Caminhando e cantando, pois a fé não costuma falhar

Caminhos do ato “Fora Bolsonaro” do dia 19 de junho

O dia 19 de junho de 2021 foi mais um dia de luta. Mais uma batalha na guerra pela sobrevivência do povo brasileiro que só quer paz e justiça, mesmo afogado pelas mazelas do  governo Jair Bolsonaro.  O ato foi um sinal de resistência, um grito de coragem dos cidadãos que lotaram as ruas de cidades dos 26 estados do Brasil e mais o DF, incluindo as capitais e pelo menos outras 118 cidades país afora. 

Brasileiro é aquele que não desiste nunca, aquele que samba na Sapucaí das dificuldades e luta um dia de cada vez, sempre com esperança nas lágrimas que escorrem de seu rosto, sangrando pelas perdas diárias e injustiças sofridas. E foi essa garra que colocou 750 mil pessoas nas ruas gritando “Fora Bolsonaro” e que clamavam por mais vacinas, pelo auxílio emergencial de 600 reais, pela erradicação da fome e da pobreza, pela melhora nas condições da saúde e da educação públicas, pela proteção aos direitos dos indígenas e do meio-ambiente. “A marcha foi forte, os discursos também. Em termos nacionais, se ficou com a sensação de que foi bem maior que o último e parece que vai continuar sendo”. Essas palavras do jornalista Mauro Ramos definem o sentimento perpassado pelas veias dos manifestantes que encheram as ruas brasileiras de fé, luta e esperança, apesar da marca de 500 mil mortes por Coronavírus ter sido atingida no próprio dia 19. As vidas ceifadas pela injustiça e pelo desgoverno motivaram os manifestantes de Santa Maria, Rio Grande do Sul: “ficou nítido para toda a população que ouviu ou viu o ato passar que queremos um outro governo que tenha políticas de vida e não de morte, políticas que coloquem comida no prato da população e não que coloquem nosso país de volta ao mapa da fome da ONU”, como declarou a estudante de Geografia da UFSM(Universidade Federal de Santa Maria), Jheiny de Souza. 

Em Porto Alegre, RS, “mesmo com a chuva, mesmo com a umidade e o clima frio, várias pessoas se mobilizaram para aparecer no ato, tanto sozinhas como com seus coletivos, grupos e partidos. Pra mim, isso evidencia escancaradamente cada vez mais esse caráter plural dessa frente Fora Bolsonaro. Uma frente que não é mais por um partido ou por um grupo, mas por um projeto de país que não quer mais que esse projeto neoliberal e de necropolítica avance”, disse o biólogo Heitor Jardim, membro ativo da Amigos da Terra Brasil e brasileiro que como tantos outros, só quer um Brasil melhor e de todos. Na cidade, o dia ainda contou com uma cerimônia de acendimento de velas no largo Zumbi dos Palmares em homenagem aos 500 mil mortos pela COVID-19, demonstração de que os que permanecem em pé compreendem e peleiam pela valorização das almas perdidas pela ignorância de um desgoverno. Em Brasília, no DF, segundo o jornalista Mauro Ramos, o ato contou com guerreiros das mais diversas causas. Entre eles, membros dos movimentos do campo, feministas, LGBTQIA+, e uma presença forte dos movimentos indígenas. Estes últimos estiveram em peso principalmente devido ao acampamento Levante pela Terra, cuja motivação é exigir a anulação do Marco Temporal pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e impedir  projetos de lei que pretendem destruir o processo de demarcação de terras indígenas no Brasil, como o PL 490/2007l. “Cada organização, cada sindicato, cada coletivo, tinha os seus motivos específicos pra estar na rua pedindo o fim deste governo”.  

Os atos 19J somaram força ao Levante pela Terra em Brasília. Foto: Mauro Ramos/Amigos da Terra Brasil

Em cada cidade, o sentimento se estabeleceu de forma forte e inspiradora. Cada pessoa, independente de gênero, idade, cor, sexualidade ou ideologia, deixou seu caminhar ser invadido pelos batimentos de seus corações, seja lá qual fosse aquilo que o cérebro manifestava. “É uma mística tu ver e sentir as pessoas numa mesma vibração que tu e querendo derrubar o governo e tudo o que ele significa, pra construir uma outra coisa, pra conseguir de fato alavancar o projeto popular pelo Fora Bolsonaro e pela vida das pessoas”, destacou a estudante de Odontologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Isabelle Rieger, que marchou no dia 19 pelas ruas de Porto Alegre. Já em Santa Maria, Jheiny de Souza não poderia deixar de transbordar: “O sentimento de estar na luta e tentar mudar a realidade que estamos vivendo foi renovado depois de participar do ato. Cada espaço construído, cada passo dado, é um pequeno avanço frente aos retrocessos e a conjuntura triste que estamos vivendo”. 

Quanto ao manifestar-se em meio à pandemia, Heitor clareou os caminhos: “Foi um ato revigorante e enche  a gente de esperança de ver que apesar do contexto que a gente tá, que a gente sabe que existem perigos e riscos, a gente tá se mobilizando da maneira mais segura possível pra reivindicar e lutar contra esse governo”. Junto a ele, mesmo no centro do país, Mauro declarou um sentimento essencial: “O fato de as organizações, os sindicatos e os movimentos levarem álcool em gel e máscaras extras pra dar pras pessoas que não tem, acho que essa dimensão do cuidado, da preocupação com a pandemia é importante. É uma característica bem importante do que tão sendo essas mobilizações contra o Bolsonaro.” A tensão, contudo, não poderia passar em branco, apesar de ter sido manifestada uma certa tranquilidade nos atos. Segundo Jheiny, em Santa Maria, houve um evento estarrecedor. “Enquanto o ato caminhava, tiveram tensionamentos partindo das pessoas que estavam nas paradas de ônibus. Reclamavam da demora dos ônibus e culpavam o ato. Uma das militantes do movimento negro revidou a agressão com a seguinte frase:  “O teu ônibus vai chegar depois que a gente passar, mas meu marido não vai voltar depois que teu ônibus ou o governo do Bolsonaro passar. Por causa do Bolsonaro meus filhos vão crescer sem pai. A demora do teu ônibus não é nada comparado a perda da minha família.” Esse relato foi o suficiente para que todos da parada de ônibus parassem de tensionar com as pessoas do ato.” É  inquestionável a densidade e a dimensão do momento pelo qual o Brasil está passando.  A atualidade é triste, mas a esperança e a força do brasileiro é como a imensidão de um deserto: incontável, como grãos de areia que se bem cuidados, transformam-se em diamantes.

Milhares foram as ruas em mais de 400 cidades pelo país. Foto: Isabelle Rieger/ Amigos da Terra Brasil

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