ENCHENTE NO RS: NOTA DE SOLIDARIEDADE E DE URGÊNCIA PELO AMBIENTE E NOSSAS VIDAS!


Mais um episódio de instabilidade, com chuvas intensas, provoca enchente histórica, mortes e muita devastação no Sul do Brasil. Precisamos apoiar as iniciativas de ajuda às comunidades afetadas e trabalhar em sua recuperação, pressionando por políticas públicas que abordem as mudanças climáticas de forma eficaz.


Pela 3ª vez neste ano, um episódio de instabilidade, com chuvas intensas, vitimizou a população e causou muito estrago material, econômico e ambiental no Rio Grande do Sul. Desta vez, fortes chuvas desde o final de semana passado atingiram, especialmente durante a 2ª e 3ª feiras (4 e 5/09), parte da região Norte, Serra e a chamada “região dos vales” gaúcho, marcada pela presença de rios importantes para a produção e reprodução da vida. Também impactou, com menos intensidade, o estado vizinho Santa Catarina.

Neste momento de muita tristeza e dor, expressamos profunda solidariedade com as vítimas e afetados e afetadas pelas enchentes, popularmente referidas por “cheias”, no Rio Grande do Sul. Este é um momento de união e de apoio às comunidades que estão enfrentando as consequências devastadoras desses eventos climáticos extremos, e é o que garante a existência de uma sociedade que se sensibiliza e se solidariza.

Nós da Amigas da Terra Brasil estamos de luto pelas 48 pessoas encontradas mortas até o momento (47 no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina). Também nos solidarizamos às mais de 25 mil pessoas desalojadas e desabrigadas, e cerca de 97 cidades e comunidades destruídas ou impactadas, utilizando nossa voz para exigir a rápida resposta dos governos estaduais e federal e demais autoridades competentes à emergência que afetados e atingidos enfrentam. Nesses locais, pessoas perderam suas casas, bens materiais, locais de trabalho, e pior: suas vidas, familiares, vizinhança, animais de estimação e para produção de alimentos e subsistência econômica, com dificuldades imensas para reconstruir a esperança e suas vidas.

Cidade de Roca Sales, no Vale do Taquari (RS), está entre as mais atingidas pela enchente recente na região. Crédito: Maurício Tonetto/ Secom/RS

Impactados por mais uma tragédia, reforçamos a urgência com que todos e todas nós, sociedade, no Brasil e em todo o mundo, precisamos enfrentar esta crise. Especialistas consideram que o Rio Grande do Sul está passando por um dos maiores desastres naturais de sua história. Esta cheia do Rio Taquari é a pior desde 1941, quando atingiu seu pico; é nessa região que fica a cidade de Muçum, que na enchente desta semana ficou com 85% de seu território debaixo d’água e contabilizou o maior número de pessoas mortas até agora (14 pessoas). 

Conforme dados hidrológicos da CERAN (Companhia Energética Rio das Antas), a Usina Hidrelétrica Castro Alves, localizada entre os municípios de Nova Roma do Sul e Antônio Prado (margem direita) e Nova Pádua e Flores da Cunha (margem esquerda), a vazão do Rio das Antas, na tarde do dia 04/09/23, ultrapassou a chamada vazão decamilenar, o que significa uma vazão que se previa ser atingida a cada 10 mil anos! Essa informação acende um alerta quanto à nossa atual capacidade de sequer prever esse tipo de evento daqui para frente, comprometendo, de maneira dramática, a segurança de infraestruturas sensíveis como barragens, estradas e indústrias, mas também de nossas cidades, localidades rurais e áreas agropecuárias.  

A ocorrência de temporais e ciclones extratropicais faz parte do clima do Sul do Brasil, mas a incidência rotineira e cada vez com maior intensidade e danos alerta que a situação está fora do “normal”. Essas enchentes são um sintoma direto da emergência climática e deixa, mais uma vez evidente, que seus efeitos estão acontecendo agora, não são mais projeções de futuro!  Eventos climáticos cada vez mais extremos estão ocorrendo no Brasil e em todo o mundo, como chuvas intensas e inundações, calor e incêndios, chuvas de granizo destruidoras, tempestades de neve e baixas repentinas. O aumento da temperatura global leva a um maior acúmulo de calor nos oceanos, o que, por sua vez, influencia os padrões climáticos, aumentando a probabilidade de eventos climáticos extremos, como as cheias.

Nesse contexto, é importante destacar a necessidade urgente de ações para encarar a situação como emergência climática. A preservação do ambiente e a mitigação das mudanças climáticas são essenciais para reduzir a frequência e a gravidade desses eventos, como as cheias no Rio Grande do Sul. Além disso, medidas de adaptação, mitigação e prevenção também são necessárias para proteger as comunidades vulneráveis. Governos federal, estaduais e municipais precisam dialogar com as populações nos territórios, que são quem conhece e vivenciam a força da natureza. Devemos parar com as alterações e flexibilizações na legislação, licenciamento e monitoramento ambiental, que governos vêm promovendo para atender apenas a interesses econômicos de corporações, imobiliárias, do agronegócio, energia e da mineração, sem proteger o ambiente natural e nem promover políticas sociais às populações mais empobrecidas.

Não podemos mais desrespeitar as margens dos rios, aterrar cursos d’água e banhados; não podemos mais licenciar desmatamento; precisamos de todo mato, toda a floresta, todo campo nativo possível para garantir o ambiente saudável para nós e para todos os seres que dele dependem e que garantem a estabilidade dos ecossistemas. A solução para a crise climática é garantir terra para os povos, demarcar terras indígenas, titular quilombos, proteger territórios tradicionais, fazer a reforma agrária popular, apoiar a agroecologia; identificar, delimitar e respeitar as áreas de risco e garantir a dignidade das comunidades periféricas.

Hoje, a história se repete. Como na enchente provocada no RS em Junho por chuva extrema de mais de 300mm concentrada em pouco tempo, quando a cidade de Maquiné, no Litoral Norte, sofreu com a cheia do rio, que subiu mais que as médias históricas e encontrou os municípios despreparados para esse acontecimento. Esse mesmo episódio também provocou muitos danos na cidade vizinha Caraá e nas regiões dos rios Caí e Sinos, atingindo populosas cidades próximas e na região metropolitana de Porto Alegre. A solidariedade com as vítimas das cheias no Rio Grande do Sul não deve ser apenas um gesto momentâneo, mas sim um compromisso contínuo. Devemos apoiar as iniciativas de ajuda às comunidades afetadas, colaborar com organizações que trabalham na recuperação e, ao mesmo tempo, pressionar por políticas públicas que abordem as mudanças climáticas de forma eficaz e com o caráter de emergência climática.

Lembramos que, diante da emergência climática, todos somos responsáveis por tomar medidas para proteger nosso planeta e as pessoas que nele habitam, mas atentamos que a emergência não deve passar por cima da participação e da escuta da população. A solidariedade é um passo importante nessa jornada, mas também é crucial agir de forma proativa para combater as causas subjacentes desses eventos climáticos extremos. Afinal, a vida vale mais que o lucro, e cuidar do ambiente natural e das pessoas que nele vivem é uma prioridade que não pode ser ignorada!

Amigas da Terra Brasil

Crédito da foto: Maurício Tonetto/ SECOM/RS

* Texto publicado no dia 7 de setembro, às 12h
* Texto alterado em 8 de setembro, às 11h18min, para atualização do número de vítimas, pessoas desabrigadas e desalojadas e municípios afetados
* Texto alterado em 12 de setembro, às 12h52min, para atualização do número de vítimas, pessoas desabrigadas e desalojadas e municípios afetados

Matéria no jornal Brasil de Fato RS

 

‘Não adianta só passar. Se tu não consegue efetivar a documentação a ser enviada, tu perde a tua vaga’

Estudantes cotistas relatam apreensão referente a matrícula na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Fabiana Reinholz
Brasil de Fato | Porto Alegre |

 

“Eu sou uma jovem mulher negra, quilombola da zona rural de Triunfo (comunidade quilombola Morada da Paz). Eu tenho um sonho de cursar a faculdade, fazer minha graduação. me formar. Para realizar esse objetivo, no ano de 2022, estudei o ano inteiro em cursinho popular, o Emancipa. Vim para a Capital consegui trabalho porque tinha que me sustentar, morava de aluguel. Eu prestei vestibular para a Ufrgs e passei em Nutrição. A partir do momento que eu descobri que eu passei fiquei muito feliz. Mas eu mal tive tempo de comemorar as minhas conquistas porque eu me escrevi como cota L2 (candidatos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas, com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, autodeclarados negros pretos, negros pardos ou indígenas) e ela foi indeferida.”

:: Frustação: estudantes cotistas expulsos da UFRGS relatam sobre perda de vaga ::

O relato é da aluna cotista de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Shanti Rocha Teixeira, uma entre os 160 alunos que tiveram problemas com sua matrícula na instituição.

Em junho deste ano, a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS) se reuniu com um grupo de estudantes ingressantes por cotas na Ufrgs que tiveram suas matrículas desligadas no fim de maio. Os estudantes estavam com a matrícula provisória, quando permanecem com a documentação em análise. À comissão, os representantes dos 160 alunos afetados relataram prazos curtos, dificuldade na entrega de documentações exigidas, falta de instruções e impossibilidade de recorrer das decisões da universidade.

Essa não é a primeira vez que há relatos sobre a questão das cotas na universidade. Em 2021 aproximadamente 200 estudantes que haviam ingressado na instituição através da política de cotas foram desligados da instituição.

Shanti conta que ao descobrir que havia passado em uma das federais mais aclamadas do país, veio a “dor de cabeça” com a documentação a ser enviada. “Descubro que tenho pouco tempo para enviar a documentação de todas as contas bancárias dos meus familiares, e todas as documentações. Sendo assim, na segunda eu descubro que passei, na terça e na quarta eu tomo ciência de toda a quantidade de documentação que eu preciso enviar. E eu não estava sozinha nessa situação.”

Rede de Apoio 

A estudante conta que o cursinho popular que a preparou o ano inteiro auxiliou na documentação, assim como a todos os estudantes que passaram. Também contou com o auxílio do seu núcleo familiar e da comunidade. “Não adianta só passar. Se tu não consegue efetivar a documentação a ser enviada, tu perde a tua vaga.”

Após o envio da documentação, a espera foi longa. “Saem as primeiras bancas, saem as segundas bancas, saem as terceiras e tu nunca acha o teu nome e dizem datas que é para as informações saírem e as informações se postergam. Se tu perde a banca de verificação, por mais que ela seja um procedimento simples, implicará a perda da tua vaga, sem talvez processo de recurso.”

Nessa espera, a estudante passou em quase todos os quesitos, tendo sido reprovada na questão socioeconômica. “Quando fui ver o que faltava, uma era contas da minha mãe que ela havia bloqueado em 2009. Outra, como eu faço parte de uma comunidade de quilombola, existe o CNPJ da instituição, e isso está vinculado ao nome do meu pai, que é o representante fiscal no estatuto da comunidade. Só que essas contas acabaram ficando vinculadas no CPF dele, e foi uma das coisas que a Universidade implicou”.

Ela e a família foram atrás da documentação e com o auxílio do cursinho entraram com recurso junto a Ufrgs. “Eu me encontro com uma das professoras do cursinho e ela me orienta como eu deveria montar as coisas. Muito burocrático, difícil. Eu tive crises de ansiedade, eu pensei em desistir. E mesmo assim eu tive apoio. E quem não tem? Quem não tem uma rede? Um cursinho que possa contar? Núcleo familiar que possa pedir auxílio? Como ficam essas pessoas, a cabeça dessas pessoas, os estudos dessas pessoas”, questiona.

 

“Tem portas que só se abrem pelo lado de dentro”

Shanti relata que o edital é extenso, gerando um processo muito burocrático e etilista. “O que adianta eu incluir tais grupos periféricos, se na hora de colocar tais documentações eu os excluo, porque a quantidade de detalhes mínimos não é para uma pessoa leiga entender”, desabafa.

Ainda não há retorno da Ufrgs sobre o processo. A perspectiva da estudante é de entrar como matricula provisória, apesar de que no início do semestre de 2023, houveram 160 desligamentos de cotistas que tinham matrícula provisória. E segundo Shanti, sem nenhum esclarecimento.

Os alunos desligados estiveram presentes em alguns movimentos na frente da Reitoria que aconteceram neste ano. “O que adianta ter uma política de cotas se ela não inclui, se não tem um processo de acolhimento a esses estudantes, um processo mais humano. Se essa burocracia é tanta que faz com que pessoas desistam de conseguir. Só nesse processo de documentação muitos caem. É um grito de indignação que parece que não chegou aos ouvidos da Ufrgs.”

Shanti tem sonho de ser professora universitária e conseguir movimentar as coisas de dentro para fora. “Tem portas que só se abrem pelo lado de dentro. Eu nem comecei a cursar um ensino superior, mas eu já me deparo com as travas, com as barreiras que querem me impedir de continuar. E o que eles mais querem é que eu desista, sabe, mas eu não vou desistir.”

No meio desse processo, Shanti se inscreveu no SISU para a Universidade Federal de Pelotas onde também passou. “Agora eu me encontro atrás de uma bolsa, para conseguir me manter.”

“Importante também pensar na nossa permanência nesses espaços”

Caso similar ao de Shanti, o estudante Akin Sueht Andrade Kremer, que ingressou no curso de Ciências Sociais em 2019, também sofreu com a ansiedade por conta da documentação. Conforme expôs o estudante, por ser uma uma vaga socioeconômica, ela demanda muitas documentações, muitas das quais ele nunca havia tido contato antes.

“Isso me despertou muita ansiedade, muito desespero por ver que era um período tão curto de tempo. Eu entreguei todas as documentações, já ciente de que eu ia ter que entrar com recurso, porque naquele momento a minha mãe estava fazendo uma transição de um trabalho para o outro e eu não tinha acesso à carteira de trabalho dela.”

O estudante entrou com o recurso em 2019 e só obteve resposta em 2021. No final daquele ano, segundo explica, a instituição pediu outras documentações que não tinham sido solicitadas na primeira vez. “Surgiu uma lista de documentos e eu enviei todos. Na sequência, vieram outros. E aí nessa época a gente ainda estava vivendo várias questões da covid. Minha família inteira pegou o vírus, eu também. Estava fazendo esses cuidados com a minha mãe, com a minha irmã, e eu acabei perdendo o prazo”, relatou.

Ele enviou por e-mail laudos médicos, pedindo que reabrissem o prazo, o que foi acatado, assim como uma entrevista. E de novo mais uma série de documentos, entre eles uma carta a punho escrita pela mãe, afirmando que a família nunca recebeu pensão do pai.

“Acabou que abriram o prazo novamente e me pediram outros documentos, como sobre o apartamento onde a minha mãe mora que foi cedido pela minha avó. Enviei novamente a documentação e depois abriram de novo para que eu enviasse a identidade da minha avó e aí nesse momento eu perdi o prazo. E fiquei indeferido até 2023. Meu processo de análise de documentação levou quatro anos para ser concluído e para ser indefinido. Agora eu estou com uma medida judicial para que o juiz reconheça que eu sou sujeito de direito dessa vaga e que a Ufrgs analise o restante das minhas documentações, porque nessa análise vai comprovar que eu, de fato, sou sujeito de direito.”

Apesar desse transtorno, Akin afirma que vê a política de cotas como um paliativo pra tentar reduzir as desigualdades que estão postas no nosso país. “Pensando que elas são estruturais e estruturantes também. Então quando se traz esse debate sobre cotas nos espaços de ensino, tomada de decisão, ou mercado de trabalho, se faz necessário debater o por que dessa necessidade, o que corpos racializados, periféricos, dissidentes de gênero, com deficiência, tem pra agregar. E os obstáculos que dificultam sua presença nos espaços. Acho importante também pensar na nossa permanência nesses espaços, pois esse debate não pode andar descolado do ingresso”, conclui.

Na espera de resposta 

“Eu estava com a matrícula provisória e tive a minha documentação indeferida com alegação de que não tinha enviado uma declaração de inatividade bancária do meu irmão que na verdade eu enviei. Fizeram alguns cálculos contabilizando as horas extras e o auxílio estudantil da minha mãe. Eles chegaram a me pedir para explicar uma transferência de 5 reais na conta bancária do meu pai”, relata o bacharel em Teatro, Northon Lara.

Atualmente, Northon está indeferido, mas continua indo para aula enquanto está providenciando ação judicial. “Ainda não fui totalmente desligado do sistema, estou aguardando. Entrei com minha liminar e o mandado de segurança saiu semana retrasada, agora estou esperando a resposta da Ufrgs.”


“O que adianta eu incluir tais grupos periféricos, se na hora de colocar tais documentações eu os excluo” / Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O que diz a Ufrgs 

Em relação à questão sobre cancelamento de matrículas provisórias, a Ufrgs esclarece que a Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em atenção ao cancelamento de matrículas provisórias, apresenta os seguintes esclarecimentos, com base no Edital do Concurso Vestibular 2022, disponível em: https://www.ufrgs.br/coperse/concurso-vestibular-2022/.

De acordo com nota enviada pela entidade, em maio de 2023, a universidade encaminhou o cancelamento de matrícula provisória de 159 candidatos que não cumpriram os requisitos previstos no edital dos respectivos processos seletivos e/ou não comprovaram a sua condição exigida na modalidade a qual estavam inscritos, não comprovando assim fazer jus à vaga por eles pleiteada.

“Reiteramos, portanto, que o conhecimento das normas do processo seletivo aos quais os candidatos se inscreveram é fundamental para o cumprimento de todas as etapas do processo de forma adequada. E que, uma vez estabelecidas as regras para um determinado processo seletivo e esclarecidas estas em um Edital, estas devem ser estritamente seguidas por todos e para todos, a fim de preservar a isonomia do processo seletivo”, destaca.

Referente ao aproveitamento das vagas abertas em função do cancelamento da matrícula provisória, a Universidade informa que elas poderão ser ocupadas em outros processos seletivos de ingresso para ocupação de vagas ociosas nos cursos de graduação da Ufrgs, nos termos da Resolução 13/2016 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CEPE, desta Universidade.

Veja neste link a nota completa.

Comissão de Direitos Humanos do Senado aprova PL que renova política de Cotas

A Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal aprovou nesta quarta-feira (30), o Projeto de Lei 5384/2020, que propõe a permanência e o aperfeiçoamento da Lei de Cotas no ensino federal. O Projeto foi relatado pelo presidente da comissão, senador Paulo Paim (PT-RS).

As principais alterações realizadas na Câmara pela relatora, deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG), foram mantidas pelo relator. Destacam-se a avaliação do programa a cada 10 anos, a redução da renda familiar per capita para 1 salário mínimo e a inclusão de quilombolas entre os beneficiários.

A lei original já reserva metade das vagas das universidades e instituições federais para alunos de escolas públicas. A partir dessa reserva inicial, subcotas são criadas para estudantes de baixa renda, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência e, agora, quilombolas.

A autoria do Projeto de Lei é das deputadas federais Maria do Rosário (PT-RS) e Benedita da Silva (PT-RJ), e também do deputado Damião Feliciano (UNIÃO-PB). A parlamentar gaúcha esteve presente durante a aprovação e lembrou a importância da legislação como uma reparação histórica e, também, das perspectivas de futuro para o Brasil. “Com esta Lei, nós estamos tentando oferecer caminhos de esperança, para que todo mundo tenha oportunidades. Nós vamos fazer esse Brasil ser melhor pra todo mundo”, afirmou.

* Matéria publicada originalmente em https://www.brasildefators.com.br/2023/09/01/nao-adianta-so-passar-se-tu-nao-consegue-efetivar-a-documentacao-a-ser-enviada-tu-perde-a-tua-vaga

 

Nota de pesar da Amigas da Terra pelo assassinato de Bernadete Pacífico


Acordamos, na manhã dessa 6ª feira (18/08), com o assassinato de mais uma defensora de direitos humanos, Bernadete Pacífico, liderança quilombola da comunidade de Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filho, região metropolitana de Salvador (BA). Bernadete, de 72 anos, foi assassinada por dois homens na noite anterior, 17 de agosto de 2023, no terreiro que frequentava.

Bernadete é liderança quilombola nacional, foi coordenadora da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e estava em luta pelos direitos territoriais de sua comunidade. A liderança vinha denunciando as violências e ameaças ao seu território, que ceifaram, inclusive, a vida de seu filho, Flavio Gabriel dos Santos, em 2017, com 14 tiros, por homens armados que invadiram o território.

Lamentavelmente, seguimos matando nossas defensoras e nossos defensores de direitos humanos, o povo negro, em nosso país.

A Amigas da Terra Brasil manifesta sua solidariedade a toda a família pela perda, à luta do Quilombo Pitanga dos Palmares, e exige que as autoridades brasileiras tomem providência para investigar e punir os responsáveis.

Quem matou Bernadete?
Quem mandou matar Bernadete?
Justiça por Bernadete! Já!

Amigas da Terra Brasil

 

Nota de solidariedade ao povo indígena Tembé

Em meio às atividades dos Diálogos da Amazônia em Belém do Pará, à 200km de distância, três lideranças indígenas do Povo Tembé foram baleados na segunda-feira, dia 07 de agosto de 2023. As lideranças indígenas se preparavam para uma visita do Conselho Nacional de Direitos Humanos em Tomé-Açu/PA.

Segundo informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT) os disparos foram realizados por seguranças privados de uma empresa exploradora de dendezais na região. Existe um conflito na região entre os indígenas e as monoculturas de palma pertencentes ao grupo BBF (Brasil Bio Fuels), a maior empresa do ramo na América Latina, que mantém operações no entorno com frequente presença de seguranças armados dentro do território indígena.

No dia 04 de agosto um adolescente foi baleado, tendo como principal suspeita a segurança privada da empresa. Em 2021, uma jovem liderança já havia sido assassinada em uma das aldeias. Assim este novo ataque é mais um caso de violência realizada contra o povo Tembé.

Nos dias 08 e 09 de agosto, chefes de estado da região Pan-amazônica estarão reunidos em Belém para a Cúpula da Amazônia, cidade que sediará a  Conferência do Clima, a COP 30, em 2025. Resta saber que medidas adotarão para proteger concretamente os povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais da região vítimas de violência relacionada à operação de empresas transnacionais na região.

Diante da gravidade dos fatos, exigimos que sejam tomadas medidas urgentes pelo governo do Estado do Pará já há muito cobrado, sem efeito, a proteger as comunidades indígenas do Alto Acará. No mesmo sentido, que haja investigação para apurar rigorosamente os crimes, e que os responsáveis sejam punidos. Tendo em visto o histórico conflito territorial, recomendamos que a Polícia Federal acompanhe o caso.

Proteger a Amazônia é respeitar e defender a vida dos seus povos!

Amigas da Terra Brasil
Belém do Pará, 8 de Agosto de 2023

Denúncia, indignação e Solidariedade ao Povo Tembé do Pará na Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia no dia 7/8/2023. Créditos: ATBrasil

No vídeo, Jesus Gonçalves, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), fala sobre a situação de vulnerabilidade e as constantes ameaças que ocorrem ao Povo Tembé:

 

Bienvenidas Amigas de la Tierra Brasil

 

Feminismo Popular y Justicia Ambiental. En la lucha, desmantelando el patriarcado y el neoliberalismo

Asumir nueva identidad significa revisitar el pasado bajo otra perspectiva, alterando también el curso del ahora y del futuro. En ese movimiento que no termina, reflexionamos sobre quienes somos, quienes estamos en este instante y sobre cómo nos organizamos para seguir transformando la realidad. Un cambio que trae la reflexión sobre las posibilidades de un futuro con justicia ambiental, social, económica, de género, y libre de todas las formas de explotación y opresión; y que, en la práctica, construye las posibilidades y alianzas para que este futuro sea posible.

Asumir una nueva identidad pasa por acoger nuestras transformaciones en la historia, en las personas, en nuestras pieles colectivas. Trayectoria que recurre nuestro ser, nuestras ropas, nuestra Casa(nat), nuestras(s) comunidad(es), alianzas, redes y entorno, sea una ciudad, campo, bosques, aguas… el mundo.

Nosotras, la gente que asumió el legado de una organización social en el cambio del milenio, hemos cultivado y resignificado, en nuestra lucha y acción política, la identidad y el propósito que hoy son parte de un movimiento por justicia ambiental. Un movimiento diverso, plural, multisectorial y que gana más unidad y coherencia a medida que nos desarrollamos como individualidades, organizadas y en movimiento.

Esa longa caminada se transforma y se refleja, hoy, en símbolos muy importantes para nosotros: 

* El eterno ouroboro – de la continuidad y transformación, del abrazo y de la unidad, de la solidaridad internacionalista que une organizaciones de personas amigas de la tierra por todo el planeta en una federación global de organizaciones ambientalistas de base, aliada estratégicamente con los movimientos igualmente internacionales e internacionalistas de Vía Campesina y de la Marcha Mundial de las Mujeres;

* De la defensa de la naturaleza y de los derechos difusos de la sociedad a la lucha política en defensa de la democracia y contra el neoliberalismo, por la Justicia Ambiental, contra el Racismo Ambiental y en la construcción del Feminismo Popular para desmantelar el patriarcado, el trazo del árbol asume la forma del puño cerrado. Símbolo erguido en el posicionamiento y en la lucha contra todas las formas de opresión, marcado en la lucha antirracista, pero también por el levante de los pueblos que siempre se han rebelado contra la esclavitud, el desalojo y las violencias contra sus cuerpos, territorios y su rol en la sociedad: las mujeres, los pueblos indígenas, el pueblo negro y quilombola.

* En esta Tierra Brasil, verde de tantas sombras, diásporas, sufrimientos, golpes y disputas por la abundancia de sus aguas, bosques, culturas y cantos, queremos ver florecer generaciones y generaciones de personas amigas de la tierra que, en marcha, en alianza y con esperanza que solo la organización y la lucha social pueden generar, cambian el mundo.

En su Asamblea General Ordinaria, Amigas de la Tierra Brasil acoge su nuevo nombre y su nueva identidad, celebrando 40 años de la organización como membro de la mayor federación ambientalista de base en el mundo: Amigos de la Tierra Internacional (Friends of the Earth), integrada actualmente por organizaciones nacionales como la nuestra en 75 países, además de Brasil.

Esa organización, empuñando el logotipo de un árbol como la mayoría de las organizaciones del movimiento ambiental en los años 70, fue abrazada por el ouroboro del logotipo de la federación Friends of the Earth. Después, fuimos deconstruyendo y rehaciendo, en la lucha, nuestra identidad. En los días de hoy, los contornos de ese árbol se enraízan en la lucha solidaria e internacionalista, contra las opresiones de clase, raza y género, y se mezcla con el puño erguido, que tomamos prestado del movimiento negro, sumándonos con orgullo a las causas sociales y ambientales de nuestro tiempo.

Nuestra historia refleja, también, los avances y desafíos de la lucha de las mujeres. 40 años atrás, un grupo de mujeres necesitó convertirse en un colectivo mixto para integrar la red internacional de Amigos de la Tierra Internacional y, aunque fuera mayoría, asumió la imposición lingüística patriarcal definiéndose como AmigOs de la Tierra. Hoy, nuestra organización está compuesta por una nueva generación de personas AmigAs de la Tierra, diversas en géneros, raza, orientación sexual, edad, dones y capacidades únicas.

AmigAs de la Tierra que son y están comprometidas con la lucha internacionalista y determinadas a luchar para desmantelar las opresiones del racismo y del colonialismo, del machismo, del patriarcado, del sexismo, de la misoginia y da LGBTfobia, del capitalismo, del neoliberalismo, militarismo e imperialismo, en la lucha de clases y de la división sexual e internacional del trabajo.

Nuestras mentes y cuerpos son y están diferentes. Ciertas de que el pasado ya no nos sirve, damos, contentas, este paso nuevo e incierto, pero con la certeza de que estamos en constante cambio y transformación. Nuestra firmeza en la lucha es lo que nos guía para avanzar por un mundo más justo y solidario.

¡Que vivan las Amigas de la Tierra Brasil!

Amigas de la Tierra Brasil

Porto Alegre (RS), 21 de julio de 2023

Welcome Friends (Amigas) of the Earth Brazil

 

Popular Feminism and Environmental Justice. Fighting, dismantling patriarchy and neoliberalism.

Assuming a new identity means revisiting the past with a different perspective, and also changing the present and the future. In that endless movement, we reflect on who we have been and who we are in this moment and on how we organise ourselves to keep transforming reality. A change which brings the reflection on the possibilities for a future with environmental, social, economic and gender justice, free from all forms of exploitation and oppression. One which may build in practice the possibilities and alliances to make that future possible.

Assuming a new identity means embracing our transformations through history, in people, in our collective skins. A path that permeates our beings, our clothes, our house Casa(nat), our communities, alliances, networks and surroundings, be it in a city, countryside, forest, waters… the whole world.

We, the people who took over the legacy of a social organisation at the turn of the millennium, have cultivated and resignified the identity and purpose of our political struggle and action. That purpose is now part of a movement for environmental justice. A movement which is diverse, plural, multisectorial, and which acquires more unity and coherence as we develop our individualities organised in a movement.

That long walk is transformed and reflected today in symbols which are very important to us:

* The eternal ouroboros – of continuity and transformation, of hug and unity, of internationalist solidarity which unites organisations of people who are friends of the earth all over the planet in a global federation of community-based environmentalist organisations, strategically allied with movements which also are international and internationalist of Via Campesina and the World March of Women.

* From the defence of nature and the diffuse rights of society to the political struggle in defence of democracy and against neoliberalism, for Environmental Justice, against Environmental Racism and building a Popular Feminism to dismantle patriarchy, the drawing of the tree takes the shape of a clenched fist. A symbol used in the fights against all forms of oppression, especially in anti-racist fight, but also in the rise of the peoples who have always rebelled against slavery, eviction and violences against their bodies, territories and their role in society: women, indigenous peoples, black and quilombola people.

* In this Brazilian Land, green with so many shadows, diasporas, suffering, coups and disputes over the abundance of its waters, forests, cultures and songs, we want to see many generations of people who are friends of the Earth blooming. Marching, allied with the hope that only organisation and social struggle can generate, they change the world.

In its new Ordinary General Assembly, Friends (Amigas) of the Earth Brazil embraces its new name and new identity, celebrating 40 years of the organisation as a member of the greatest environmentalist federation in the world: Friends of the Earth International, now integrated by national organisations like ours in 75 countries besides Brazil.

That organisation, bearing the logo of a tree like most organisations in the environmental movement in the 70’s, was embraced by the ouroboros in the logo of the federation Friends of the Earth. Then we deconstructed and rebuilt our identity as the fight went on. Nowadays, the contours of that tree are rooted in the solidary and internationalist struggle against oppressions of class, race and gender; and they join the raised fist which we borrowed from the black movement, proudly taking part in the social and environmental causes of our times.

Our history also reflects the advances and challenges of women’s struggle. 40 years ago, a group of women needed to become a mixed collective to integrate the international network of Friends of the Earth International, and even being a majority, they accepted the patriarchal linguistic imposition defining themselves as Friends (AmigOs, masculine) of the Earth. Today, our organisation is composed of a new generation of people who are AmigAs (feminine) of the Earth, diverse in genders, race, sexual orientation, age, gifts and unique capacities.

Friends (AmigAs) of the Earth who are committed to the internationalist fight, and determined to fight to dismantle the oppressions of racism and colonialism, machismo, patriarchy, sexism, misogyny, LGBT phobia, capitalism, neoliberalism, militarism and imperialism, in the class struggle and the sexual and international divisions of labour.

Our minds and bodies have been and are different. Certain that the past is no longer of service to us, we happily take this new and uncertain step, sure that we are in constant change and transformation. Our strength in the struggle is what guides us towards a more just and solidary world.

Long live Amigas da Terra Brazil!

Amigas da Terra Brasil (Friends of the Earth Brazil)

Porto Alegre (RS), 21 June 2023

Assembleia da Amigas da Terra Brasil celebra 40 anos na luta internacionalista pela justiça ambiental

 

Reunião foi marcada pela aprovação da prestação de contas do último ano e pela posse do novo Conselho Gestor da organização para o triênio 2023/2026. A Assembleia ainda inaugurou a nova identidade visual da entidade, que assume um nome mais plural e representativo para o nosso tempo: assim nasce a AmigAs da Terra Brasil!

Assumir nova identidade significa revisitar o passado sob outra perspectiva, alterando também o curso do agora e do futuro. Nesse movimento que não finda, refletimos sobre quem somos, quem estamos neste instante e sobre como nos organizamos para seguir transformando a realidade. Uma mudança que traz a reflexão sobre as possibilidades de um futuro com justiça ambiental, social, econômica, de gênero e livre de todas as formas de exploração e opressão. E que, na prática, constrói as possibilidades e alianças para que este futuro seja possível”. Assim inicia o texto de apresentação da Amigas da Terra Brasil e da sua nova identidade visual, lido durante a assembleia ordinária da organização, realizada na CaSAnAT na noite de 6ª feira (21/07), em Porto Alegre (RS). O trecho sintetiza o que representa essa reunião, que deu fim a uma gestão que, em meio à pandemia mundial da COVID e os desafios impostos à própria sobrevivência humana, precisou resistir a ataques fascistas, de setores econômicos e de governos contrários aos direitos do povos a uma vida mais justa, igualitária e ao ambiente ecologicamente equilibrado. 

A assembleia da Amigas da Terra Brasil mostrou que essas lutas não foram travadas sozinhas. Estiveram presentes pessoas associadas, trabalhadoras, prestadoras de serviço, aliadas, organizadas e parceiras de longa data que, durante a pandemia, estreitaram ainda mais os laços, levando ações de ajuda e de solidariedade a territórios e comunidades que precisavam. Participaram representantes do CIMI Sul (Conselho Indigenista Missionário), que atuou, junto com a Amigas da Terra Brasil, nas retomadas do povo indígena Guarani por seus territórios; da Marcha Mundial de Mulheres e do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), com os quais, desde 2020, articulamos a Aliança Feminismo Popular (AFP), uma frente que contribuiu com cestas básicas e ajudou a organizar mulheres da periferia para buscar alternativas coletivas para combaterem as violências e sustentarem a si e a suas famílias. 

A Amigas da Terra Brasil também tem apoiado a Cozinha Solidária da Azenha, em Porto Alegre (RS), iniciativa do MTST de combate à fome nas cidades brasileiras, implementada durante a pandemia. Outra parceria importante que se fez presente foi a Comunidade Kilombola Morada da Paz (CoMPaz), de Triunfo (RS), que enfrenta uma luta bastante dura na Justiça para que seja consultada e respeitada, conforme prevê a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) no processo de licenciamento das obras de ampliação da BR 386.

Nesses últimos três anos, a Amigas da Terra Brasil também sofreu ataques diretos do Governo Bolsonaro, que tentou despejar a organização do prédio público que ocupa e transforma há quase 20 anos (cedido pelo Patrimônio da União à entidade em 2004) na capital gaúcha. Apoiamos e nos envolvemos em lutas que já travamos há anos, como a defesa da água e dos serviços públicos, ao nos colocarmos contra a privatização da empresa pública CORSAN pelo governo gaúcho, assim como contra a venda dos parques urbanos e unidades de conservação estaduais e nacionais e no combate aos projetos de megamineração via Comitê de Combate à Megamineração, articulação que compusemos com outras organizações no RS. Denunciamos, junto com comunidades camponesas assentadas da Reforma Agrária, os impactos dos agrotóxicos na produção agroecológica, na saúde humana e animal e no meio ambiente, bem como exigimos que as autoridades competentes garantam que as famílias possam produzir de forma saudável, sem serem pulverizadas com veneno pelo agronegócio. 

Entre outras parcerias nacionais e internacionais, destacaram-se as articulações que criaram a Lei Marco sobre Direitos Humanos e Empresas (PL 572/2022) e outras iniciativas visando responsabilizar as transnacionais por seus crimes e violações de direitos no Brasil e em outros países, e a Frente Brasileira Contra o Acordo Mercosul – UE (União Europeia), tratado comercial assinado pelo Governo Bolsonaro que organizações sociais brasileiras, sul americanas e europeias pressionam para que seja parado e rediscutido de forma ampla com a sociedade e as comunidades e povos afetados.

Avaliamos que nossa ação política antifascista, em defesa da democracia e contra o neoliberalismo, em Jornada Continental que une diversos movimentos populares na região, pôde também ser celebrada na virada do ano com a mudança de governo no Brasil. Assim, findamos essa gestão no esperançar por melhores tempos para os nossos povos, celebrando em Junho, em Brasília, a Assembleia Anual da ATALC (Amigos da Terra América Latina e Caribe) junto às nossas alianças para desmantelar o poder das empresas transnacionais e pela integração regional, com feminismo popular e justiça ambiental.

Seminário realizado pela ATALC, Jornada Continental e ATBr neste ano em Brasília. Crédito: Edgardo Mattioli/ Rádio Mundo Real

Assembleia aprova prestação de contas e aclama nova gestão 2023-2026

Além do relatório de atividades, a presidenta Lúcia Ortiz e a tesoureira Patrícia Gonçalves, junto ao Conselho Fiscal da entidade, apresentaram, na assembleia de 6ª feira (21/07), a prestação de contas 2022/2023, que foi aprovada pelos presentes.

O  momento foi de compor os novos Conselho Fiscal e Conselho Diretor da entidade para os próximos três anos. A nominata do Conselho Gestor foi colocada para votação, sendo aprovada por aclamação pelos presentes e pelas presentes.


Conselho Diretor da Amigas da Terra Brasil – Gestão 2023-2026 (foto acima):

Letícia Paranhos – Presidenta
Patrícia Gonçalves –
Vice – Presidenta
Lúcia Ortiz –
Tesoureira
Clarissa Abreu –
Secretária
Fernando Campos –
membro do conselho
Cláudia Ávila –
membro do conselho
Andre Guerra – membro do conselho
Cristiane Cubas –
membro suplente
Leandro Fagundes –
membro suplente

 

Amigas da Terra Brasil comemora 40 anos de membresia na federação internacional assumindo nova identidade


A assembleia ordinária deste ano celebrou os 40 anos que a Amigas da Terra Brasil integra a maior federação ambientalista de base no mundo: a Amigos da Terra Internacional (Friends of the Earth International), composta atualmente por organizações nacionais como a nossa em 75 países, para além do Brasil. Como marco deste momento, mas também refletindo as mudanças que ocorreram na entidade e na sociedade ao longo dos anos, a organização apresentou a mudança de nome, passando de Amigos da Terra Brasil para AmigAs da Terra Brasil. Também mostramos a nova identidade visual, construída nas várias instâncias da organização e efetivada pela equipe de Comunicação.

 

Neste texto, divulgamos os motivos que temos para abraçar essas mudanças: http://www.amigosdaterrabrasil.org.br/2023/07/24/nossas-boas-vindas-a-amigas-da-terra-brasil/ 

Certos de que o passado não nos serve mais, damos, contentes, este passo novo e incerto, mas com a certeza de que estamos em constante mudança e transformação. Nossa firmeza na luta é o que nos guia para avançarmos por um mundo mais justo e solidário.

 

Confira nossa galeria de fotos da Assembleia da Amigas da Terra Brasil:

Assembleia da Amigas da Terra Brasil celebra 40 anos na luta internacionalista pela justiça ambiental

Amigas da Terra Brasil

Crédito das fotos da matéria: Jonatan Brum e Divulgação/ ABTr

Nossas boas vindas à Amigas da Terra Brasil

Feminismo Popular e Justiça Ambiental. Na luta, desmantelando o patriarcado e o neoliberalismo

Assumir nova identidade significa revisitar o passado sob outra perspectiva, alterando também o curso do agora e do futuro. Nesse movimento que não finda, refletimos sobre quem somos, quem estamos neste instante e sobre como nos organizamos para seguir transformando a realidade. Uma mudança que traz a reflexão sobre as possibilidades de um futuro com justiça ambiental, social, econômica, de gênero e livre de todas as formas de exploração e opressão. E que, na prática, constrói as possibilidades e alianças para que este futuro seja possível.

Assumir uma nova identidade passa por acolher as nossas transformações na história, nas pessoas, em nossas peles coletivas. Trajetória que percorre nosso ser, nossas roupas, a nossa Casa(nat), as nossa(s) comunidade(s), alianças, redes e entorno, seja ele uma cidade, campo, florestas, águas… o mundo.

Nós, as pessoas que assumiram o legado de uma organização social na virada de um milênio, cultivamos e ressignificamos, na nossa luta e ação política, a identidade e o propósito que, hoje, faz parte de um movimento por justiça ambiental. Um movimento diverso, plural, multissetorial e que ganha mais unidade e coerência à medida em que nos desenvolvemos como individualidades, organizadas e em movimento.

Essa longa caminhada se transforma e se reflete, hoje, em símbolos muito importantes para nós: 

* O eterno oroboro – da continuidade e transformação, do abraço e da unidade, da solidariedade internacionalista que une organizações de pessoas amigas da terra por todo o planeta em uma federação global de organizações ambientalistas de base, aliada estrategicamente aos movimentos igualmente internacionais e internacionalistas da Via Campesina e da Marcha Mundial das Mulheres;

* Da defesa da natureza e dos direitos difusos da sociedade à luta política em defesa da democracia e contra o neoliberalismo, pela Justiça Ambiental, contra o Racismo Ambiental e na construção de Feminismo Popular para desmantelar o patriarcado, o traço da árvore assume a forma do punho cerrado. Símbolo erguido no posicionamento e na luta contra todas as formas de opressão, marcado na luta antirracista, mas também pelo levante dos povos que sempre se rebelaram contra a escravidão, o despejo e às violências contra seus corpos, territórios e seu papel na sociedade: as mulheres, os povos indígenas, o povo negro e quilombola.

* Nesta Terra Brasil, verde de tantas sombras, diásporas, sofrimentos, golpes e disputas pela abundância de suas águas, florestas, culturas e cantos, queremos ver florescer gerações e gerações de pessoas amigas da terra que, em marcha, em aliança e com esperança que só a organização e a luta social podem gerar, mudam o mundo.

Em sua Assembleia Geral Ordinária, a Amigas da Terra Brasil acolhe seu novo nome e sua nova identidade, celebrando 40 anos da organização como membro da maior federação ambientalista de base no mundo: a Amigos da Terra Internacional (Friends of the Earth), integrada atualmente por organizações nacionais como a nossa em 75 países, para além do Brasil.

Essa organização, empunhando o logo de uma árvore como a maioria das organizações do movimento ambiental nos anos 70, foi abraçada pelo oroboro do logo da federação Friends of the Earth. Depois, fomos desconstruindo e refazendo, na luta, a nossa identidade. Nos dias de hoje, os contornos dessa árvore se enraízam na luta solidária e internacionalista, contra as opressões de classe, raça e gêneros, e se mistura ao punho erguido, que tomamos emprestado do movimento negro, unindo-nos com orgulho às causas sociais e ambientais dos nossos tempos.

Nossa história reflete, também, os avanços e desafios da luta das mulheres. Há 40 anos, um grupo de mulheres precisou se tornar um coletivo misto para integrar a rede internacional da Amigos da Terra Internacional e, mesmo sendo maioria, assumiu a imposição linguística patriarcal definindo-se como AmigOs da Terra. Hoje, nossa organização é composta por uma nova geração de pessoas AmigAs da Terra, diversas em gêneros, raça, orientação, sexual, idade, dons e capacidades únicas. 

AmigAs da Terra que são e estão comprometidas com a luta internacionalista e determinadas a lutar para desmantelar as opressões do racismo e do colonialismo, do machismo, do patriarcado, do sexismo, da misoginia e da LGBTfobia, do capitalismo, do neoliberalismo, militarismo e imperialismo, na luta de classes e da divisão sexual e internacional do trabalho.

Nossas mentes e corpos são e estão diferentes. Certos de que o passado não nos serve mais, damos, contentes, este passo novo e incerto, mas com a certeza de que estamos em constante mudança e transformação. Nossa firmeza na luta é o que nos guia para avançarmos por um mundo mais justo e solidário.

Viva a Amigas da Terra Brasil! 

Porto Alegre (RS), 21 de Julho de 2023

Amigas da Terra Brasil

*Crédito da foto: Jonatan Brum/ ATBr

Nota de solidariedade às comunidades atingidas pela tragédia climática no RS

Diante das tragédias provocadas por eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul desde a última quinta-feira (15/06), resultantes em destruição ambiental, perda de vidas humanas, empobrecimento e precarização de territórios de luta e resistência, sobretudo nas regiões do Litoral Norte do estado e nas periferias da capital Porto Alegre e da região metropolitana, expressamos nosso pesar e solidariedade às famílias das vítimas de enchentes e de deslizamentos nos diversos municípios atingidos, como Caraá e Maquiné, nominalmente à família da professora Agnes Schmeling, do Conselho de Cultura de Maquiné, sua mãe e seu esposo, que perderam suas vidas nesse momento tão trágico e doloroso.

Demandamos ao Estado do Rio Grande do Sul que, para além das buscas emergenciais, garanta o urgente restabelecimento às condições de energia elétrica ou por meio de geradoras e, assim, a comunicação e mapeamento da situação de famílias e comunidades com crianças e idosos ainda isoladas pela destruição de estradas e infraestruturas no vale do Rio Maquiné.

Ao Governo Federal, demandamos que libere urgentemente as forças do Exército para a reconstrução e atendimento às condições de alimentação, abrigo, saúde e infraestrutura nos municípios e populações atingidas.

Chamamos a atenção ao poder público e à sociedade em geral para as injustiças ambientais da crise climática causada pelo modelo econômico hegemônico, em que as comunidades e territórios mais atingidos e devastados, apesar de não se beneficiarem nem contribuírem atual ou historicamente com o sistema intensivo em poluição, emissões de gases de efeito estufa e degradação ambiental, são aqueles mais atingidos, desproporcionalmente, por suas consequências.

Reiteramos nosso apoio e solidariedade incondicional aos territórios e retomadas que, com seus modos de vida, suas práticas e formas de organização, nas florestas, campos, nas cidades no urbano ou no rural, preservam a biodiversidade, as águas, a produção de alimentos saudáveis, os saberes ancestrais, a luta secular pelo direitos dos povos Indígenas e Quilombolas. A luta deles garante também o despertar de uma consciência e compromisso com a centralidade da sustentabilidade da vida como base de uma ação política, coletiva, solidária e cotidiana, capaz de dar respostas às urgências da fome, das catástrofes e das violências, assim como transformar a realidade e combater as injustiças e emergências climáticas dos nossos tempos.

Convocamos, por fim, todas as pessoas a se organizarem na entrega de doações de materiais e apoiarem também, dentro de suas possibilidades, com contribuição financeira, por meio dos seguintes endereços ou conta bancária:

 

 

Amigos da Terra Brasil

Nota de Solidariedade da Amigos da Terra Brasil ao Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST)

 

No dia 17 de maio de 2023, instalou-se, na Câmara dos Deputados no Brasil, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sem objetivo determinado para perseguir e criminalizar o MST. A proposta vem de Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente do Governo Bolsonaro, hoje deputado, que conjuntamente com o Tenente Coronel Zucco, estão conduzindo os trabalhos da CPI. Ricardo Salles, que usou a expressão “passar a boiada” enquanto o Brasil vivia, lutava, resistia e morria com a pandemia, responde por investigações pelo suporte à extração ilegal de madeira na Amazônia brasileira, favorecimento ao desmatamento e à grilagem de terras, opondo-se historicamente às lutas travadas pelo MST em prol da Reforma Agrária e da produção de alimentos saudáveis no país.

O único propósito da CPI é criminalizar a luta histórica do MST. Um dos maiores movimentos sociais do mundo, que há 40 anos luta contra as desigualdades sociais no Brasil, especialmente no campo. Ao longo de sua história, o MST esteve à frente das denúncias contra o avanço ilegal dos latifúndios sobre terras públicas, o uso indiscriminado de agrotóxicos e os danos ambientais provocados pelo modelo do agronegócio, e ao trabalho escravo. Ações como esta, da CPI, relembrando a brutalidade da violência que se instala contra camponeses e camponesas, cujo 14 de abril, Massacre de Eldorado dos Carajás, é uma data para recordar.

Os acampamentos e assentamentos do MST são responsáveis pela produção dos alimentos saudáveis que chegam a casas de centenas de brasileiros e brasileiras. Recordamos que são nesses territórios que se realiza a maior produção de arroz orgânico da América Latina. Durante a pandemia, o MST distribuiu inúmeras “marmitas da terra” em solidariedade às famílias da cidade que passavam fome, no total foram mais de 7 mil toneladas de alimentos da reforma agrária doados. A luta do movimento é pela efetivação do direito à Reforma Agrária, ao cumprimento da função social da propriedade e à preservação do meio ambiente.

Entendemos que os crimes que deveriam ser investigados pelo Congresso Brasileiro envolvem os escândalos de trabalho escravo, a atuação predatória de empresas transnacionais nos casos de desastres de mineração, a violência no campo, a criminalização de defensores e defensoras de direitos humanos, a grilagem de terras, o desmatamento ilegal, não a um movimento social e à luta popular. 

Estamos unidos ao MST cuja única ação ao longo dos 40 anos é lutar pelos seus direitos e por condições de vida digna ao povo brasileiro. Não nos calaremos em mais uma tentativa de criminalização ao movimento. Denunciamos a má-fé dos envolvidos na proposição da CPI. 

 

Vida longa às lutas do MST ! Viva o MST!

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