortas agroecológicas  na ocupação do Morro da Cruz, na capital gaúcha, no apoio à soberania alimentar da comunidade. A militante da MMM e moradora da comunidade, Any Moraes, considera as atividades realizadas neste dia 24 de abril no local, marcado pela Ação de Solidariedade Feminista, como “um momento de nos encontrarmos na horta comunitária do Morro da Cruz num espaço que foi construído por meio dessas ações de solidariedade durante o período da pandemia, quando agravou ainda mais a situação de insegurança alimentar, principalmente das mulheres. É um espaço que tem sido importante para construção de reflexões, e a atividade desse domingo foi o momento da nossa resistência, a nossa luta no enfrentamento às transnacionais e a esses governos de extrema direita que aprofundam cada vez mais o autoritarismo, e avançam com a exploração das nossas vidas, dos nossos corpos e dos nossos territórios”.

Investir na construção de soberania alimentar nas ocupações é uma forma de tecer alternativas concretas para a vida prática das mulheres. Ao longo do dia 24 de abril de 2022, as mulheres da Aliança destacaram a importância do direito à moradia e da alimentação como bens comuns,  afirmando a urgência de avançarmos na produção de alimentos com qualidade e soberania. Letícia Paranhos, militante da Amigos da Terra Brasil e membra da Aliança, esteve presente na atividade do Morro da Cruz. Para ela, foi uma felicidade encontrar o avanço na continuidade da organização pela soberania alimentar na comunidade com o estabelecimento de uma cozinha comunitária, num momento em que no Brasil há tanta fome. Frente ao descaso do governo para com essa agenda, é de suma importância conseguir conversar e organizar, sendo esse um dos propósitos da Aliança Feminismo Popular, o de construir possibilidades dentro dos próprios territórios. 

Feminismo Popular

Há muitos feminismos hoje, inclusive o corporativo. Diversas das marcas envolvidas no desastre em Rana Plaza vendem camisetas de slogans feministas; financiam projetos para “empoderamento” das mulheres; promovem políticas de equidade de gênero em seus códigos de conduta; algumas até incorporam debates LGBTQIA+. Todas essas iniciativas fazem crer que as soluções são individuais, na tomada de autoconsciência do indivíduo, não necessitando de mudanças profundas nas estruturas e práticas de poder. 

O dia 24 de abril é também uma crítica a esse movimento. Pensar que as roupas amplamente vendidas pelas grandes marcas possuem trabalho de alguma mulher do Sul global incorporado. É precisamente essa trabalhadora sem direitos e mal paga que conferiu a costura da peça que você veste, trabalho alienado e invisibilizado (que produz a sua roupa). 

Assim, lutar por um verdadeiro reconhecimento da mulher é pensar um projeto político coletivo que rompa a estrutura do poder corporativo global, que possa trazer dignidade a essa trabalhadora, de tal forma que ela se reconheça no produto do seu trabalho e receba as condições para uma existência plena do esforço do seu trabalho, contando com toda uma rede de proteção social gratuita. Letícia, da Amigos da Terra Brasil, considera que aprofundar os laços de um trabalho coletivo, organizado, para a continuidade das vidas no mundo, é redefinir o direcionamento dos lucros extraordinários para serem distribuídos entre os despossuídos, até que todos e todas possam viver com dignidade. Esse é o feminismo que queremos, popular, por ser feito pelo povo, para o povo e com o povo e, portanto, um projeto de libertação de todas as mulheres, porque como indivíduos somos apenas corpos e territórios expostos a brutas estruturas, mas como coletividade somos sujeitas centrais da transformação da sociedade.  

Resistimos para viver, marchamos para transformar!

* Este é um artigo de opinião publicado no site do jornal Brasil em Fato em 25 de Abril (link aqui).

Confira mais fotos:

Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil
Foto: Isabelle Rieger / Amigos da Terra Brasil

NÃO NOS DÊ FLORES, MAS SIM DIREITOS!

O ato do dia 8 de março em Porto Alegre  foi um dia de luta pela vida, pelo fim da fome, pelo trabalho digno, pelo fim da violência e do racismo, pelo fim da LGBTfobia e por Bolsonaro nunca mais!

O Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, foi marcado pela luta das mulheres em todos os cantos do mundo. No Brasil, mais de 40 cidades marcharam sob o lema nacional: “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”. A luta nacional ocupou os centros urbanos e foi além, articulando a pauta feminista no campo, assim dando voz a batalha pelo fortalecimento da luta pela terra, e principalmente pelo fim da violência de gênero e da divisão sexual do trabalho. Em Porto Alegre não poderia ter sido diferente. A concentração e o início da marcha se deram às 18h, na Esquina Democrática, no Centro Histórico. O evento deste ano, intitulado “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil com Trabalho Digno! Sem Fome, Sem Violência, Sem Racismo, Sem LGBTfobia!”, foi marcado por uma multidão de mulheres guerreiras e que anseiam pelo respeito e igualdade sociais. A marcha lotou seis quarteirões do Centro da cidade e seguiu até o Largo dos Açorianos. Participaram: Comitê Popular/FSR, PCdoB, CUT, CTB, MNLM,Coletivo Olga Benário, CSResistência Feminista, Alicerce, SobreNós, UJS Feminista, Mães pela Democracia, Movimento Mulheres em Luta, Olga Benário, Marcha Mundial das Mulheres, Juntas, Movimento Ocupação Mulheres Indígenas, Fórum Sindical e Popular, MIRABAL, Construção Socialista, Associações Terceirizadas, Movimento em defesa da água no Morro da Cruz , coletivo Peraltas, Unegro, Intersindical, União Brasileira de Mulheres, Emancipa, Pão e Rosas, Livres, UNEGRO  e Movimento Nacional de Luta por Moradia, Afronte, CFCAK, CFCAM, AMNB, Rede Lesbi, Coalizão Negra, UNE, ASSUFRGS, SIMPA, DCE UFRGS, DCE PUC, UEE,  JPL, 39° núcleo CPERS, UMESPA, Sapatá, DCE ULBRA, UBES, SINTRAJUFE, APG – UFRGS, MLB, Movimento correnteza – UFRGS e o Conselho Regional de Serviço Social.

Ato em Porto Alegre. Foto: Heitor Jardim / Amigos da Terra Brasil

“O maior número de pessoas que perde seus empregos, as primeiras a terem que ficar cuidando do lar, dos filhos, do avô, do pai, do neto, são as mulheres que tem esse apelo carinhoso, esse apelo de que elas têm que se doar pra família para além delas mesmas, para além dos projetos pessoais delas”, relata Juliana Motta, coordenadora da Cozinha Solidária de Porto Alegre. Ela explica que a pauta da fome, muito  presente no contexto da marcha do 8 de março de 2022, se torna cada vez mais evidente e importante de ser discutida. “A cozinha solidária atinge um número muito grande de mulheres, porque há um número muito grande de mulheres na rua. Nas hortas que a gente criou tanto no Morro da Cruz como na Ocupação Povo Sem Medo, houve um número muito grande de mulheres inseridas nessa tarefa e iniciativa”, acrescenta. Além disso, a discussão sobre a qualidade da água distribuída nessas mesmas áreas periféricas povoadas por iniciativas em prol das cidadãs e cidadãos porto-alegrenses, foi um marco  do Ato na Capital. “O pessoal do Movimento por Água no Morro da Cruz e nas periferias da cidade levaram uma água podre com esgoto, que é o que está chegando nas torneiras das periferias da cidade. Principalmente no Morro da Cruz, quando chega água, ela tá chegando nesse estado não potável.  O pessoal jogou e lavou a frente da prefeitura com essa água”, destaca Maria do Carmo, integrante ativa da Marcha Mundial de Mulheres (MMM). Any Moraes, mãe, mulher periférica, líder comunitária do Morro da Cruz, da MMM e da Aliança Feminismo Popular, destaca imensa preocupação quanto ao tópico. Ela sublinha que as mulheres periféricas estão entre aquelas que mais sofrem com esta má qualidade ou ausência de água, que no dia 8 de março completou quase 30 dias de estado de emergência. Esta  parcela do público feminino é então impedida de manter uma higiene adequada, acrescida ao quadro de pobreza menstrual por elas já vivido. Além disso, o consumo de água insalubre gera a contaminação de alimentos e, consequentemente, o adoecimento de mais e mais pessoas.

“Falamos na Aliança Feminismo Popular que a luta feminista tem que ser anticapitalista, antirracista, antipatriarcal, anti LGBTfóbica, descolonizante, mas também tem que ser uma luta ambiental, uma luta pela agroecologia, pelo nosso bem viver. Não dá mais pra não pensar que o feminismo tem que estar só conectado numa pauta identitária, só das mulheres, porque a luta das mulheres é a luta contra esse sistema que nos esmaga e nos suga até a última gota de sangue de vida nossa e do planeta”, destaca Maria do Carmo. Por estes motivos, a marcha do dia 8 de março também foi sobre compreender que hoje se grita: “Fora Bolsonaro” porque não queremos um genocida no poder, mas entende-se que o poder político é uma das coisas necessárias para que a luta popular cresça, como explicou Do Carmo. Se precisa de um governo que minimamente dê condições para a população  subsistir, para que a luta popular possa crescer, “pra que a gente possa voltar a respirar, voltar a comer e voltar a poder se organizar e caminhar com a organização popular.”

Ato foi marcado com diversas placas e manifestações. Foto: Heitor Jardim / Amigos da Terra Brasil
Ato foi marcado com diversas placas e manifestações. Foto: Heitor Jardim / Amigos da Terra Brasil

O ato foi também marcado pelo reconhecimento da forte onda de feminicídio que marcou a pandemia devido ao aumento crescente da violência contra a mulher operada pelos períodos de quarentena. “Fizemos um escracho na frente da prefeitura, que foi marcado com a colocação de uma cruz para cada vítima de feminicídio na cidade em 2021. Lembramos as que perderam a vida”, conta Maria do Carmo.  Em 2021, os casos de feminicídio subiram em 21%, e uma pesquisa feita pelo TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul) aponta que a maioria dos assassinatos são cometidos por homens que possuem ou possuíam relações conjugais com essas mulheres, portanto, a pauta não poderia ter deixado de fazer parte do evento. Ao redor do Brasil, capitais como Recife e Rio de Janeiro se destacaram durante o Dia Internacional da Mulher. Na capital pernambucana, ocorreu a ocupação, pelo Movimento de Mulheres Olga Benário (MMOB) de um imóvel abandonado para a criação de uma Casa de Referência para mulheres vítimas de violência. Esta foi nomeada como “Centro de Referência Soledad Barrett”. Enquanto isso, na capital carioca, o mesmo movimento inaugurou a Casa de Referência para mulheres vítimas de violência, nomeada “Centro de Referência Soledad Barrett”. 

“Fomos nós, mulheres, que dissemos ELE NÃO, que nos levantamos contra os Golpes, inclusive para além do Brasil, que fizemos resistência ferrenha ao desgoverno, ao conservadorismo de ultra-direita neoliberal, ao fascismo representado pelo atual presidente. Nessa marcha uma vez mais gritamos: Bolsonaro NUNCA MAIS! E se algo ficou muito nítido é que nós mulheres seguiremos mobilizadas para derrotar esse projeto político de morte.”, fala Letícia Paranhos da Amigos da Terra Brasil e AFP. Os atos, os encontros, as vozes nas ruas e nas redes demonstram uma vez mais que o povo estará mobilizado para mudar o cenário político e econômico do país e que sem justiça de gênero não há justiça.    

Faixa da Aliança Feminismo Popular. Foto: Heitor Jardim / Amigos da Terra Brasil

Entre rosas e espinhos, prazer: mulher!

8 de março é dia de luta pela vida, luta pela vida, pelo fim da fome, pelo trabalho digno, pelo fim da violência e do racismo, pelo fim da LGBTfobia e por Bolsonaro nunca mais! Ato em Porto Alegre (RS) terá concentração a partir das 18 horas, na Esquina Democrática, no centro da Capital. Participe!

Acesse o manifesto nacional “Pela Vida das Mulheres – Bolsonaro Nunca Mais” deste 8 de março clicando AQUI.

“Na minha época, a mulher só tinha o direito de apanhar calada”, disse a voz do milênio, Elza Soares em bate-papo em 2016 com o site EGO ao falar sobre feminismo. Somos mães, filhas, avós, netas, sobrinhas, somos bruxas, mulher é resistência. Tentaram nos queimar na fogueira da desigualdade, quiseram desvalorizar nosso trabalho. As mulheres brasileiras ganham um salário cerca de 19% menor do que o dos homens para cumprir as mesmas tarefas, sendo que no mercado das grandes remunerações do país, essa diferença chega a 33%. Neste 8 de março, nossa voz ecoará em prol da vida, do respeito, pelo fim da violência, pelo fim da fome, pela pela correta divisão perante o trabalho não remunerado (doméstico) e, especialmente neste ano de eleições, por Bolsonaro nunca mais!

“Ser mulher é difícil. Negra, ainda mais. Mas, se você parar porque é negra e é mulher, não chega a lugar nenhum!”, dizia Elza Soares. A pandemia da Covid-19 impactou a sociedade negativamente das mais diversas formas, mas seria impossível não se ater ao que aconteceu com as mulheres. O aumento do tempo despendido no ambiente doméstico provocou uma sobrecarga de tarefas para o público feminino, especialmente para as mães. Segundo relatório da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e da Gênero e Número, mais da metade das brasileiras se tornou responsável por alguém na pandemia. No caso daquelas que vivem em áreas rurais, essa estimativa chega a 62%, podendo ser ainda pior para as mulheres negras residentes de periferias que muitas vezes têm ainda menos suporte no cuidado com os filhos e com a casa. De acordo com uma pesquisa liderada pelo Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), responsável por avaliar os impactos da Covid-19 sobre a saúde do trabalhador brasileiro, as mulheres realizaram, em média, 4 horas de trabalho doméstico por semana a mais do que os homens! Ofício esse que não só não é remunerado como ainda é desvalorizado, visto como uma espécie de “obrigação natural” feminina. O que sabemos ser uma falácia para a manutenção das assimetrias de gênero e que geram uma sobrecarga de trabalho e adoecimento psíquico as mulheres.

“Mulheres, chega de sofrer calada. Ligue 180. Machistas não passarão, acabou para vocês”, provocou Elza Soares no Rock in Rio 2019. Em 2021, os casos de feminicídio subiram em 21%, e uma pesquisa feita pelo TJ-RS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul) aponta que a maioria dos assassinatos são cometidos por companheiros e ex. O aumento dos casos foi motivado pela maior convivência doméstica decorrente da pandemia do Coronavírus. O ano acaba de começar e só em janeiro de 2022, já foram registrados 10 feminicídios consumados e 20 tentativas no RS, de acordo com o Observatório Estadual de Segurança Pública do RS. Tanta violência é motivada pela atroz gestão do presidente Jair Bolsonaro, governante reconhecidamente machista, homofóbico, xenofóbico, racista, misógino entre muitos outros adjetivos dignos de terror. Tanto sofrimento demonstra a tamanha falta de dignidade conferida à mulher brasileira. Por este motivo, a Aliança Feminismo Popular (AFP) – articulação em que integram mulheres da Amigos da Terra Brasil, Marcha Mundial de Mulheres e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto –, entre tantas organizações e grupos de ativistas, luta pela vida, justiça e pela independência da mulher, com ações realizadas ao longo deste último ano focadas em fortalecer a economia feminista e a soberania alimentar nas periferias de Porto Alegre (RS).

“Vim do planeta fome e continuo no planeta fome. É um país desigual, é uma coisa horrível, a gente vive nisso”, dizia a cantora Elza Soares. Enquanto Bolsonaro desgoverna o Brasil, a luta pela fome se torna ainda mais vigente no país. Segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), entre 2018 e 2021 o valor dos alimentos subiu, em média, 43%, e a pandemia é responsável, junto às ações de desmonte de políticas públicas para abrandar a desigualdade promovida pelo governo, por boa parte do agravamento deste cenário. O coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), economista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador Nilson Maciel de Paula, relata em entrevista ao jornal Brasil de Fato que o cenário de insegurança alimentar em 2022 tende a se agravar mais ainda. Segundo ele, as perspectivas são de agravamento da fome motivada pela combinação da inflação com a ausência de demanda. A pandemia e o descaso do governo fizeram crescer ainda mais a importância de ações como a implantação, em 2021, das Cozinhas Solidárias, projeto do MTST (Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto), e das Hortas Comunitárias, tendo como exemplos de maior sucesso a do Morro da Cruz e a do Condomínio Irmãos Maristas, na Zona Norte de Porto Alegre, articuladas pela AFP, pela MMM, pela Amigos da Terra Brasil e pelo MTST. As hortas mobilizam mulheres de todas as categorias, desde mães de família a jovens estudantes em idade escolar, e incentivam a luta pela soberania alimentar e, consequentemente, por uma independência financeira alimentícia maior em meio ao crescimento exponencial da fome no Brasil. Isso porque, em 2021, segundo o Dieese, a taxa de desemprego entre as mulheres bateu um recorde, chegando a 16,8% e a 19,8% para as mulheres negras.

Pela vida das mulheres, pela justiça, por Bolsonaro nunca mais, pelo fim da escalada da fome, pelo fim da violência e por tantos outros temas queridos à luta das mulheres, a Amigos da Terra Brasil, a Marcha Mundial das Mulheres, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto em Aliança Feminismo Popular convocam para o Ato do dia 08 de Março! Vamos juntas e juntos transformar a realidade e construir ações que tragam esperança frente a este triste cenário!

SOME-SE NA LUTA!

Marcha Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil com Trabalho Digno! Sem Fome, Sem Violência, Sem Racismo, Sem LGBTfobia!
Dia e horário: 08/03, às 18h
Concentração a partir das 18h na Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre

Participe!


* Texto retirado do blog da Aliança Feminismo Popular (AFP): https://afeminismopopular.wixsite.com/site/post/entre-rosas-e-espinhos-prazer-mulher

Por uma moradia estudantil digna, universitários indígenas ocupam Casa do Estudante Indígena!

A ocupação da Casa do Estudante Indígena em Porto Alegre (RS) foi iniciada neste domingo (6/03), por universitários indígenas dos povos Kaingang, Xokleng e Guarani. A retomada ocorre por demanda antiga de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que impossibilita que crianças habitem, junto às mães estudantes, a Casa do Estudante Universitário (CEU). O regimento interno da CEU não permite  a permanência de crianças nas dependências, o que coloca as estudantes em uma difícil situação. Há relatos de crianças escondidas na moradia universitária, o que acarreta na intimidação das mães por parte da coordenação da moradia e de alguns moradores, e um ambiente insalubre para o desenvolvimento infantil. 

Compõem o coletivo que ocupa a Casa do Estudante Indígena 50 estudantes, dos 75 universitários indígenas que estão na UFRGS. Destes, a maioria são mulheres com crianças. Hoje, no Dia Internacional da Mulher, é necessário que se apoie a luta em defesa dos direitos das mães estudantes e de suas crianças. Não é admissível que uma universidade, com toda a gama de diversidade de alunos, não ofereça a possibilidade de permanência para os estudantes indígenas. Que não dê a eles espaços de acolhimento, nem respeite sua cultura e formas de viver. 

Em conversas com os estudantes, Tailine Franco, graduanda em Odontologia pela UFRGS, reitera que a reivindicação  de uma casa do estudante indígena é antiga entre  os universitários. Afirma que os estudantes não têm resposta concreta das instâncias da faculdade frente à situação visível da falta de possibilidade de permanência das mães com crianças e da comunidade indígena em geral na universidade. “Só iremos sair daqui com uma resposta”, diz Tailine, “pois não adianta a universidade garantir a vaga e não o acesso”. 

Angelica Kaigang, mãe e mestranda em Política Social e Serviço Social, também pela UFRGS, coloca que, na pós-graduação, as condições de permanência são ainda menores. Não há quase nenhuma política pública para pós-graduandos. “Ao vir de nossas aldeias, não temos acesso a nenhuma política pública específica para educação. Viemos dos nossos territórios e ficamos desassistidos de tudo”, complementa.

Tailine Franco (acima) é estudante de Odontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foto: Isabelle Rieger/Amigos da Terra Brasil 

Solidariedade popular está presente na ocupação. Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) entregou diversas marmitas para estudantes e apoiadores

Na segunda-feira (7/03), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) distribuiu marmitas produzidas  pela  Cozinha Solidária da Azenha. As cozinhas solidárias são iniciativas do movimento para alimentar as populações vulneráveis. Em 2020, cerca de 50% dos brasileiros sofriam algum tipo de insegurança alimentar, segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Sendo assim, a rede de alimentação solidária possibilita que, mesmo diante da falta de ações por parte dos governos em geral e, especialmente do  Federal de Bolsonaro, para tirar o país do Mapa da Fome, as pessoas em maior situação de vulnerabilidade consigam se alimentar de forma digna, construíndo, desta forma, solidariedade popular. 

Marmitas da Cozinha Solidária da Azenha, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), são entregues na Casa do Estudante Indígena. Foto: Isabelle Rieger/Amigos da Terra Brasil 

Para apoiar a Ocupação, ajude  com doações! 

PRECISA-SE DE: alimentos e utensílios de cozinha, botijão, água, fios, canos, compensados, martelos, pregos, produtos de limpeza, sacos de lixo, luvas, vassouras. 

CONTRIBUA COM QUALQUER VALOR:

PIX: CPF: 03478244048
Jaqueline de Paula

Pix celular: 54 996265542
Viviane Belini Lopes

CONTATOS:
(48) 98857-2882
(47) 99743-0515

Injustiça que sangra

Nesta 5ª feira (7/10), o presidente  Jair Bolsonaro vetou o PL 4968/19, já aprovado pelo Congresso Nacional, que garantia a distribuição gratuita de absorventes para mulheres de baixa renda. Mais um ataque ao direito à saúde das meninas e das mulheres pobres e que mais necessitam de ajuda!

“O Brasil tá complicado. Eu acho até uma ofensa a gente precisar estar discutindo isso, parece até que estamos na Idade Média”, declara a militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres e atuante na Aliança Feminismo Popular, Cláudia Prates. Nesta quinta-feira, dia 7 de outubro, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, vetou a distribuição gratuita de absorventes para mulheres de baixa renda. A medida de disponibilização desses artigos de higiene estava prevista no Projeto de Lei 4968, de 2019, aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. 

No lugar de aprovar uma iniciativa que seria prática e eficiente para a saúde das mulheres, o presidente sancionou a criação de um Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual com uma “estratégia” para a “promoção da saúde e atenção à higiene feminina”, como coloca. Tal programa irá proporcionar a implementação de “campanhas informativas e de conscientização da população acerca da importância do tema”, medida claramente desprovida de qualquer auxílio ou mudança no cotidiano daquele que seria o público-alvo do projeto. “Tem mulheres que usam miolo de pão, que usam jornal, que usam panos laváveis e reaproveitáveis para conseguir utilizar no período da menstruação”, explica Prates. Mesmo assim,  o presidente insiste em descartar a solução adequada. 

“Esse conceito de pobreza menstrual é a falta de acesso das mulheres e meninas à compra e ao uso do absorvente, e também está relacionado a todas as questões de riscos à saúde que podem decorrer do uso de jornal como absorvente, por exemplo”, explica Cláudia. Segundo a Unicef (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância) em enquete realizada com pessoas que menstruam, 62% afirmaram que já deixaram de ir à escola ou a algum outro lugar de que gostam por causa da menstruação, e 73% sentiram constrangimento nesses ambientes. Mesmo assim,  enquanto este homem, embebido pelas bases do patriarcado e do machismo, se recosta confortavelmente na cadeira de seu escritório para trabalhar, incontáveis alunas de escolas da rede pública passam desconforto e vergonha enquanto deveriam poder estar focadas apenas no estudo. “Quase 200 mil alunas estão totalmente privadas de condições mínimas para cuidar da sua menstruação na sua escola” (Unicef Brasil). Ao mesmo tempo, mulheres em situação de rua ou de vulnerabilidade social extrema, presidiárias e adolescentes internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa sofrem mensalmente e ficam ainda mais vulneráveis. 

Bolsonaro declara que a distribuição de absorventes contrariava o interesse público por não existir “compatibilidade com a autonomia das redes e estabelecimentos de ensino”. Relata que o PL não apresentava indicação orçamentária, medida compensatória ou fonte de custeio dos dispositivos, apesar do projeto originalmente apresentado colocar as dotações disponibilizadas anualmente pela União ao funcionamento do SUS (Sistema Único de Saúde) como fonte de recursos financeiros. Contudo, a falta de produtos femininos de higiene básica não é discutível, mas sim um problema de saúde pública. “É muito sério, é muito grave, é muito mais do que uma perfumaria. Isso é um item de cesta básica, é um item primordial na vida das mulheres, ao qual elas deveriam ter acesso”, sublinha Prates. 

É de grande importância incluir o assunto de forma correta dentro das organizações feministas. Como explica Cláudia Prates: “A pobreza tem cara de mulher, e cara de mulher negra. Falamos sobre os direitos sexuais e os direitos reprodutivos, a falta de acesso das mulheres à informação, à falta de conhecimento das mulheres sobre o seu corpo, não conhecerem os direitos e as políticas públicas em relação à pílula do dia seguinte, ao aborto legal… O absorvente, fornecido de forma gratuita para as mulheres carentes, tem que estar na nossa pauta também quando a gente fala de tudo isso, não pode estar desconectado”.

A Unicef declara que “todas as pessoas que menstruam têm direito à dignidade menstrual, o que significa ter acesso a produtos e condições de higiene adequados”. Ou seja, em um dia como este, em que a liberdade menstrual foi mais uma vez negada às mulheres, ficar calada não é uma opção viável. Precisamos seguir enfatizando a importância do acesso de mulheres e meninas a itens de higiene, saúde e outros já disponibilizados gratuitamente nos postos de saúde. Distribuir e falar sobre absorventes não deve ser tabu ou motivo de vergonha, faz parte da vida das mulheres. É direito de todas,  e é dever do Estado garanti-los. Isto é urgente!

O direito de ser: toda solidariedade às mulheres afegãs!

O grupo fundamentalista islãmico Talibã, expulso de Cabul há 20 anos pelos Estados Unidos (EUA) após os ataques de 11 de setembro de 2001, tomou o Afeganistão e reassumiu o poder. Há dias, notícias invadem diariamente os olhos de todos, uma enxurrada de medo, terror e desesperança. O ex-presidente, Ashraf Ghani, fugiu do país após se render pacificamente ao cerco do Talibã, já aguardado desde o anúncio do presidente estadunidense Joe Biden de que retiraria todas as suas tropas do país até 11 de setembro deste ano. Sua cadeira mal esfriou e, horas depois, o grupo entrou no palácio presidencial na capital Cabul, tomando o controle já no domingo, dia 15 de agosto. Desde então, os governos do mundo todo agora trabalham para retirar seus cidadãos do país o mais rápido possível, lotando o aeroporto e provocando cenas chocantes, como pessoas escalando janelas de aviões para conseguirem entrar. Tiros aconteceram, existem rumores inclusive de que uma parte do local tenha pegado fogo, segundo a CNN Brasil. 

Com o retorno do Talibã ao poder, o qual se organiza em forma de milícias religiosas, as grandes vítimas são as meninas e mulheres. Elas, que sangraram por seus direitos, como o exemplo de Malala Yousafzai, que com apenas 14 anos de idade, levou um tiro por estar lutando pelo direito feminino à educação. Isso não foi novidade, pois, antes dela, muitas mulheres lutaram para conquistar seus direitos mesmo anteriormente ao Talibã e outras forças religiosas extremistas serem criadas e fortalecidas para derrubar o primeiro governo popular do país nos anos 1980. 

Já tendo sido uma questão de livre arbítrio religioso no Afeganistão, as burcas hoje se tornaram uma ordem, não mais uma opção. Estudantes em idade escolar e jovens universitárias já precisaram se despedir de seus estudos, sem saber se algum dia irão retornar. Elas estão se escondendo, apavoradas com a perspectiva de serem obrigadas a se casar com comandantes talibãs, como já foi pedido a todas as famílias com mulheres solteiras, que foram ordenadas a entregarem suas filhas. Zarifa Ghafari, a primeira prefeita mulher do Afeganistão, espera temerosa que uma perseguição do grupo terrorista a atinja. “Eu estou esperando que o Talibã vá até pessoas como eu e me mate”, relata em entrevista ao  i News. Ela explica que não tem ninguém que possa salvá-la, e espera sentada em seu apartamento com a sua família, aguardando que o ataque aconteça. A líder não pode deixar a sua família, e adiciona: “além do mais, para onde eu iria?”.  

O Talibã, em seus discursos televisionados, insiste em dizer ao mundo que ninguém será prejudicado, que as mulheres terão seus direitos assegurados de acordo com a sharia (lei islâmica), com algumas concessões a mais. Contudo, enquanto tais palavras são ditas, assassinatos acontecem como forma de vingança, mulheres são demitidas de seus empregos e as famílias tentam fugir enquanto há tempo, embora hoje já seja possível dizer que as horas para se salvar, já acabaram.

É um momento de muita tensão e que demanda solidariedade ao povo afegão e, especialmente, às mulheres afegãs. Como já disse a escritora feminista Simone de Beauvoir, no sistema capitalista, basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados e, muita vezes, tirados. O destino de nossas irmãs está sendo  traçado, da pior maneira possível, com o punho de ferro do patriarcado em riste. Não podemos deixar que décadas de luta das mulheres no Afeganistão pela conquista de direitos sejam jogados fora. 

Não podemos mais permitir que mulheres sejam tolhidas de seus direitos! Gritemos e lutemos com as mulheres afegãs!


CONFIRA MAIS NO DEBATE PROMOVIDO PELA MARCHA MUNDIAL DE MULHERES (MMM) NO RIO GRANDE DO SUL (RS) E PÃO COM OVO SOBRE A TEMÁTICA TALIBÃ E MULHERES NESTE LINK >> https://fb.me/e/IFkhf3Wx?ti=wa

JUSTIÇA para Daiane Griá Sales e toda nação Kaingang

Na tarde de quarta-feira, dia 04 de agosto de 2021, no Setor Estiva, da Terra Indígena do Guarita, no município de Redentora, a jovem de apenas 14 anos de idade, Daiane Griá Sales, indígena Kaingáng e moradora do Setor Bananeiras da Terra Indígena do Guarita sofreu um crime bárbaro cometido contra seu próprio corpo. A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e o Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul (Cimi Sul), publicaram no dia 05 de agosto manifestos de repúdio à barbárie e a Amigos da Terra Brasil não poderia deixar de apresentar seus mais sinceros sentimentos e apoio à família, a aldeia e toda toda nação  Kaigang.

O assassinato de indígenas, independente de idade, gênero ou localização geográfica continua sendo presente na realidade dos povos indigenas. O caso do assassinato de Daiane foi um crime não só a um povo, mas também mais uma demonstração da desumanização dos corpos femininos. “Entendemos que os conjuntos de violência cometida a nós, mulheres indígenas, desde a invasão do Brasil é uma fria tentativa de nos exterminar, com crimes hediondos que sangram nossa alma. A desumanidade exposta em corpos femininos indígenas, precisa parar!”, explica a ANMIGA em seu manifesto. Desde a invasão do Brasil por parte dos europeus, o povo autóctone sofre contínua desvalorização e uma tentativa de apropriação física e cultural que ultrapassa todo e qualquer limite. Não é a toa que nosso povo miscigenado tem origem da exorbitante quantidade de estupros promulgados por aqueles vindos da Europa, informação que é até hoje ignorada por muitos e que tem também como consequência a banalização e a naturalização das violências praticadas por um certo setor da sociedade: “Quem comete uma atrocidade desta com mulheres filhas da terra, mata igualmente a si mesmo, mata também o Brasil.” 

Hoje, o Brasil é povoado por 448 mil mulheres indígenas, portadoras da voz de um povo e de uma ancestralidade dilacerada e agredida diariamente pela violência. Ontem, hoje e amanhã elas se mantêm valentes e fortes, motivadas pelo desespero de se manter de pé, de não deixar seu povo morrer e suas bocas serem caladas. As lágrimas são agora derramadas pelo sangue de Daiane Griá Sales, uma vida que era essencial para sua família, para seu povo e para as mulheres, indígenas ou não, que clamam por justiça e que estão cansadas de fugir, de precisar correr da morte. Já é passada a hora de ser necessário sangrar pela vida. 

Nós da Amigos da Terra Brasil somos todes Daiane Griá Kaingang. Ontem, hoje, amanhã e sempre. Lutamos por justiça e medidas de proteção aos territórios e aos direitos dos povos indígenas. Gritemos pelo fim da impunidade frente ao genocído e feminicídio! 

Acesse aqui o Manifesto das Mulheres Indígenas do Brasil

Leia a nota do CIMI Sul em decorrência do cruel assassinato da jovem kaingang Daiane Griá Sales

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